25/04/2024 - Edição 540

Brasil

ONU: Chuva como a de Petrópolis será frequente e cidades devem se preparar

Publicado em 18/02/2022 12:00 -

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Num alerta para que autoridades invistam na preparação de cidades para lidar com enchentes, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) insiste que desastres como o de Petrópolis (RJ) não são resultados apenas de chuvas. Mas também de questões de infraestrutura e de planejamento urbano.

Nesta sexta-feira, a OMM considerou a situação de Petrópolis como "horrível". Mas deixou claro que a intensidade das chuvas vai continuar a aumentar diante das mudanças climáticas.

"Temos de nos preparar para o fato de que teremos mais chuvas intensas no futuro", disse Clair Nullis, porta-voz da agência ligada à ONU. Segundo ela, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas está se reunindo para avaliar o impacto do aquecimento global e a questão das chuvas entrará na agenda.

"Mas certamente sabemos que, no futuro, teremos chuvas mais fortes", insistiu a porta-voz. "Uma atmosfera mais quente representa mais umidade e, quando chove, será mais forte", explicou.

Segundo ela, a agência da ONU tem apontado para a necessidade de que autoridades estabeleçam sistemas de alertas contra enchentes. "Constantemente dizemos que precisam investir em um sistema de alerta e traduzir esses alertas em ações", disse a porta-voz.

"Enchente não é só causada pela chuva. Mas por infraestrutura, pelo planejamento urbano. São vários fatores que precisam ser vistos como uma ação integrada", alertou.

Um dos fatores que têm influenciado a região do Cone Sul é o fenômeno do La Niña. Segundo Clair Nullis, se isso gerou secas no Paraguai e Argentina, em partes do Brasil ele se traduziu em enchentes.

Usando dados nacionais brasileiros, a agência destacou como houve um recorde de volume de chuva em 24 horas em Petrópolis e afirmou ter sido "impactante" ver as imagens da força das águas descendo os morros.

Enchentes são tragédias estatais, não naturais

O enredo é sempre o mesmo. As enchentes começam antes do Natal e invadem o Ano Novo. O que muda é a quantidade de água, cada vez maior. Na atual temporada, o drama foi mais intenso no Sul da Bahia, em Minas Gerais e na região metropolitana de São Paulo. Tornou-se especialmente chocante na cidade fluminense de Petrópolis. Os mortos ainda estão sendo contados. Mas a calamidade trouxe à memória o pesadelo de 11 anos atrás.

Já deveria estar entendido que as mudanças climáticas tornam as chuvas mais severas e letais. O aquecimento é global. Mas a mortandade é local. E o esforço para atenuar os efeitos da catástrofe deveria ser nacional. Para ser levada a sério, a política de prevenção teria de reunir União, estados e municípios num esforço suprapartidário e permanente. Algo que sobrevivesse às trocas de gestão, ultrapassando os mandatos. Um projeto de Estado, não de governos.

Autoridades federais, estaduais e municipais revelam-se incapazes de resolver o problema. Mas são geniais na organização da encenação do ritual que marca a lamentação depois do fato. Recorrem ao sobrevoo de helicóptero para proteger os sapatos da lama. No seco, brindam os contribuintes com a alegação de que as enchentes decorrem do excesso de chuvas.

Anunciam a liberação de verbas emergenciais insuficientes para lidar com a emergência. Falam bem de si mesmos e mal dos outros, inclusive das vítimas —pessoas desavisadas que vão morar em áreas de risco por imprevidência e por "falta de visão de futuro". Quem observa esse espetáculo, tão recorrente quanto enfadonho, percebe que as enchentes são tragédias estatais, não são fenômenos naturais.


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