25/04/2024 - Edição 540

Poder

Aliado diz a revista que havia rachadinha no gabinete de Bolsonaro e filhos

Publicado em 21/01/2022 12:00 -

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Em entrevista à revista Veja, Waldir Ferraz, um amigo de longa data de Jair Bolsonaro (PL) e que assessorou o então candidato durante as eleições de 2018, afirmou que a ex-mulher do presidente, Ana Cristina Valle, teria sido responsável por comandar um suposto esquema de "rachadinhas" nos gabinetes do então deputado federal e de seus filhos Flávio e Carlos.

À mesma revista, Ana Cristina negou qualquer envolvimento com rachadinha enquanto atuou nos gabinetes do ex-marido e seus filhos.

A rachadinha é um esquema em que funcionários devolvem parte do salário ao responsável pelo gabinete. Segundo apuração do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), parte do dinheiro vindo de rachadinhas do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio Janeiro (Alerj) era lavado para ser usado em benefício do parlamentar. A investigação corre em sigilo.

Segundo Ferraz, Ana Cristina foi conquistando Bolsonaro aos poucos e teria se "infiltrado" para montar o esquema — nessa época, eles ainda não eram um casal. Ainda de acordo com o relato do amigo do presidente, o então deputado federal não sabia do esquema até 2018, quando as notícias sobre a investigação do Coaf vieram à tona.

Ferraz disse à Veja que os filhos de Bolsonaro — o vereador Carlos (Republicanos), o deputado federal Eduardo (PSL) e o senador Flávio (PL) — também não sabiam das táticas usadas por Ana Cristina.

“Às vezes o chefe de gabinete faz merda, e o próprio deputado não sabe. Mesmo o deputado vagabundo não sabe, só vem a saber depois”, disse Waldir Ferraz para a Veja.

Na entrevista, Ferraz disse ainda que depois coube a Fabrício Queiroz assumir o andamento do tal esquema das rachadinhas. Queiroz e o presidente são amigos há 30 anos.

Apesar da forte amizade entre Queiroz e Bolsonaro, o presidente ainda não teria conhecimento das práticas implementadas nos gabinetes, de acordo com relato de Ferraz. Em junho de 2020, o ex-assessor foi preso preventivamente pela Justiça do Rio de Janeiro no caso das rachadinhas e solto em 2021.

A "reestreia" dele em eventos bolsonaristas ocorreu na manifestação de 7 de setembro, quando foi exaltado por políticos e militantes presentes na Praia de Copacabana. O caso das rachadinhas continua em investigação pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

Chantagem

"Ela é muito perigosa. É uma mulher que quer dinheiro a todo custo. Às vezes, ela vai ao cercadinho, frequenta o cercadinho. É uma forma de chantagem, lógico que é chantagem. A gente nem toca nesse assunto pra não deixar o cara com cabeça quente", disse Ferraz sobre Ana Cristina.

Além de aparecer na suposta tentativa de exercer influência sob o presidente, a ex-esposa também pediria dinheiro e outros favores a Bolsonaro em troca de silêncio.

À Veja, Ana Cristina negou que tenha comandado esquemas de rachadinha, e que não usa de qualquer tipo de chantagem com Bolsonaro. A ex-esposa afirmou que as acusações partem de inimigos que que querem atingir os filhos do presidente.

"Se eu tiver que falar com o presidente, acha que eu vou para o cercadinho para todo mundo ficar vendo, para jornalista ficar vendo? Sou discreta", disse.

Pela culatra: uma análise

Deu errado, e se tudo foi combinado com Bolsonaro, aí é que não dá para entender. Waldir Ferraz, de apelido Jacaré, é amigo do presidente desde que os dois serviam o Exército.

À Veja, Ferraz, assíduo frequentador do Palácio do Planalto, que troca mensagens diárias por celular com Bolsonaro, contou que ele se meteu numa enrascada sem saída.

Segundo Ferraz, Ana Maria Valle, ex-mulher de Bolsonaro, mãe do seu filho Jair Renan, foi quem montou o esquema da rachadinha nos gabinetes de Flávio, Carlos e do próprio Bolsonaro.

À época, Bolsonaro era deputado federal. Diz Ferraz que Bolsonaro escalou Ana Maria para cuidar dos três gabinetes – o de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, o de Carlos na Câmara Municipal.

Diz que nem Bolsonaro nem os filhos sabiam que Ana Maria recolhia parte dos salários dos funcionários, ficando com o dinheiro. Só souberam depois que Bolsonaro se elegeu presidente.

Ocorre que Bolsonaro, Flávio e Carlos assinaram as contratações, dispensas e os reajustes salariais dos funcionários. Logo, são responsáveis por desvio de dinheiro público, crime de peculato.

Ferraz com a palavra:

“Quem assinava era ele [Bolsonaro]. Ele vai dizer que não sabe? É batom na cueca. Como é que você vai explicar? Ele está administrando. Não tem muito o que fazer.”

“Acho que ele vai ter problema se não for reeleito. Vai tudo cair, vai perder o foro privilegiado e tal.”

Duas vezes condecorado por Bolsonaro, Ferraz acusa Ana Maria de chantagear o presidente pedindo-lhe dinheiro e outros favores em troca de não revelar o que sabe. Ana Maria nega.

Veja gravou a conversa com Ferraz que, pelo jeito, não sabia que estava sendo gravado. Bolsonaro e os filhos Flávio e Carlos jamais se livrarão da pecha de políticos corruptos.


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