19/04/2024 - Edição 540

Poder

Desempenho de Moro em pesquisas ameaça causar debandada no Podemos

Publicado em 26/01/2022 12:00 -

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O baixo rendimento do pré-candidato à Presidência Sergio Moro nas pesquisas eleitorais tem preocupado seu partido, o Podemos, que tenta evitar uma debandada de seus filiados. Nas últimas pesquisas divulgadas, do PoderData e do Ipespe, por exemplo, Moro aparece com apenas 8% e 9% das intenções de voto, respectivamente.

Políticos que estudam deixar o Podemos e que conversaram com a reportagem do UOL sob a condição de anonimato atribuem o mau desempenho a uma estratégia de marketing "falha".

Muito destaque na mídia

Segundo esses discordantes, a campanha do ex-ministro o colocou em destaque na mídia durante meses, o que acabou "enfraquecendo o discurso" do pré-candidato. Além disso, avaliam que os marqueteiros poderiam ter usado os políticos mais próximos de Moro, principalmente para mostrar uma maior "unidade partidária".

Eles ressaltam que, durante as poucas viagens que Moro já fez na pré-campanha, o ex-juiz não aproveitou os bons oradores do partido, como o general Santos Cruz, em eventos, entrevistas e programas, em especial de rádio, que participou.

Segundo os políticos, que não quiseram ter os nomes publicados, esse isolamento de Moro fez com que ele fosse considerado o único culpado pelo mau desempenho nas pesquisa, o que consequentemente pode levar à debandada no partido.

Promessas descumpridas

A sigla também prevê que políticos de outras agremiações que haviam se comprometido a mudar para o Podemos na esteira de Moro descumpram a promessa.

Durante o ato de filiação do ex-ministro Santos Cruz, em novembro de 2021, a presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu (SP), afirmou ao UOL que o Podemos mantinha conversas com integrantes de outros partidos, em especial, insatisfeitos do PSDB, do PL e do União Brasil.

O mau desempenho do pré-candidato nas pesquisas fez com que parte dos dissidentes de outros partidos não mais optasse pela sigla do ex-juiz. Dessa forma, esses políticos, principalmente em âmbito estadual, começaram a ser abordados por outras legendas tradicionais.

Lista tucana

De olho no atrito interno do Podemos, os tucanos produziram uma lista de políticos que pretende tirar da sigla adversária para concorrer nas próximas eleições pelo PSDB.

O UOL descobriu que o partido indicou 26 nomes de filiados ao Podemos para investir. No compilado, há, ao menos, um senador, três deputados federais e lideranças estaduais.

As negociações com políticos mais tradicionais em âmbito estadual, porém, vêm sendo conduzidas por representantes do governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato à presidência.

Doria negociador

No último dia 20, o grupo ligado ao governador divulgou a filiação do ex-presidente do Podemos do Paraná César Silvestri Filho ao PSDB.

No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, Doria comemorou a adesão de Silvestri, que deverá sair como candidato ao governo do Paraná.

"O PSDB está muito orgulhoso de ter agora em suas fileiras este jovem político. Quero não só cumprimentar o César, mas dizer a ele que essa casa tucana o recebe de braços abertos", afirmou Doria no dia.

A mudança do político paranaense causou um mal-estar entre as principais lideranças do Podemos. Nomes fortes da legenda, como o senador Álvaro Dias e o próprio pré-candidato Sergio Moro tentaram impedir a saída de Silvestri, segundo fontes ligadas à cúpula partidária. Mas ele já estava decidido a ir para o PSDB.

Articuladores tucanos entendem que a adesão fortalece o palanque de Doria no Paraná, já que o estado é "símbolo da operação Lava Jato", ressaltou um dos aliados do governador de São Paulo.

Além de Silvestri, que deverá levar um número considerável de políticos regionais ao ninho tucano, integrantes da campanha do PSDB tentam convencer filiados do Podemos em São Paulo a deixarem a legenda de Moro.

O Republicanos age na mesma linha, mas mira nas lideranças religiosas do Podemos. Algumas fontes na legenda confirmaram que o deputado federal Roberto de Lucena (SP), considerado o "príncipe" dos evangélicos na Câmara, já negocia sua mudança.

O UOL questionou a assessoria de imprensa do Podemos a respeito da possível debandada, mas não obteve retorno. A comunicação do PSDB também foi questionada sobre o interesse dos tucanos em integrantes da outra sigla, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. Se os partidos responderem, o texto será atualizado.

Possível migração para o União Brasil

Observando a situação de Moro nas pesquisas, o União Brasil (sigla formada pela junção do DEM e do PSL) demonstrou interesse no ex-juiz. Ao jornal O Globo, a presidente do Podemos confirmou que recebeu essa proposta.

"Parlamentares do União Brasil pediram para avaliarmos esta possibilidade de o Moro migrar para o partido, mas não temos nada concreto", disse Renata Abreu. Segundo o jornal, alguns políticos do União Brasil pensam em ceder à deputada a cadeira de vice na chapa presidencial do partido se ela colaborar para a mudança de sigla.

"Se todo mundo chegar à conclusão de que é o melhor caminho Moro ir para o União Brasil, será bom para todos os lados. É algo para somar, em comum acordo. É um projeto único", comentou Renata.

Em entrevista ao UOL News, o vice-presidente nacional do PSL, deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP), afirmou que Moro pode se fortalecer no União Brasil.

"Para mim, o Brasil pode ser um imã importante para o polo democrático. Uma vez o Moro estando aqui ele pode se fortalecer ainda mais e conseguindo atrair até outros presidenciáveis ou outros tantos atores do polo democrático", avaliou.

Bozzela acrescentou que Moro já havia sido convidado para o União Brasil antes mesmo da filiação ao Podemos. "Mas já tinha um caminho pavimentado para o Podemos, que é legítimo."

A transparência cobrada por Moro vale para os outros, para ele não

Seguramente, “corrupção” foi a palavra que mais saiu da boca do ex-juiz Sergio Moro na época em que ele comandava a Operação Lava Jato. Depois dela, “transparência” é uma boa aposta.

Em 2016, Moro quebrou os sigilos de Lula e de sua empresa de palestras para saber quem o remunerava. Explicou que era necessário ter transparência.

Por transparência, divulgou conversa telefônica entre Lula e Dilma Rousseff na qual a ex-presidente convidava Lula para chefiar a Casa Civil da Presidência da República. Moro autorizara o grampo.

Ocorre que o grampo se estendeu para além da hora determinada por ele. “Não havia reparado antes, mas não vejo maior relevância”, ele disse. A Justiça reparou e repreendeu-o.

Moro justificou-se: “A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras”.

A poucos dias do primeiro turno da eleição de 2018, Moro levantou o sigilo sobre a delação premiada de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma. Mais tarde, a delação revelou-se mentirosa.

Moro disse: “Publicidade e transparência são fundamentais para a ação da Justiça e não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção”.

No último dia 23, porém, ele chamou de abuso a cobrança feita pelo Tribunal de Contas da União para que revele quanto recebeu de salário da Alvarez & Marsal, escritório de advocacia norte-americano.

A Alvarez & Marsal atuou em processos de recuperação judicial de empresas investigadas pela Lava Jato. E Moro foi seu empregado até outubro último, quando saiu para entrar na política.

Pré-candidato a presidente da República pelo PODEMOS, Moro afirma que a tentativa de investigar sua atuação no setor privado é uma forma de perseguição:

“Querem dar um recado, e esse recado não é para mim, é para tudo quanto é juiz, procurador e policial. ‘E se você vier atrás de mim por corrupção você vai enfrentar as consequências porque eu vou atrás de você’. É isso que estão querendo fazer.”

“Eu sou o único cara desses daí [pré-candidatos à Presidência] que pode falar ‘eu combati a corrupção’. E estou sofrendo. É pura perseguição porque o cara não tem nada para falar do que eu fiz e fica inventando um monte de maluquice.”

O PT e o Centrão juntaram-se na Câmara para criar uma CPI que investigue as relações trabalhistas entre Moro e a Alvarez & Marsal. O ex-juiz está furioso.

O Tribunal de Contas da União analisa se atos de Moro como juiz fragilizaram a situação econômica de empreiteiras socorridas, anos depois, por um escritório de advocacia em que ele foi trabalhar.

Moro promete revelar quanto ganhou, mas não agora. Só quando apresentar sua declaração de bens à Justiça Eleitoral. No caso dele, portanto, a transparência pode esperar.

Juiz Sergio quebraria o sigilo do candidato Moro

Quando trocou o altar de Curitiba pelo viveiro de víboras de Brasília, Sergio Moro comportou-se como se fosse portador de um destino. Como ministro da gestão ruinosa de Bolsonaro, o ex-juiz tornou-se uma fatalidade. Deixou o governo chutando a porta, fazendo pose de candidato. Passado o período de quarentena, virou sócio-diretor da consultoria americana Alvarez & Marsal. Nessa hora, candidatou-se a um bom saldo bancário, não à Presidência da República.

Agora, Moro percorre com pés de barro o circuito da corrida presidencial de 2022. Esconde os ganhos que obteve numa consultoria que amealha 70% do seu faturamento milionário no Brasil socorrendo empresas encalacradas na Lava Jato: Grupo Odebrecht, OAS e Galvão Engenharia. Acossada pelo Tribunal de Contas da União, a consultoria Alvarez & Marsal recorre a decisões do Supremo Tribunal Federal para manter em segredo os ganhos de Moro.

Moro nega o inegável conflito de interesses. Afirma que não atuou em favor de encrencados na Lava Jato. Em timbre altruísta, alega que se dedicou a "ajudar empresas a fazer a coisa certa", ensinando "políticas de integridade" e ministrando lições "anticorrupção."

Se um juiz chamado Sergio tivesse que julgar o comportamento do consultor Moro decerto determinaria a quebra do seu sigilo.

Quando comandava a 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro jactava-se de observar o princípio da transparência, privilegiando sempre o interesse público. No momento, nada pode interessar mais ao público do que o comportamento moral de um postulante à Presidência.


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