Poder
Publicado em 10/12/2021 12:00 -
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Se ainda não morreu, Jairzinho paz e amor, uma invenção do ex-presidente Temer, está com os dias contados. Durou até mais do que se imaginava. De volta, Bolsonaro como ele sempre foi e será.
Jairzinho nasceu depois que o golpe do último 7 de setembro deu em nada. Naquele dia à tarde, em comício na Avenida Paulista, Bolsonaro disse que não mais respeitaria decisões judiciais.
Não bastasse, chamou de canalha o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ao dar-se conta do que fizera, pediu socorro a Temer, desculpas a Alexandre e moderou suas falas.
Em telefonema para o ministro, chegou a prometer abraçá-lo em breve. Achou que com isso, o Supremo baixaria a bola, evitando contrariá-lo. A harmonia entre os Poderes seria restabelecida.
A harmonia, como recomenda a Constituição, nada tem a ver com independência. Sem paciência para ler sequer um ofício de duas páginas, Bolsonaro confundiu uma coisa com a outra.
O Supremo continuou como sempre foi. Então, Bolsonaro demitiu Jairzinho. Agora, é pau, é pedra, é o fim do caminho de Jairzinho. Pau e pedra em quem possa ameaçar sua reeleição.
Jairzinho chegou ao ponto de sugerir em público que fizera sexo matinal com sua mulher, a terrivelmente evangélica Michelle. Bolsonaro, em estado bruto, jamais teria feito isso.
As dores de cabeça dele aumentaram com o lançamento da candidatura a presidente do ex-juiz Sérgio Moro. Refém do Centrão, não consegue satisfazer o apetite dos aliados por verbas.
E ainda vê-se obrigado a não bater boca com Lula que, dia sim e o outro também, o espanca sem piedade. É aconselhado a não responder aos ataques para não favorecer Lula, mas até quando?
Chega! Há limite para tudo. Feio seria perder sem oferecer resistência. Seja, pois, o que Deus e o seu vigário na terra quiserem. O vigário, sabe-se o que quer – distância de Bolsonaro.
Festival de insanidades
Nesta semana, Bolsonaro voltou a abrir a tampa do esgoto.
Sobre Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça, que apresentou o 140º pedido de abertura de impeachment contra ele: “Está lá o Miguel, todo cara de embalsamado. Parece um Tutancâmon”.
Sobre o passaporte vacinal: “Como posso aceitar o cartão vacinal se eu não tomei a vacina? É um direito meu não tomar, como é direito de qualquer um”.
Sobre João Doria, governador de São Paulo, que disse que no seu Estado só entrará vacinado: “Teu Estado é o cacete, porra. E nós temos que reagir. E reagir como? Protestando contra isso”.
Sobre os focos de incêndio que devastam a floresta amazônica e prejudicam a imagem do Brasil no exterior: “Podem ser fogueiras de São João, podem ser”.
Sobre o ex-juiz Sérgio Moro que lhe subtrai votos para presidente no ano que vem: “Mesmo com toda a liberdade, nunca mostrou serviço, a não ser desde o começo para fazer intrigas”.
Sobre a decisão de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo, de prender o blogueiro Allan dos Santos: “Ninguém pode interpretar a Constituição da maneira que bem entender”.
Sobre a pressão dos seus próprios seguidores para que defenda o deputado Daniel Silveira: “Doeu no meu coração ver um colega preso. O que fazer? Queriam que eu tomasse medidas extremas?”
E sobre ele mesmo: “Será que vão querer bloquear minhas mídias sociais? A mídia social que mais interage no mundo? Vão querer quebrar uma perna minha? Isso é democracia? Não é”.
Não faltaram elogios à cloroquina. Em cerimônia no Palácio do Planalto, depois de falar da droga, ordenou: “Quem aí já tomou cloroquina levante a mão”. Obedientes, generais, ministros e funcionários levantaram. Manda quem pode, obedece quem não quer perder o emprego. A vida não está fácil para ninguém.
Um ex-juiz incomoda muita gente. É o caso de Moro, vice-campeão em rejeição só atrás de Bolsonaro. Com um mês como candidato a presidente pelo PODEMOS, ele está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, superando Ciro Gomes (PDT). Moro corre na mesma raia de Bolsonaro e de Ciro.
Por isso, Bolsonaro começou a despir a fantasia de Jairzinho paz e amor, invenção da época em que Moro não era candidato. E Ciro, que antes apostava em ser a alternativa a Lula e a Bolsonaro, agora se oferece como alternativa a Lula, Bolsonaro e Moro. Corre o risco de ser abandonado pelo PDT se até fevereiro não crescer.
Moro sonha com um grande escândalo de corrupção que envolva ao mesmo tempo o governo e o Congresso onde tem poucos amigos. Algo do tipo orçamento secreto usado para forrar os bolsos de deputados, senadores e, lá na ponta, prefeitos. Só assim seu discurso contra a corrupção voltaria a ganhar atualidade.
Bolsonaro quer deter a sangria entre os que o apoiam, e sonha com o voto dos nordestinos comprado via o Auxílio Brasil. Respeita Januário, presidente! A história mostra que os nordestinos são um povo politizado. Sabem distinguir esmola dada em ano eleitoral da ajuda sincera e permanente para vencer a pobreza.
Aceitam a esmola porque precisam, mas na hora de votar não se comportam como devedores e dão o troco.
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