23/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Consumo nocivo de álcool entre jovens preocupa

Publicado em 12/03/2015 12:00 -

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No dia 28 de fevereiro, a morte do aluno da Unesp Humberto Fonseca, 23, em Bauru, acendeu mais um sinal vermelho sobre o consumo de bebidas nas universidades. O estudante ingeriu 30 doses de vodka.

Beber muito e rápido passou de exceção para regra nessa faixa etária. De acordo com o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, de 2012, 61% dos entrevistados entre 22 e 25 anos bebiam em "binge", termo em inglês para consumo excessivo. Já é considerado exagerado o consumo de quatro a cinco latinhas em duas horas.

O comportamento traz mais riscos do que o alcoolismo, segundo a coordenadora da pesquisa, Clarice Madruga. Isso porque o alcoólatra bebe devagar e adquire resistência com o passar do tempo. "Não perde tanto o controle porque a tolerância está muito grande", diz a psicóloga.

No meio universitário, o abuso é alarmante. Dados do 1º Levantamento sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre os Universitários, divulgado em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, mostraram que um em cada quatro alunos bebe de forma nociva.

A ligação entre essa etapa da vida e o álcool é antiga. Rogério Mendes, sociólogo e professor da Universidade Mackenzie, diz que o uso de substâncias sempre esteve associado à transição geracional. "É ritual de passagem. Na vida acadêmica o álcool sempre foi o mais comum."

Para o professor, o ritual significa que a pessoa se torna autônoma frente aos pais, mas não em relação aos pares. O trote e a bebedeira são cobrados para que o calouro seja reconhecido como membro do grupo.

Para a psiquiatra Camila Silveira, o consumo intenso de bebidas é visto como natural quando o jovem é universitário. "Os pais são mais tolerantes, acham que faz parte dessa fase. Mas é preciso dialogar sobre os prejuízos de todas as drogas."

Open Bar

Na tentativa de limar festas que incentivem o "binge drinking", universidades estrangeiras implementaram políticas de prevenção, afirma a psquiatra. Elas incluem medidas como proibir festas "open bar" e orientar os alunos sobre o assédio da indústria de bebidas, que patrocina eventos.

Em São Paulo, o DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP pensa em realizar campanhas de conscientização ao longo do ano, para evitar casos como o de Humberto.

O diretório, no entanto, acha que as bebidas dentro dos campi não devem ser proibidas. "Somos a favor de que o DCE e centros acadêmicos organizem eventos, mas com a contrapartida de conscientizarmos os alunos", diz o integrante Gabriel Lindenbach.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, questões amplas, como o acesso fácil ao produto, são essenciais para a discussão do tema. "No Brasil não há política que exija licença de venda nem política para limitar o preço", exemplifica Clarice Madruga.

TRÊS PERGUNTAS SOBRE OS EFEITOS DO ÁLCOOL

O alcoolismo e o beber muito em pouco tempo têm efeitos diferentes no corpo?

O álcool é uma substância tóxica que, quando ingerida em grande quantidade, afeta a atividade das células. No alcoolismo, a ingestão ocorre de forma espaçada, o que compromete as funções das células, mas não as destrói.

No consumo nocivo, a dose é tão grande e absorvida em tão pouco tempo que pode destruir células, comprometendo funções básicas como a respiração.

As consequências são diferentes para a mulher?

O corpo da mulher não tem a mesma tolerância no geral. Ela tolera 60% do volume que o homem suporta. Isso acontece porque o corpo feminino tem menor capacidade de metabolizar o álcool e menos água em sua composição —55% do corpo feminino é composto de água, contra 60% do homem.

Dessa forma, a concentração de álcool dentro das artérias e veias é maior do que no homem e as consequências são mais severas.

O que é coma alcoólico?

O coma é uma situação neurológica em que a pessoa perde a capacidade de interagir com o ambiente. Acontece quando alguém não responde mais a estímulos auditivos.

E pode ser causado por vários motivos, entre eles a ingestão excessiva de álcool. Há quatros estágios de coma. No terceiro e no quarto, a concentração dentro das células é tão alta que algumas morrem. A insuficiência respiratória é uma das causas comuns de morte.


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