28/03/2024 - Edição 540

Legislativo

No bolsonarismo vale tudo por um voto, até mesmo ameaçar a oposição

Publicado em 18/05/2022 12:00 -

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O deputado estadual João Henrique Catan (PL) disparou tiros de arma de fogo ao declarar seu voto em uma sessão virtual da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, no último dia 17. Catan, que participava da votação de forma remota, mirou em um alvo e disparou pelo menos três tiros.

O parlamentar declarava a sua posição em relação ao Projeto de Lei 417/2021, do qual é autor, que reconhece a atividade de atirador desportivo como “de risco”.  “A aprovação desse projeto visa armar o cidadão de bem. O armamento acaba com as invasões ilegais, diminui a criminalidade, prevalecendo o nosso direito de propriedade”, afirmou, ao iniciar seu discurso.

Na sequência, repetiu uma frase usual do presidente Jair Bolsonaro (PL) e fez uma “advertência ao comunismo”. “Um povo armado jamais será escravizado. Esse projeto é um tiro de advertência no comunismo e na mão leve que assaltou este País. Por isso, uma salva de tiro, uma salva de sim”, afirmou.

João Henrique esquece que ser comunista não é crime no Brasil, mas ameaça, sim. A fanfarronice foi transmitida pela TV Assembleia, e quando a câmera volta a mostrar os outros participantes da Casa, é possível ver alguns parlamentares rindo, enquanto outros reprovam o comportamento de João Henrique.

Após os disparos, o presidente da Assembleia, Paulo Corrêa (PSDB), disse que a ação não era permitida e que “houve um exagero”, mas prosseguiu com a sessão. O texto foi aprovado.

“A Constituição Federal estabelece a competência para legislar sobre o desporto, que eu, em sessão remota, estava demonstrando, como muitos parlamentares já fizeram em outros segmentos que participam. Tenho porte de armas e, hoje com 34 anos, nunca me levou a agredir uma pessoa, seja homem ou mulher”, disse João Henrique.

REAÇÕES REPUBLICANAS

O deputado Paulo Duarte (PSB) destacou que a atitude incita a violência. “Qual é a lógica de fazer isso? Meu repúdio a esse tipo de voto”, afirmou.

Os deputados Amarildo Cruz e Pedro Kemp, ambos do PT, lamentaram a conduta do colega. Eles pediram à Mesa Diretora da ALEMS a verificação de quebra de decoro parlamentar.

“Entendo que no limite da democracia, do bom senso e da natureza da nossa função, é fundamental preservarmos o debate e o direito ao contraditório. A posição do deputado João Henrique, ao manifestar seu voto descarregando uma arma no alvo, dizendo que era para advertir o comunismo, nos causa indignação. Tudo a favor do debate, nada a favor da violência. Essa postura é lamentável, condenável”, afirmou Amarildo.

Kemp pediu que a Corregedoria da Casa de Leis, com base no artigo 367 do Regimento Interno, averigue o comportamento do colega. “Não podemos banalizar o Parlamento, foi quebrada a liturgia do nosso cargo e desrespeitada a população”, destacou. João Henrique fez uso da palavra para agradecer os votos para aprovação do projeto e reiterou que tem porte de armas.


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