23/04/2024 - Edição 540

Poder

‘Edir Macedo não tem procuração para falar em nome do cristianismo e dos evangélicos’, afirma pastor

Publicado em 26/01/2022 12:00 -

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Após encontro com Lula (PT) em São Paulo, o pastor Henrique Vieira, líder da Igreja Batista do Caminho, rebateu reportagem da Folha Universal, jornal da Igreja Universal do Reino de Deus, que fez coro com Michelle Bolsonaro ao pregar que cristão não podem ser de esquerda.

“Edir Macedo não pode falar em nome dos evangélicos, do Cristianismo e em nome de Deus. Existe uma variedade de experiências dentro da igreja evangélica, do cristianismo e, inclusive, dentro da Igreja Universal do Reino de Deus. Eu posso apostar que lá tem uma variedade de experiências que Edir Macedo não sabe, não conhece e ele mesmo não controla e nem pode controlar, por isso se posiciona dessa forma”, disse Henrique Vieira em vídeo nas suas redes sociais – assista abaixo.

O pastor, que também é ator, foi vereador e é membro do conselho deliberativo do Instituto Wladimir Herzog, falou da própria experiência na relação com a esquerda e disse que, como ele, há milhões de evangélicos de esquerda.

“Eu existo como cristão, evangélico, pastor e como alguém que está aí na luta dos movimentos sociais, por direitos humanos, justiça social e, como eu, um monte de gente existe também a partir dessa fé“.

O religioso disse que o termo é usado por um grupo de evangélicos ligados a movimentos ultraconservadores e ao governo Jair Bolsonaro (PL) para aterrorizar cristãos.

“Existem esquerdas, no plural. ‘A esquerda’ é um fantasma, cheio de preconceito, para estimular inimizade e impedir que a gente possa conversar e conviver com as pessoas“, disse.

Em linha com Lula, que tem afirmado que um dos primeiros atos de seu governo, caso seja eleito, é combater a fome, Vieira listou pautas do campo progressista em sua fala antes de ressaltar novamentoe que “Edir Macedo não recebeu procuração e nem tem autoridade ou autorização para falar em nome do cristianismo e do povo evangélico”.

“A consequência de caminhar com Jesus, de professar Jesus como salvador, tem a ver sobretudo com amar as pessoas. Sabe o que significa? Não ficar em paz diante da fome que milhões de brasileiros estão passando possivelmente inclusive membros da Igreja Universal. Não ficar em silêncio diante das mais de 600 mil famílias que perdeu parentes e pessoas amadas diante da Covid. O que não pode ser é falar que caminha com Jesus e promover o ódio”.

Encontro com Lula

Nas redes sociais, Lula publicou uma foto no último dia 26 ao lado do pastor. “Encontro ontem em São Paulo com @pastorhenriquevieira. Conversamos sobre os desafios do país, o combate à fome, sobre o amor como forma de combate à política de ódio, sobre fé e a construção de um Brasil mais fraterno e solidário”, escreveu o petista.

A mesma imagem, de Ricardo Stuckert, foi compartilhada por Henrique Veira, que disse que quer “juntar forças para construção de um país justo, solidário e fraterno”.

“É preciso superar uma política feita com ódio e desprezo pela vida. Quero estar no campo que tem sensibilidade humana e social e que não descansa enquanto brasileiros e brasileiras passam fome. Minha fé está à serviço do diálogo, da construção de pontes, da promoção da paz”, escreveu.

Evangélicos não votam em bloco, afirma pesquisador: ‘É uma lenda’

Ser evangélico em época de eleição equivale a virar alvo de cobiça política, da esquerda à direita. Mas, embora esse público represente aproximadamente um terço do eleitorado e ganhe destaque nos programas dos principais candidatos à Presidência, nada indica que vote como bloco unitário. Ao contrário: um estudo do cientista político Victor Araújo, professor da Universidade de Zurique, mostra que os pentecostais, os neopentecostais e os chamados “tradicionais” escolhem seus candidatos com base em princípios totalmente diferentes.

“Voto evangélico não existe. É lenda”, afirmou Araújo. Da linha neopentecostal, a Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, publicou artigo em seu site, anteontem, dizendo que não é possível ser cristão e votar na esquerda. O texto apócrifo argumenta que esquerdistas querem repetir no Brasil “fórmulas desgastadas e ineficazes”, como regimes ditatoriais, além de “espalhar o caos, para que suas atitudes de desgoverno não sejam notadas”.

Em outros eleições, porém, a cúpula da Universal apoiou os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. O partido Republicanos – antigo PRB – é braço da Universal e integra o Centrão, que atualmente apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato a novo mandato. Mesmo assim, a Universal – com cerca de 2 milhões de fiéis no País – tem reclamado de desprestígio por parte de Bolsonaro. Presidenciáveis

Na tentativa de atrair esse eleitorado, a campanha do ex-presidente Lula lançará programas no YouTube dirigidos a esse público. A equipe do PT não pretende, porém, se concentrar na agenda de costumes. A ideia é discutir temas como o empobrecimento da população. Já Bolsonaro e o ex-juiz Sérgio Moro, pré-candidato do Podemos, decidiram focar seus discursos em críticas à defesa do aborto e da legalização de drogas. Ao apostar na pauta de costumes, tanto Bolsonaro como Moro tentam atingir os cerca de 22 milhões de evangélicos pentecostais.

“Não importa, para este eleitorado, para que lado a economia está apontando, se ela está bem ou mal, se a inflação está alta ou não”, disse Araújo. A tese de doutorado dele foi defendida na USP em 2020 e se transformou em livro, que deve ser lançado em março. De sua análise, os pentecostais votam orientados por pautas ideológicas e minimizam benefícios como o Bolsa Família – atual Auxílio Brasil. 

Para esse grupo, uma visão de mundo amparada na Bíblia é mais estável do que decisões baseadas em questões econômicas. O Ministério Madureira é uma das mais poderosas ramificações da Assembleia de Deus e é justamente ali que Lula procura angariar apoio. A Universal e a Internacional da Graça de Deus são neopentecostais e as igrejas Batista, Metodista e Presbiteriana, tradicionais.

Uma das conclusões do estudo é a de que o PT costuma angariar votos de eleitores no Nordeste porque a região é um berço católico. “O PT vai bem no Nordeste não muito por causa do programa Bolsa Família, mas porque lá tem uma concentração absurda de católicos”, observou Araújo. “Na média, um católico beneficiário do Bolsa Família retribui o PT nas urnas. E um pentecostal que é beneficiário, não.”


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