19/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Sobre civilização e barbárie

Publicado em 10/03/2022 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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O Brasil ainda está na idade da pedra da ideologia. Aqui (ou aí) a questão é entre civilização ou barbárie. Esquerda e direita se inserem como querem nos dois polos – e a maioria opta pela barbárie. O Bolsonarismo tem posição clara, é um culto de morte, já a esquerda (ou setores, amplos setores) defende a barbárie com consciência social (sic) e gênero neutro.

Como escreveu um amigo:

"Essa crise da Ucrânia e a defesa apaixonada que a esquerda brasileira está fazendo do autocrata Putin só comprova algo que eu sempre disse: se aparecesse um Bolsonaro defendendo tortura, aniquilação dos inimigos, defendendo as ditaduras ‘corretas’ (Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, URSS de Lenin e Stalin) mas que defendesse pena de morte para quem fosse contra o genere neutre, para aqueles que trocam os pronomes de pessoas trans, ao tiozinho que assobia para mulher na rua e a chama de ‘gostosa’ e que tivesse o discurso de criminalizar os liberais e conservadores, a esquerda já estaria animadíssima apoiando este indivíduo.”

A nossa esquerda é, em suma, composta em grande parte de bolsonaristas que defendem o genere neutre. O que me faz ver outro ponto importante: a discussão esquerda x direita no Brasil é inócua, o que tem que ser discutida em profundidade é a nossa cultura política de forma geral, para compreender a raiz da permanência em termos de longa duração do pensamento autoritário brasileiro, compartilhado por todos os espectros políticos.

Mas infelizmente quase ninguém tem vontade de fazer uma pesquisa dessas na atualidade pq a nossa ciência política tem se tornado cada vez mais uma platitude de discursos pré-fabricados que visa agradar algum grupo ideológico. Estamos em um momento pouco propício para opiniões que não agradem ideologias, e com espaço cada vez mais reduzido para o debate livre."

QUEM MANDOU KIEV USAR MINISSAIA?

A culpa não é de quem bombardeia, entendeu galera? Quando os EUA invadiram o Iraque a culpa era dos iraquianos e suas armas de destruição em massa (que não existiam, mas e daí?).

VAI PM! GLOBAL

Os petistas investindo pesado no VAI PM em nível global.

Mortos? Massacres? Milhões de refugiados? Dane-se, negócio é o "comunismo mundial" com China e Rússia. Sim, porque 2022 e esses infelizes ainda acham que a Rússia é a URSS, Putin é o novo Stálin (só na violência e autocracia) e que a China não é capitalista até a medula (vai ver que o comunismo por lá é o controle social, a censura, etc).

Não é possível uma coisa dessas. E essa figura é grande dentro do partido, editor de sites de fake news do partido… Sigam achando que tá tudo lindo, que são só algumas pessoas isoladas, que não representa o PT…

Representa. Na verdade define. Essa galera está disposta a não só deixar, mas incitar a morte de milhares de pessoas, chacinas e massacres porque se encaixa na ideologia doentia deles.

HOAX

Tem se espalhado cada vez mais o hoax de que a Ucrânia teria laboratórios de armas biológicas financiadas pelos EUA….

O Brasil tem centros de pesquisa que lidam com material biológico. A Ucrânia não vive na idade da pedra, é lógico que os caras tem laboratórios – a Rússia tem! Daí a acusar de quererem fazer guerra biológica é ouvir vozes em russo e não entender nada.

Olha, super inteligente os EUA que tem laboratórios avançados (ou qualquer outro país europeu) ir lá na Ucrânia fazer armas pra ameaçar os russos. Na fronteira. Pra serem rapidamente capturados. Sím, faz todo sentido!

Porque, afinal, a gente sabe que pra rolar uma guerra biológica na Rússia a Ucrânia tem que produzir a bagaça, ali na vizinhança, porque o material não pode viajar. Tem medo de avião, enjoa e tal.

A China, que não é boba, resolveu entrar na brincadeira e foi exigir que os EUA se expliquem. E os comunisteens, Lulaminions e Vladminions de todos os tipos ficam excitados repetindo como papagaios que o Iraque tem armas de desturição em massa, opa, quer dizer, não, era é outra história (ou a mesma, não faz diferença).

Aí quando você pede fontes, logo surgem o govenro chines e russo (RT, Sputnik ou qualquer outro lixo nível Brasil 171 internacional). E os caras brigam, exigem que provemos que os documentos são falsos (porque eles são fluentes em ucraniano, lêem em cirílico e estudaram atentamente a coisa toda).

Seria patético não fosse lamentável e francamente desesperador esse terraplanismo ideológico. Aparentemente a esquerda brasileira foi inoculada com o vírus da burrice – e não é culpa dos laboratórios ucranianos.

AIN… A OTAN

Vladminion: Ain, OTAN malvada, coloca a Russia em perigo!

Realidade: Putin deu todos os argumentos necessários pra quem defende a OTAN, provando que realmente a Europa precisa se proteger da Rússia.

Jênio.

Enquanto isso a brutalidade policial russa se faz presente nos interrogatórios dos heróis – sim, HERÓIS – que seguem protestando na Rússia contra a guerra e o massacre de civis.

Pessoas normais: Que horror!

Vladminions (Lulaminions+Bolsominions): VIVA PUTIN!

E tem até quem defenda que a China se assanhe também e vá cometer massacres em Taiwan.

NAÇÃO E ETNIA

Nação e etnia nem sempre caminham juntos. Putin fala que quer unir a nação russa (tomando partes da Ucrânia onde há maioria russa), mas vemos em Kharkiv, por exemplo, que mesmo sendo etnicamente russa, a população se identifica como parte da nação ucraniana.

A nação, dizia Ernst Renan, é "um plebiscito diário", dessa forma ela é uma construção com base em práticas diárias (que tem paralelos com o "nacionalismo banal" de Billig). Nação (nationhood) é um processo constante de construção, propaganda, alianças e de (auto)pertencimento.

Nações são imaginadas, dizia Benedict Anderson. São resultado de uma "vontade" daqueles que enxergam no outro como parte de um mesmo grupo, que falam a(s) mesma(s) lingua(s) e compartilham de um mesmo propósito, compartilhando história e destino.

A nação é, enfim, a soma das vontades daqueles que se enxergam, se imaginam como parte de um mesmo povo. Que olham para o outro e sentem afinidade, que lêem um jornal noticiando algo da outra ponta do país, de longe, mas que enxergam o acontecimento como relevante para sua própria realidade, moldando sua identidade.

Nação é também resultado de propaganda, de atos conscientes e inconscientes, de sentimento, de pertencimento.

A nação muitas vezes tem por base uma etnia, mas em geral ela abarca algo muito mais amplo. A própria Rússia conta com dezenas de diferentes etnias (muitas que estão confortáveis, outras que desejam separar-se), a ideia de "povo russo" é muito mais ampla do que apenas a etnia russa.

Na Ucrânia convivem Ucranianos étnicos e Russos étnicos (além de outras minorias) e não cabe à Rússia definir qual a nação dos ucranianos.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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