26/04/2024 - Edição 540

Brasil

Após revisão, saldo de criação de empregos em 2020 cai pela metade

Publicado em 04/11/2021 12:00 -

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Revisão feita nos resultados do “novo” Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, fez cair quase pela metade o saldo de vagas formais em 2020, conforme informação do portal R7. Assim, o acréscimo de postos de trabalho formais no ano passado foi de 142.690 para 85.883. Uma diferença de 46,82%.

As mudanças metodológicas adotadas pelo governo em 2020, ao divulgar o Caged, tiveram impacto nos resultados e, segundo observadores, impedem a comparação com a série histórica anterior. Além de informações dos empregados, o governo passou a usar dados do eSocial e do empregadorWeb – incluindo, portanto, vínculos temporários.

A diferença registrada na revisão vem um número 2,2% maior de demissões e acréscimo de 1,8% de admissões. A maior discrepância foi apurada em junho de 2020, quando o governo informou corte de 10.984 vagas formais. Na verdade, a redução havia sido de 30.448 (177,2% a mais). Em alguns casos, a revisão fez crescer também o volume de contratações com carteira, como em janeiro (76,4%) e fevereiro (19,5%).

Metodologia transparente

“Na primeira revisão do novo Caged, o número oficial de empregos criados em 2020 caiu para 47% do anunciado e comemorado pelo governo Bolsonaro”, comentou em rede social o economista Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) “Quando a metodologia for de fato transparente, os dados do novo Caged podem ser ainda mais inferiores”, acrescentou.

Em 2021, os números oficiais seguem apontando crescimento e alimentando discurso ufanista do governo. Segundo o Ministério do Trabalho, o saldo de setembro foi de 313.902 vagas, o que levou o total do ano a 2,5 milhões. Mas os números do IBGE apontam desemprego em nível alto e certa recuperação baseada, principalmente, no trabalho informal.

Favelas no Brasil dobraram desde 1985

A área total de favelas no Brasil dobrou entre 1985 e 2020. No período, a extensão de moradias informais avançou 2,1 milhões de hectares para 4,1 milhões de hectares. Esse aumento equivale a três vezes a área de Salvador, na Bahia, ou 11 vezes à área de Lisboa, em Portugal.

O total dos aglomerados informais representa 4,66% dos 2,1 milhões de hectares urbanizados no país nos últimos 36 anos. Essas regiões são formadas por pessoas sem posse de terra, morando na informalidade, com coleta de lixo precária, muitas vezes sem saneamento e em locais de risco.

Nas regiões Norte e Nordeste, os espaços urbanos informais passaram a existir onde não eram encontrados, com crescimento territorial em alguns estados de até 93%, como é o caso de Rondônia.

Os dados fazem parte de um levantamento inédito sobre áreas urbanizadas feito a partir de imagens de satélite captadas entre 1985 e 2020, por meio da plataforma MapBiomas. A iniciativa multi-institucional envolve universidades, organizações não governamentais e empresas de tecnologia, focadas em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil.

“De maneira geral, houve um processo de urbanização precária em uma área muito grande. Onde já tinha favela houve crescimento, e onde não tinha, também. Grande parte desse processo de favelização ocorreu nas regiões Norte e Nordeste. São ocupações precárias, em áreas de risco, nas quais a população fica sujeita às alterações climáticas. São dados preocupantes”, afirmou um dos coordenadores do mapeamento de áreas urbanizadas da MapBiomas, Júlio Cesar Pedrassoli.

Ocupações informais

Nas duas grandes capitais da Região Norte, a informalidade tem sido regra nas últimas três décadas e meia. Nos dois casos, os percentuais se mantêm acima dos 50%. Belém tem 51% de sua área urbanizada ocupada por favelas, enquanto em Manaus esse percentual é de 48%.

No Amazonas, a informalidade responde por 45% da área urbanizada; no Amapá, 22%; no Pará, 14%; e no Acre, 12,6%. Apenas o Espírito Santo, com 21,5%, tem maior participação da informalidade no total de área urbanizada de seu território do que os estados da Amazônia.

Ao analisar o quanto da área total urbanizada é ocupada por favelas, Manaus, Belém e Salvador se destacam. Isso considerando os agrupamentos formados após 1985. O Rio de Janeiro, por exemplo, continua tendo a maior favela da América Latina, a Rocinha, com 838 mil metros quadrados.

Áreas de risco

A expansão urbana vista por satélites aponta que 13% ocupações ocorreram em áreas de preservação ambiental (APPs), destruindo grande parte do bioma natural e colocando a população em risco. “Alguns locais estão sujeitos a enchentes, desabamentos. Esse mapeamento é importante até para a segurança da população”, completa Júlio Cesar Pedrassoli.

As imagens de satélite disponíveis na MapBiomas mostram ocupações em locais com declive maior que 30%, ou seja, mais sujeitos a deslizamentos. Eles estão localizados, predominantemente, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo.

As residências instaladas nessas áreas têm padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais (água, esgoto e coleta de lixo regulares, por exemplo) e risco de deslizamentos, enchentes ou alagamentos.

“A combinação desses dois dados deve acender uma luz amarela para os gestores públicos, porque eles criam as condições perfeitas para desastres urbanos”, explica Júlio Cesar Pedrassoli.


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