25/04/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

80% das investigações de execuções no Paraguai não são concluídas, diz MP

Publicado em 12/01/2022 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Cerca de 80% das investigações sobre execuções que ocorrem do lado paraguaio da fronteira com o Brasil, próximo à região de Mato Grosso do Sul, não são concluídas. As informações foram repassadas ao G1MS pelo Ministério Público do Paraguai, que por questão de segurança o nome do representante do órgão será mantido em sigilo.

A maioria dos casos de homicídios que acontecem na linha fronteiriça são chocantes. As execuções são marcadas por inúmeros disparos – na maior parte de metralhadora ou fuzil -, "acerto de contas" e até mesmo como forma de repassar mensagens por meio do crime.

Conforme a fonte, a baixa taxa de elucidação dos casos se dá por um motivo principal: "Silêncio da sociedade".

"O baixo número na hora de resolver os casos se dá ao silêncio da sociedade, pouca colaboração das pessoas", detalha a pessoa ligada ao MP do Paraguai.

O silêncio se dá por causa do medo imposto pelos crimes bárbaros. "As pessoas tem medo, temem muito. Existem pessoas que destroem os seus aparatos de câmeras de segurança para não comprometer e não dar informação as investigações", comenta.

Quando há conclusão

No Paraguai, as investigações dos crimes se dão pelo Ministério Público, é órgão que conduz a apuração, até uma possível elucidação. Em primeiro, os servidores realizam a reconstituição do lugar do crime e a busca por qualquer tipo de evidência "para ajudar no caminhar da investigação", como explicou o servidor.

"Infelizmente, os casos acontecem em circunstâncias muito difíceis de chegar aos autores. É muito difícil chegar aos autores, mas fazemos o necessário para isso. Nós como instituição, unidos com a Polícia, sempre tratamos de fazer todos os passos necessários para chegar aos autores", descreve.

A maior parte das elucidações das execuções envolvem apreensões de armas, como explicou a fonte. "Geralmente os casos são elucidados quando há a apreensão de pessoas com armas. Assim, fazemos a comparação desta arma como resultado de que este objeto foi usada na morte de alguém", destrincha.

Muitas vezes, além de fazem parte do crime, os pistoleiros – como são chamados aqueles que executam outros no Paraguai – são ligados a organizações criminosas que atuam tanto em solo paraguaio, como no Brasil.

"Geralmente quando são prendidas pessoas que são membras de facções criminosas são brasileiros, grande parte, a maior do PCC [Primeiro Comando Vermelho]. As pessoas sempre caem com armas, e estes objetos nos ajudam nas elucidações dos homicídios", finaliza.

Execuções na fronteira Brasil/Paraguai em 2021

Janeiro Um homem foi executado e um idoso de 84 anos ficou ferido em atentado, no dia 4 de janeiro do ano passado, em Pedro Juan Caballero. De acordo com a polícia do Paraguai, o homem foi baleado quando comprava bebida alcoólica em um bar do bairro Maria Vitória. Ocupantes de um carro branco começaram a atirar contra a vítima ainda de longe e quando se aproximaram, terminaram a execução.

Janeiro – Imagens que circulam nas redes sociais, retiradas da câmera de segurança, mostram um homem, ainda não identificado, sendo executado com tiros de fuzil, em uma das ruas das cidades gêmeas, no dia 31 de janeiro de 2021.

Julho – Mateo Martínez Armoa, de 21 anos, e Anabel Centurion Mancuelo, de 22, foram executados com mais de 35 tiros em uma choperia na cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, vizinha da brasileira Ponta Porã (MS). Horas antes do crime, os paraguaios Mateo e Anabel trocaram declarações de amor nas redes sociais (leia os posts aqui).

O crime que vitimou o casal aconteceu durante a noite do dia 26 de julho. Segundo a polícia paraguaia, os pistoleiros deixaram um bilhete, escrito em espanhol, preso à cabeça do jovem e com assinatura de "Justiceiros da Fronteira": "Favor não roubar."

Agosto – Ex-deputado no Paraguai, Carlos Rubens Sanches Garcete [FOTO ACIMA], conhecido como 'Chicaro', foi executado dentro de casa no inicio de agosto, em Pedro Juan Caballero. Segundo informações da polícia paraguaia ao jornal ABC Color, 10 homens invadiram a casa da vítima, que fica próxima à fronteira com o Brasil, e atiraram. Vizinhos disseram aos policiais terem ouvido cerca de 500 tiros.

Agosto – Gilmar Afonso Canofe, de 36 anos, foi executado com vários tiros, próximo a prefeitura de Ponta Porã (MS), cidade que fica na fronteira com o Paraguai, em 19 de agosto de 2021. De acordo com as primeiras investigações da Polícia Civil, o homem pode ter sido morto por engano no lugar do irmão gêmeo.

Setembro – Três homens foram executados na fronteira entre o Brasil e Paraguai em menos de 48 horas. O primeiro ocorreu em 25 de setembro, às 22h. Os outros dois, aconteceram, no dia 27, às 12h15, e a terceira morte às 13h30. Os primeiros crimes foram em Pedro Juan Caballero (PY), o último foi em Ponta Porã (MS) – que são cidades vizinhas.

Por ordem cronológica dos óbitos, Rógerio Laurete Buosi, de 26 anos, Jorge Ortega, 28, e o ex-vereador de Ponta Porã, Joanir Subtil Viana, 53, foram atingidos com 9 tiros, ao menos, cada um. A polícia investiga se há alguma ligação entre as três mortes.

Outubro – O vereador de Ponta Porã, Farid Charbell Badaoui Afif, de 37 anos, que havia sido eleito pelo DEM, foi executado no dia 8 de outubro do ano passado, quando andava de bicicleta. Poucas horas antes, publicou um vídeo nas redes sociais falando que passaria com o veículo em algumas repartições.

Horas antes do crime, o vereador postou um vídeo nas redes sociais. Nas imagens ele aparece com a bicicleta que estava quando foi morto e faz declarações relacionadas ao trabalho dele como parlamentar.

Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que o vereador Farid Afif (DEM) foi executado a tiros, enquanto fazia um passeio de bicicleta por Ponta Porã. Assista ao vídeo abaixo.

Outubro – No dia 9 de outubro de 2021, quatro pessoas foram mortas saindo de uma festa, em Pedro Juan Caballero (PY). Atiradores deixaram o carro em que as vítimas estava cravejado de munições. Assista ao vídeo acima. Câmeras de segurança registram o atentado.

Sem conclusão: três meses após o crime, este é o status das investigações da chacina que matou quatro pessoas, incluindo Haylee Carolina Acevedo Yunis, filha de Ronald Acevedo, governador do estado de Amambay, no Paraguai. A apuração do crime, que aconteceu, no dia 9 de outubro de 2021, em Pedro Juan Caballero (PY), cidade vizinha à Ponta Porã (MS), foi repassada à capital do Paraguai, Assunção.

Dezembro – Na véspera do Natal de 2021, Ana Carolina Alhende Aquino, que estava grávida de nove meses de gêmeas, foi executada enquanto estava dentro do carro, em Ponta Porã (MS), cidade que fica na fronteira do Brasil com o Paraguai. Conforme as informações da Polícia Civil, a vítima estava no carro, junto do marido que seria o principal alvo do atentado.

Dezembro – No dia 29 de dezembro do ano passado, o vereador Hugo Leonardo da Silva Gonçalves, de 38 anos, foi executado em Sete Quedas, a 467 quilômetros de Campo Grande, na região de fronteira entre Brasil e Paraguai.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *