20/04/2024 - Edição 540

Viver Bem

A ascensão do whey

Publicado em 26/02/2015 12:00 -

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Sucesso entre os frequentadores de academia, o whey protein, proteína em pó extraída do soro do leite, passou a ser adicionado a sorvetes, macarrões, brigadeiros e até hambúrgueres.

Antonio Andreatti, inventor do "hambúrguer maromba", feito com frango turbinado com whey, orgulha-se dos 115 gramas de proteína no produto, que acompanha chips de, claro, batata-doce –alimento comum no prato daqueles que querem ganhar músculos. Ele garante que o sabor do produto, vendido em um restaurante de Curitiba, é idêntico ao do hambúrguer de frango normal.

O mercado surge em função da existência de um público cativo consumidor de whey. É o caso da empresária Gabriella Alexandre, 27. "É dedicação integral, tomo de domingo a domingo." Gabriella começou a malhar há sete anos e toma whey há seis.

"As academias vendem, e todo mundo fala disso", diz Keoma Ismael Vianna, 25, funcionário de uma cafeteria, que toma whey há três anos.

O nutrólogo Celso Cukier apoia o uso, mas com algumas restrições. Consumir proteína (e carboidrato) no período pós-exercício é importante porque os nutrientes gastos durante o exercício precisam ser repostos.

O excesso de proteína, porém, sobrecarrega os rins, o que pode levar à produção de cálculos renais. Em pessoas que já têm predisposição, esse trabalho extra pode ocasionar lesões sérias, até perda das funções renais.

Já Daniel Magnoni, diretor de nutrição do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, diz que suplementos são um grande avanço da medicina, mas que só devem ser utilizados quando há carência comprovada de nutrientes.

Opinião parecida tem Nabil Ghorayeb, médico do esporte do Hospital do Coração.

Ele afirma que tais suplementos, na maior parte das vezes, são desnecessários. "É possível obter os nutrientes da alimentação." Ele lembra ainda que instrutores de academia não deveriam prescrever suplementos, embora isso seja comum.

Um indivíduo necessita de 1 g a 1,7 g de proteína por quilo, dependendo das atividades que pratica. Mais do que isso não é recomendável. "Às vezes, é um desperdício de dinheiro", afirma Cukier.

O produto não é barato. O preço depende da versão, pois os potes variam em quantidade de carboidrato e no tamanho das proteínas – quanto menor, mais rapidamente ela será absorvida. Um pote de 900 g do whey mais puro custa de R$ 90 a R$ 200.

Os consumidores de whey têm ainda de encarar outra dificuldade: os potes nem sempre contêm o que o rótulo diz. A ONG Proteste testou 30 marcas e só um terço deles tinha quantidades de proteína e carboidrato conforme o indicado – as variações eram maiores do que 20%, limite estabelecido pela Anvisa.

"Já senti, em algumas marcas, que tinha mais carboidrato do que o informado. É mais doce e acabei engordando", diz Gabriella.

A Anvisa disse aguardar os laudos da Proteste para realizar seus próprios testes.

Suplementos não devem ser confundidos com os anabolizantes. Estes são hormônios ou substâncias com efeito hormonal, que afetam o organismo e vão potencializar o aumento da massa muscular.

"Sempre rola aquele preconceito. Quando comecei a tomar whey, minha mãe ficou preocupada. Não podia ficar gripado que a culpa era das 'bombas' que tomava", afirma o funcionário da área de vendas Vinícius Cerratto, 20, que toma whey há quatro anos. Hoje, sua mãe, de 43, também toma – e frequenta a academia.


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