19/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

André Mendonça não deve nada a Bolsonaro

Publicado em 02/12/2021 12:00 - Rafael Paredes

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Vamos lá, o primeiro indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) foi Kássio Nunes Marques. Nunes Marques conquistou 57 votos no Plenário do Senado Federal. O primeiro indicado conquistou 10 votos a mais que o ex-ministro chefe da AGU, André Mendonça, aprovado pelos senadores no dia primeiro de dezembro.

Um cálculo errado que os analistas estão fazendo é de que André Mendonça perdeu 10 votos dos senadores governistas, mas mesmo assim foi aprovado. O cálculo correto é: André Mendonça perdeu todos os votos governistas. Ao calcularem errado, ninguém foi atrás da verdade: quem garantiu a vitória de André Mendonça no Senado.

Se tivéssemos alguém interessado na verdade, já teríamos descoberto quais parlamentares e quais partidos votaram em André Mendonça. Quem são os presidentes desses partidos e se esses partidos tem presidenciáveis.

Mas como se tem tanta certeza de que Bolsonaro trabalhou contra André Mendonça? Em primeiro lugar, até as paredes do Palácio do Planalto sabem disso. Em segundo lugar, a certeza que só o tempo te dá. Kássio Nunes Marques foi sabatinado 19 dias depois de indicado pelo presidente da República. André Mendonça amargou uma espera de mais de quatro meses.

O projeto de Jair Bolsonaro era mais uma vez jogar para plateia, a plateia evangélica, de que iria indicar um evangélico para o Supremo. E fez. Porém, em jogo combinado com o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP, segurou a marcação da sabatina de Mendonça por todo esse tempo. O projeto era desgastar André Mendonça até ele desistir ou encontrarem algo na vida de negativo do ex-AGU. Não deu certo.

O pior que André Mendonça já fez na vida foi integrar esse governo horrível, mas sem isso nunca seria indicado. De resto, não há nada de condenável na vida do pastor, doutor e professor André Mendonça. O novo ministro é um homem sério, honesto, estudioso e discreto. Teve que fazer coisas controversas como ministro da Justiça, como por exemplo estar no Ministério da Justiça quando se descobriu um dossiê contra funcionários públicos antifascistas. Mas foi André Mendonça que mandou fazer esse relatório? Será que não foi seu antecessor? Quem era seu antecessor? Por que será que na sabatina André Mendonça não citou que o dossiê já existia antes dele assumir o Ministério da Justiça? Seu antecessor é candidato à Presidência da República? Por qual partido? Como esse partido votou no dia primeiro de dezembro?

Por algum sentimento incompreensível, ninguém está fazendo os cálculos e as perguntas corretas para identificar que Jair Bolsonaro perdeu no Plenário do Senado. Dessa forma, não se identifica quem ganhou.

Ainda falando sobre a via sacra enfrentada por André Mendonça em mais de 120 dias, ele entendeu logo o jogo que estava sendo jogado e tratou de jogar também. Saiu pelo país pregando, se fortaleceu no meio evangélico e deve a marcação de sua sabatina na Comissão de Constituição e Justiça exclusivamente a esse segmento. Coisa que ele deixou bem claro em seu discurso logo depois de ter se sagrado vencedor na votação.

Mas e as fotos com o presidente Bolsonaro, com o senador Flávio Bolsonaro, dentre outros? Fachada! Pura fachada. Bolsonaro trabalhou para André Mendonça perder. Mas por que? Bolsonaro se deixa levar apenas por perigosas figuras que podem colocar a faca em seu pescoço. No dia seguinte a vitória de André Mendonça, o procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu seis apurações preliminares com base no material produzido pela CPI da COVID.  Será que foi coincidência?

Bolsonaro sente algum prazer perverso em ser intimidado, achacado, pressionado, violado. Foi assim ao fazer do deputado Artur Lira (PP-AL) presidente da Câmara dos Deputados e é assim agora ao não emplacar para ministro do STF aquele que está gostosamente com a faca em seu pescoço: Augusto Aras.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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