29/03/2024 - Edição 540

Especial

Lula Lá?

Publicado em 17/12/2021 12:00 -

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Se a eleição fosse hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria no primeiro turno. É o que mostram três pesquisas de intenção de votos divulgadas nesta semana.

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (16) mostra que Lula lidera a corrida presidencial de 2022 com larga vantagem, com 48% das intenções de voto.

É mais que o dobro dos pontos percentuais do segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparece com 22%. Levando em consideração apenas os votos válidos, o petista seria eleito já no primeiro turno.

Em terceiro lugar está o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos), com 9% dos votos, seguido de perto pelo ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que aparece com 7%. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem 4% das intenções de voto.

Outros 8% disseram que não votariam em ninguém, votariam em branco ou anulariam o voto, e 2% responderam que não sabem.

Comparando os resultados com as pesquisas anteriores, é possível perceber que a chegada de Moro à corrida eleitoral não alterou significativamente as intenções de voto dos dois primeiros colocados. O ex-juiz se consolida como uma opção da chamada terceira via, ao lado de Ciro Gomes.

De acordo com a pesquisa, Lula é o candidato preferido entre os mais jovens (54%), menos escolarizados (56%), mais pobres (56%) e no Nordeste (21%).

Já Bolsonaro tem 47% de preferência entre os empresários, 32% entre quem ganha de cinco a dez salários mínimos e 34% entre quem ganha mais de dez salários mínimos. Em relação à região, Bolsonaro é o preferido no Sul (27%).

Em um segundo cenário pesquisado pelo Datafolha, que incluía mais candidatos, os números quase não mudam. Lula tem 47% dos votos, e Bolsonaro tem 21%. Em seguida vêm Moro (9%), Ciro (7%) e Doria (3%). Simone Tebet (MDB) e Rodrigo Pacheco (PSD) aparecem com 1% dos votos. Aldo Rebelo (sem partido), Alessandro Vieira (Cidadania) e Felipe d'Avila (Novo) não pontuaram.

O Datafolha ouviu presencialmente 3.666 pessoas com mais de 16 anos, em 191 cidades do Brasil, entre 13 e 16 de dezembro.

Datafolha e Ipec batem na mesma tecla

O resultado da pesquisa Datafolha é quase o mesmo de pesquisa realizada pelo Ipec (instituto criado por ex-executivos do extinto Ibope Inteligência) e divulgada no último dia 14. O levantamento também mostra que o ex-presidente Lula ganharia no 1º turno se as eleições presidenciais fossem hoje. Nos dois cenários testados, o petista não precisaria de 2º turno para chegar ao Palácio do Planalto em 2022.

Considerando apenas os votos válidos, Lula tem 56% das intenções de voto nos dois cenários. Levando em conta brancos, nulos e indecisos, o levantamento aponta que o petista está 27 pontos percentuais à frente do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Pelo Ipec, Bolsonaro varia de 21% a 22% e o ex-juiz Sergio Moro tem desempenho tímido: oscila de 6% a 8%.

Em setembro, um estudo eleitoral feito pelo Ipec também mostrou possibilidade de vitória de Lula no 1º turno, mas com desempenho levemente inferior. A empresa afirma, contudo, que os dados não podem ser comparados com pesquisas anteriores em virtude da mudança dos nomes testados.

Leia os números:

Cenário 1

Lula (PT): 48%;

Jair Bolsonaro (PL) : 21%;

Sergio Moro (Podemos): 6%;

Ciro Gomes (PDT): 5%;

André Janones (Avante): 2%;

João Doria(PSDB): 2%;

Cabo Daciolo (Brasil 35): 1%;

Simone Tebet (MDB): 1%;

Alessandro Vieira (Cidadania): 0%;

Felipe d’Ávila (NOVO): 0%;

Leonardo Péricles (UP): 0%;

Rodrigo Pacheco (PSD): 0%;

Brancos / Nulos: 9%;

Não sabem / Não responderam: 5%.

Cenário 2

Lula: 49%;

Bolsonaro: 22%;

Sergio Moro: 8%;

Ciro Gomes: 5%;

João Doria: 3%;

Brancos/nulos: 9%;

Não sabe/não respondeu: 3%

O levantamento do Ipec foi feito de 9 a 13 de dezembro e ouviu 2.002 pessoas em 144 municípios. A margem de erro é de 2 pontos para mais e para menos. O nível de confiança é de 95%.

Reprovação de Bolsonaro aumenta

A pesquisa do Ipec informa que o governo Bolsonaro é reprovado pela maioria absoluta dos eleitores (55%). A desaprovação à forma como o presidente administra o país é ainda maior (68%). A taxa de brasileiros que declaram não confiar em Bolsonaro alcança níveis estratosféricos (70%). Esses números conduzem a duas conclusões. A primeira é que Bolsonaro consolidou-se como um presidente tóxico. Sete em cada dez brasileiros o consideram um ser inconfiável. A segunda constatação é que o mote da sucessão de 2022 será o antibolsonarismo.

Pesquisa Futura mostra estabilidade

Uma pesquisa feita pela Futura Inteligência por encomenda do banco digital ModalMais, divulgada no último dia 14, mostra que Lula segue com larga vantagem, mas precisaria de 2º turno para vencer o pleito.

O estudo aponta que o petista lidera todos os cenários no 1º e no 2º turno. Bolsonaro apresentou estabilidade, enquanto o terceiro colocado, Moro (Podemos), teve queda.

No cenário de 1º turno com mais nomes testados, Lula marca 37,9% das intenções de voto contra 30,6% de Bolsonaro e 9,8% de Moro. Na sequência, estão Ciro, com 6,4%, e Doria (PSDB), com 3,3%. Os outros nomes têm menos de 1%.

No estudo anterior produzido pelas mesmas empresas de pesquisa, Moro já aparecia com dois dígitos, variando de 11,9% a 13,6%.

No 2º turno, Lula tem 50,8% das intenções de voto contra 37% de Bolsonaro. A pesquisa anterior estimava vitória do petista por 49,7% a 38,4%. As variações ocorreram dentro da margem de erro.

O levantamento ainda aponta que o petista também derrotaria Moro por 48,9% a 30,5%; Ciro, por 47,7% a 21,3%; e Doria, por 50,7% a 16%.

Foram entrevistadas, por telefone, 2.000 pessoas entre 7 e 13 dezembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Lula tem 43% das intenções de voto, Bolsonaro 26% e Moro 9%, diz CNT/MDA

A quarta pesquisa a apontar a ascensão de Lula foi divulgada na quinta (16). Realizado pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) em parceria com o Instituto MDA, o levantamento foi feito de 9 a 11 de dezembro de 2021, e mostra Lula com 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro.

Foram realizadas 2.002 entrevistas presenciais, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e 95% de nível de confiança.

O ex-ministro Sergio Moro aparece com 9% das intenções de voto na pesquisa estimulada, enquanto Ciro Gomes tem 5% da preferência e João Doria, 2%. Os demais candidatos, entre eles Rodrigo Pacheco e Luiz Felipe D'Avila, não alcançaram 1%.

O resultado não mostra diferenças significativas com o levantamento anterior, publicado em julho, quando Lula tinha 41% e Bolsonaro aparecia com 27%. Moro, por sua vez, teve um avanço após ser lançado pelo Podemos na pré-campanha: cresceu de 6% para 9%.

A nova pesquisa traz um componente diferente: o plano B dos eleitores. Sergio Moro é a segunda opção de voto para 22% dos eleitores de Bolsonaro. Ciro, por sua vez, tem o potencial de conquistar 25% dos votos de Lula, nesse quesito.

Em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula, o petista teria 53% dos votos, enquanto o atual presidente tem a preferência de 31% dos eleitores se a eleição fosse hoje. Se Lula enfrentasse Sérgio Moro, o ex-presidente venceria com 51% dos votos, com 25% para o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça.

Bolsonaro torce para auxílio de R$ 400 evitar vitória de Lula no 1º turno

Considerando que as convenções partidárias vão acontecer até o final do primeiro semestre do ano que vem, os pré-candidatos à terceira via vão ter esse tempo para demonstrar que são viáveis eleitoralmente. Ou buscar uma vaga ao Senado, ao governo ou cavar um posto de candidato a vice.

O presidente Jair Bolsonaro continua sendo o principal adversário de Lula, escorado em sua base sólida de seguidores fiéis ultraconservadores e de extrema direita e nos sócios do governo, como um naco dos ruralistas, dos policiais e dos religiosos, para quem governou nos últimos três anos.

Torce para que essa base, mais os antipetistas que não o rejeitaram, sejam suficientes para espantar os demais concorrentes. E uma vez no segundo turno, tentará representar a personificação do "bem" na luta contra o "mal". A questão é que não basta apenas impedir o crescimento de outros, precisa também tirar votos de Lula.

O Auxílio Brasil com valor mínimo de R$ 400, maior aposta do presidente para forçar um segundo turno com o petista, está sendo liberado apenas agora e, portanto, não é possível estimar seu impacto eleitoral.

Bolsonaro acredita que o pagamento vai melhorar sua baixa popularidade nas regiões Nordeste e Norte, desbancando Lula. Foi convencido por aliados no Congresso, ainda em 2020, que os recursos podem fertilizar a sua aprovação entre os mais pobres, tal como ocorreu com a primeira fase do auxílio emergencial no primeiro semestre do ano passado.

A diferença fundamental entre os dois momentos, contudo, foi a disparada na inflação no preço dos alimentos, do transporte e da energia elétrica, corroendo o poder de compra principalmente dos mais pobres. Além disso, os R$ 400 não são os R$ 600/R$ 1200 de 2020. O piso do Auxílio Brasil representa, hoje, 56% do custo de uma cesta básica em Florianópolis, 58% em São Paulo e 69% em Fortaleza, de acordo com dados do Dieese. E não atinge a mesma quantidade de famílias: mais de 66 milhões receberam auxílio emergencial e 14,5 milhões estão recebendo o Auxílio Brasil.

É difícil dizer se os R$ 400 vão servir de tíquete de Bolsonaro para o segundo turno. Mas o presidente detém a máquina do governo, o que significa não apenas o uso da estrutura da União para fazer bondades, mas também maldades – é esperada uma perseguição de adversários e críticos do governo pelas instituições sequestradas por Bolsonaro ao longo de seu governo. E também conta com uma "máquina do ódio", capaz de atacar reputações nas redes sociais e aplicativos de mensagens.

Como cereja do bolo, tivemos, no último dia 14, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, lembrando que sempre tem um golpe de Estado na esquina, à espreita.

"Eu, particularmente, que sou o responsável, entre aspas, por manter o presidente informado, eu tenho que tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes que são tomadas por esse STF que está aí", disse o ministro nesta terça. Ele criticou o Supremo, mas não gritou "pega centrão".

As pesquisas não mostram o futuro. Apenas reforçam que 2022 vai ser um ano que pode não terminar.

A seguir assim, só prendendo Lula outra vez para que não se eleja

Como dizia o saudoso locutor esportivo Fiori Gigliotti ao final da narração de jogos, “fecham-se as cortinas e termina o espetáculo” do ano de 2021 com todas as pesquisas de opinião que de fato importam indicando que Lula é o favorito para se eleger presidente no ano que vem. Faltam pouco mais de 9 meses.

Já posta a circular pelas forças ocultas que a encomendaram, entre os bolsonaristas o que faz mesmo sucesso é a pesquisa de um tal de Instituto Brasmarket, com supostos 40 anos de experiência no ramo, que dá Bolsonaro à frente de Lula com larga margem de vantagem, derrotando-o – pasmem! – inclusive no Nordeste.

Deixa pra lá. Se a eleição tivesse ocorrido nesta semana, Lula teria vencido no primeiro turno, superando com folga a soma de votos obtidos por Bolsonaro, Sergio Moro, Ciro Gomes e João Doria.

Lula vence nas pesquisas espontâneas, nas quais os entrevistados respondem de memória à pergunta sobre em quem votariam; e vence nas induzidas, em que aos entrevistados é apresentada uma lista com nomes de candidatos. Em um segundo turno, venceria qualquer adversário, enquanto Bolsonaro perderia de todos.

É possível extrair dessa fotografia momentânea duas interrogações sobre o enredo do filme a ser exibido na campanha eleitoral: 1) O auxílio de R$ 400 pago a menos de 17 milhões de brasileiros pobres será suficiente para que Bolsonaro evite que Lula vença no primeiro round?; 2) A chamada terceira via, ainda congestionada, produzirá até maio um candidato capaz de ultrapassar Bolsonaro na disputa pela segunda vaga?. Moro continua tecnicamente empatado com Ciro, que empata estatisticamente com Doria.

De resto, sempre existe a possibilidade de surgir um personagem com potencial para bagunçar previsões: o Senhor Imponderável. Em 2018, ele deu as caras duas vezes: quando Lula foi preso e quando Bolsonaro levou uma facada. No mais, tudo o que está por vir é negativo para quem disputa a reeleição: fome, desemprego, carestia, uma economia anestesiada e vários fios desencapados na Justiça.

Bolsonaro fará o diabo para reverter o sentimento antibolsonaro que deu lugar ao antipetismo de 2018. Quanto mais acrobacias fizer o presidente, pior será a herança que ele deixará para o sucessor.

Lula está preocupado com a sorte da candidatura de Bolsonaro

Não é só ele próprio, seus filhos e devotos que estão preocupados com os resultados de pesquisas de intenção de voto que indicam a redução das chances de o presidente Jair Bolsonaro se reeleger. Lula e o PT também estão preocupados.

A sensação é de que um Bolsonaro ameaçado de ficar de fora de um possível segundo turno poderá representar um perigo muito grande para a estabilidade do país.

O que ele seria capaz de fazer a partir do momento em que a derrota lhe parecesse inevitável? Apoiaria outro nome para evitar a volta do PT? Tentaria tocar fogo no circo? Adotaria medidas ainda mais populistas para prejudicar o próximo governo?

A hipótese de que se conforme e procure governar normalmente é descartada por Lula e o PT. Nada teria a ver com o Bolsonaro que se conhece. A hipótese mais provável é que, pressionado por seus devotos, tente tumultuar o processo eleitoral.

Como impedir que isso aconteça? Por enquanto, Lula e o PT não fazem a mínima ideia, mas aceitam sugestões.


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