26/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Pesquisa desmascara explicação sexista para ‘brilhantismo masculino’

Publicado em 08/02/2022 12:00 -

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“A ideia de que a biologia determina uma maior diversidade de comportamento entre machos do que fêmeas é freqüentemente usada para explicar por que mais homens do que mulheres são considerados gênios ou passam a se tornar CEOs", explica Lauren Harrison, PhD da Australian National University Research School of Biologia e uma das autoras de uma pesquisa publicada na Biological Reviews, comprovando justamente o contrário.

A equipe da ANU revisou mais de 10.000 estudos biológicos e analisou traços comportamentais de machos e fêmeas em mais de 200 espécies de animais – de insetos a golfinhos. A conclusão foi que machos e fêmeas têm níveis semelhantes de "variabilidade" comportamental, o que é contrário às crenças dos biólogos que há muito supõem que os animais machos são mais variáveis ​​do que as fêmeas.

"Com base em nossos dados, se presumirmos que os humanos são como os outros animais, há chances iguais de ter um número semelhante de mulheres com altas realizações do que há homens com altas realizações neste mundo.”, explica a pesquisadora. "Com base nessa lógica, também há uma grande chance de haver um número semelhante de homens e mulheres com baixo desempenho.", completa.

Para conduzir sua pesquisa, os cientistas da ANU analisaram cinco tipos de traços comportamentais usados ​​para medir a personalidade em animais: ousadia, agressividade, exploração, sociabilidade e atividade.

A importância de uma maior variabilidade masculina para a evolução é um argumento que remonta a Charles Darwin. Em comunicado para a imprensa, Harrison explica que Darwin sugeriu que as espécies masculinas muitas vezes se parecem ou se comportam de maneira mais diversa umas das outras, quando comparadas com as fêmeas da mesma espécie. Característica que se deve à seleção específica do sexo.

Assim, a pesquisa da ANU também desafia a compreensão mais ampla dos biólogos sobre a evolução, sugerindo que a escolha de uma fêmea pelo macho mais atraente, por exemplo, um cervo com os chifres maiores, não leva, como muitas vezes se afirma, a uma maior variação entre os machos do que entre as fêmeas – pelo menos para suas personalidades.

"Se os homens forem mais variáveis ​​do que as mulheres, isso significaria que há mais homens do que mulheres com QIs muito baixos ou muito altos. Mas nossa pesquisa em mais de 200 espécies de animais mostra que a variação no comportamento de machos e fêmeas é muito semelhante. Portanto, não há razão para invocar esse argumento baseado na biologia para explicar por que mais homens do que mulheres são ganhadores do Nobel, por exemplo, que associamos com alto QI.", explica o co-autor da pesquisa, Professor Michael Jennions.

Harrison pondera que, se os humanos não seguirem a tendência de variabilidade semelhante em cada sexo, como observada nos animais, e os homens forem de fato mais variáveis ​​do que as mulheres, isso provavelmente é causado por fatores exclusivamente humanos, e não pela biologia.

"Em vez de usar a biologia para explicar por que há mais CEOs ou professores do sexo masculino, temos que perguntar que papel a cultura e a educação desempenham em empurrar homens e mulheres por caminhos diferentes", conclui a pesquisadora.


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