25/04/2024 - Edição 540

Brasil

Com mais gente na informalidade, desemprego para de subir e rendimento cai

Publicado em 28/10/2021 12:00 -

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A taxa de desemprego no Brasil parou de crescer, devido, em boa parte, ao mercado informal. O aumento no número de ocupados no trimestre encerrado em agosto vem principalmente do trabalho sem carteira (com as maiores altas da série histórica) ou por conta própria. Com empregos mais precários, o rendimento diminuiu, também com recorde. Os dados estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada no último dia 27 pelo IBGE.

Assim, a taxa média foi a 13,2%, ante 14,6% em maio e 14,4% há um ano. Esse percentual equivale a uma estimativa de 13,656 milhões de desempregados – menos 1,139 milhão no trimestre (-7,7%) e praticamente estável em relação a agosto do ano passado (-1%).

De acordo com a pesquisa, o número de ocupados chega a 90,188 milhões. São 3,480 milhões a mais no trimestre, crescimento de 4%. O emprego com carteira no setor privado cresceu 4,2% e o sem carteira, 10,1%. Já o autônomo subiu 4,3%.

A diferença fica mais visível na comparação anual. Em relação a agosto de 2020, o mercado de trabalho tem 8,522 milhões de ocupados a mais, alta de 10,4%. Mas enquanto o emprego com carteira sobe 6,8%, o sem carteira aumenta 23,3%. E o trabalho por conta própria cresce 18,1%: esse contingente de autônomos é agora de 25,409 milhões, também o maior da série da Pnad.

Assim, segundo o IBGE, a taxa de informalidade foi a 41,1% da população ocupada, ou 37,1 milhões de trabalhadores. Tinha sido de 40% no trimestre anterior e 38% há um ano.

Em um ano, rendimento cai 10%

A chamada subutilização, que compreende pessoas que gostariam de trabalhar mais, teve taxa de 27,4%, caindo na comparação trimestral e anual. Agora, são 31,135 milhões. Já o numero de desalentados, que também diminuiu, soma 5,343 milhões, o equivalente a 4,9% da força de trabalho.

O número de trabalhadores domésticos (5,578 milhões), setor com mais informalidade, cresceu 9,9% em um trimestre e 21,2% em um ano. Nos dois casos, variações recordes. Quase 75% desses trabalhadores não têm registro em carteira.

Estimado em R$ 2.489, o rendimento médio caiu 4,3% no trimestre. Na comparação com 2020, a queda é ainda maior: 10,2%. Também foram retrações recordes. A massa de rendimentos (R$ 219,164 bilhões) ficou estável.

Em 2021 vai ser pior

A perda de horas de trabalho em 2021 por causa da pandemia será significativamente maior do que o estimado anteriormente. Em dados publicados no último dia 27, a Organização Internacional do Trabalho revela que a economia mundial vive uma recuperação a duas velocidades, diante da falta de vacinas nos países pobres.

No Brasil, a OIT estima que serão perdidos o equivalente a 4,2 milhões de postos de trabalho, contra uma destruição de 11,8 milhões em 2020.

A projeção é de que as horas de trabalho no mundo em 2021 estará 4,3% abaixo dos níveis pré- pandêmicos (o quarto trimestre de 2019), o equivalente a 125 milhões de empregos em tempo integral. "Isso representa uma revisão dramática da projeção de junho da OIT de 3,5% ou 100 milhões de empregos em tempo integral", explicou a entidade.

No Brasil, em 2021, as horas de trabalho estarão 5,6% abaixo dos níveis prévios à pandemia e numa situação pior que a média mundial.

Sem apoio financeiro, a OIT estima que o mundo verá uma disparidade nas tendências de recuperação do emprego entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

No terceiro trimestre de 2021, o total de horas trabalhadas nos países de alta renda foi 3,6% menor do que no quarto trimestre de 2019. Em contraste, a diferença nos países de baixa renda era de 5,7% e nos países de renda média baixa, de 7,3%.

Europa e a Ásia Central experimentaram a menor perda de horas trabalhadas, em comparação com os níveis pré-pandêmicos (2,5%). Já as Américas apresentaram quedas de 5,4%.

"Essa grande divergência é em grande parte motivada pelas grandes diferenças no lançamento de vacinas e pacotes de estímulo fiscal", alerta.

Para a OIT, vacina gera postos de trabalho. "As estimativas indicam que para cada 14 pessoas totalmente vacinadas no segundo trimestre de 2021, um emprego equivalente em tempo integral foi adicionado ao mercado de trabalho global. Isto impulsionou substancialmente a recuperação", diz.

Sem vacinas, a OIT estima que as perdas em horas trabalhadas teriam sido de 6% no segundo trimestre de 2021, ao invés dos 4,8% efetivamente registrados.

Mas, com uma profunda desigualdade na distribuição de vacinas, o número global esconde amplas disparidades. O avanço foi insignificante nos países de renda média baixa e quase zero nos países de baixa renda.

"Estes desequilíbrios poderiam ser enfrentados rápida e efetivamente através de uma maior solidariedade global no que diz respeito às vacinas", defende.

A OIT estima que se os países de baixa renda tivessem um acesso mais equitativo às vacinas, a recuperação do horário de trabalho alcançaria as economias mais ricas em pouco mais de um trimestre.

Além de vacinas, pacotes financeiros

Para a OIT, os pacotes de estímulo fiscal continuaram a ser o outro fator nas trajetórias de recuperação. No entanto, a lacuna do estímulo fiscal permanece em grande parte sem resposta, com cerca de 86% das medidas de estímulo global concentradas em países de alta renda.

"As estimativas mostram que, em média, um aumento do estímulo fiscal de 1% do PIB anual aumentou as horas de trabalho anuais em 0,3 pontos percentuais em relação ao último trimestre de 2019", diz.

Diferença de produtividade e empresas

A OIT ainda aponta como a pandemia também impactou a produtividade, os trabalhadores e as empresas de formas que levaram a maiores disparidades entre países ricos e pobres.

"A diferença de produtividade entre os países avançados e os países em desenvolvimento deverá aumentar de 17,5: 1 para 18:1 em termos reais, a maior registrada desde 2005", constata.

"A atual trajetória dos mercados de trabalho é de uma recuperação estagnada, com grandes riscos de queda e uma grande divergência entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento" disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder. "Dramaticamente, a distribuição desigual de vacinas e as capacidades fiscais estão impulsionando estas tendências e ambas precisam ser abordadas urgentemente", completou.


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