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Ucrânia: ONU fala em crimes de guerra, assassinatos por russos e “inferno”

Publicado em 25/03/2022 12:00 -

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A ONU (Organização das Nações Unidas) alerta para atos que poderiam constituir crimes de guerra na Ucrânia, ataques indiscriminados contra a população civil, a existência de valas comuns e o desaparecimento de ativistas e jornalistas.

A declaração foi emitida nesta sexta-feira (25) pelo Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, indicando que alguns dos princípios do direito humanitário internacional estão sendo diariamente violados e que a população vive um "inferno".

De acordo com a entidade, 13 milhões de pessoas estão presas em regiões que estão sendo alvos de ataques, incapazes de sair diante da violência e por conta de estradas com minas terrestres.

Segundo Matilda Bogner, chefe da missão de monitoramento da ONU na Ucrânia, a extensão de mortes de civis e de ataques contra infraestrutura geram preocupações e sugere que houve violações de direito humanitário.

"O número de mortos e o sofrimento humano nas cidades, vilas e vilarejos em toda a Ucrânia estão aumentando", disse a representante, em uma entrevista coletiva de imprensa nesta sexta-feira em Genebra. Segundo ela, imagens de satélites chegam a revelar a existência de valas comuns com até 200 corpos.

"Os fatos falam por si mesmos: desde que as forças armadas russas lançaram seus ataques em 24 de fevereiro, pelo menos 1.035 civis foram mortos e pelo menos 1.650 feridos. Digo "pelo menos" porque ainda não temos o quadro completo dos locais que têm visto combates intensos, em particular Mariupol e Volnovakha", disse Matilda.

Segundo ela, as forças militares têm usado armas explosivas com efeitos de área ampla em áreas povoadas, incluindo mísseis, projéteis de artilharia pesada e foguetes, assim como ataques aéreos.

Casas particulares, edifícios residenciais de vários andares, edifícios administrativos, instalações médicas e educacionais, estações de água, sistemas elétricos foram destruídos em grande escala.

Violações e crimes de guerra

"A extensão das vítimas civis e a destruição de objetos civis sugere fortemente que os princípios de distinção, de proporcionalidade, a regra sobre precauções viáveis e a proibição de ataques indiscriminados foram violados", afirmou.

Dois exemplos foram usados para apontar essa realidade. Em 3 de março, 47 civis foram mortos quando duas escolas e vários blocos de apartamentos em Chernihiv foram destruídos. Segundo a ONU, "todas as indicações são de que estes foram o resultado de ataques aéreos russos".

"Em 9 de março, o Hospital Mariupol Nº 3 foi destruído e muito provavelmente isto também foi o resultado de um ataque aéreo russo. Dezessete civis, entre eles crianças e mulheres grávidas, foram feridos. Uma mulher ferida foi ajudada a dar à luz por cesariana logo após o ataque, mas nem ela nem seu bebê sobreviveram. Os médicos os operaram à luz de velas", alertou.

Segundo ela, a ONU também está investigando alegações de bombardeio indiscriminado pelas forças armadas ucranianas em Donetsk e em outros territórios controlados pelas autoproclamadas "repúblicas".

"Estes ataques causam um sofrimento humano incomensurável e podem ser crimes de guerra, e eles devem parar", pediu a representante.

Assassinatos de ativistas e jornalistas

A ONU também indica que recebeu alegações de que as forças russas atiraram e mataram civis em carros durante as evacuações, sem tomar precauções viáveis ou dar um aviso prévio efetivo.

"Também estamos acompanhando outras alegações de que as forças russas mataram civis, inclusive durante reuniões pacíficas. Também recebemos duas alegações de assassinato em território controlado pelo governo de civis devido a sua suposta afiliação com as forças russas ou apoio de opiniões pró-russas", disse.

No total, a ONU documentou 22 casos de detenção arbitrária e desaparecimento forçado de oficiais locais em regiões sob o controle das forças russas, 13 dos quais foram posteriormente libertados.

"Também documentamos a detenção arbitrária e o desaparecimento forçado de 15 jornalistas e ativistas da sociedade civil que se opuseram vocalmente à invasão nas regiões de Kyiv, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia", disse.

Atualmente a ONU tenta verificar relatos de que cinco dos jornalistas e três dos ativistas foram posteriormente libertados. O paradeiro dos outros indivíduos permanece desconhecido.

"À medida que as hostilidades se intensificam, jornalistas e trabalhadores da mídia estão enfrentando perigos crescentes em seu trabalho. Até agora, 7 jornalistas e trabalhadores da mídia foram mortos na Ucrânia desde 24 de fevereiro, e 12 sofreram ataques armados, sendo que seis deles ficaram feridos. Pelo menos um jornalista está desaparecido, sua última localização conhecida foi em uma área de hostilidades ativas", disse Matilda.

Prisioneiros

A ONU ainda indicou que está preocupada com os vídeos que retratam prisioneiros de guerra sendo interrogados após sua captura pelas forças ucranianas e russas. "Os prisioneiros de guerra devem ser tratados humanamente, não submetidos a atos de violência e protegidos contra insultos e curiosidade pública", afirmou.

"Desde a invasão pela Federação Russa, pessoas que se acredita serem ladrões, contrabandistas, apoiadores pró-russos ou violadores do toque de recolher foram espancados em território controlado pelo governo da Ucrânia. Recebemos alegações confiáveis de mais de 40 desses casos de maus-tratos por policiais, membros voluntários das forças de defesa e outros", indicou.


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