19/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Como pinto no lixo

Publicado em 10/01/2022 12:00 - Idelber Avelar

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Chegou meu Dostoiévski completo em português, nas edições da 34.

Alguém deveria escrever um livro sobre o fenômeno dos autores que só passam a significar determinadas coisas quando traduzidos a uma certa língua. Ricardo Piglia fez observações lindas sobre isso, ao falar de como Poe se transforma ao ser traduzido por Baudelaire. Mas não temos um livro sobre o tema em si.

Para mim, Dostoiévski foi a ilustração perfeita desse fenômeno: somente em português ele funciona comigo. Embora já o tenha lido em inglês, em espanhol, inacreditavelmente uma vez em francês, e até tenha reunido, em prisca era quando o presidente do Brasil era Sarney, suficiente russo para tentar ler "Um pequeno herói" no original, só sinto que estou lendo o verdadeiro Dostô quando o leio em português.

Isso se deve, no meu caso, a uma edição de "Os Irmãos Karamazov" que saiu em uma coleção de bancas de jornal da Abril, chamada "Os imortais da literatura universal". Meus pais, com essa crença messiânica que os muito pobres costumavam ter nas coleções de livros encadernados, compraram os 50 volumes. O n˚ 1, "Os Irmãos Karamazov", sem dúvida foi o livro mais importante de minha vida.

Não me lembro com quantos anos o li pela primeira vez. Talvez com 6 ou 7, talvez com 8, foi bem tenra infância. E li febrilmente, não entendendo muita coisa, mas convicto de que ali se encerrava um segredo interessantíssimo, que valia a pena dedicar semanas e meses a decifrar. Eu não sabia que dedicaria as próximas quatro décadas a amar esse livro.

Nesta foto, o primeiro 1/3 está tomado pelos gordões clássicos da fase madura do autor: "Os Irmãos Karamazov", a cosmogonia final, "Crime e Castigo", o da trama mais eletrizante (apesar de que o assassino se revela na primeira página), "O Idiota", que é o mais tenro, fofinho e lírico, e "Os Demônios", que é o mais aterrorizante e profético.

Os 2/3 inferiores da foto são tomados pelos relatos curtos, boa parte deles da fase mais juvenil, pré exílio-na-Sibéria-acusado-de-comunista. No lado de baixo da foto há também alguns relatos posteriores, como "Memórias do Subsolo" e "O Jogador", romance curto, mas da fase madura, e focalizado na piração cracuda que tinha Dostô com a jogatina. Nível apostar o leite do filho no dia seguinte.

Nenhum autor viveu a literatura com uma urgência tão desesperada como esse cabra. Ele merece todas as honras.

ELES EM NÓS

Conversei com Myrian Clark e Antonio Tabet no canal deles, o My News, sobre os livros dos presidenciáveis Lula, Moro e Ciro. E um dei toquezinho sobre o meu "Eles em nós". Segue o link:

VELHA HISTÓRIA, CONHECIDA

(via Caetano Scannavino)

"A reunião que garantiu a ampliação da pilha de estéril Cachoeirinha da Mina Pau Branco, em Nova Lima/Brumadinho (MG), de propriedade do grupo francês Vallourec, foi feita em janeiro de 2021 após uma convocação extraordinária em regime de urgência pedido pela própria mineradora.

Ambientalistas alertaram sobre os riscos do aumento da pilha que deslizou no último sábado (08) e provocou o transbordamento de um dique que atingiu a BR-040, interditou a rodovia, feriu uma pessoa e causou a remoção de moradores. As críticas foram ignoradas.

Para a expansão do projeto, a Vallourec entrou com pedido de licenciamento de várias estruturas, incluindo a Pilha de Rejeito/Estéril Cachoeirinha.

A urgência pedida pela Vallourec foi acatada pela Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), após recomendação da Secretaria de Meio Ambiente (Semad)."

LEIA AQUI

Leia outros artigos da coluna: Eles em Nós

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *