25/04/2024 - Edição 540

Poder

O tempo dá a razão a Lula

Publicado em 22/10/2021 12:00 -

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Um ano antes das eleições presidenciais no Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o caminho livre para a batalha contra o presidente Jair Bolsonaro, de extrema direita. Lula recuperou seus direitos políticos em março, quando o Supremo Tribunal Federal anulou as duas condenações por corrupção que mantiveram o dirigente do Partido dos Trabalhadores preso por 19 meses e que, por decisão da mesma corte, o impediram de enfrentar Bolsonaro nas urnas em 2018. A anulação das sentenças foi seguida por outra decisão judicial de amplo alcance, que considerou que o juiz Sergio Moro não foi imparcial no julgamento de Lula. Essa sentença teve um efeito cascata cristalizado em uma série de decisões judiciais que nos últimos meses levaram ao encerramento de praticamente todos os processos contra o homem que presidiu o Brasil de 2003 a 2011. Ele só tem um processo penal aberto, segundo sua defesa.

O tempo está provando que Lula estava certo em dois aspectos: sempre proclamou sua inocência e sua confiança na Justiça brasileira. E sempre se considerou vítima de uma perseguição judicial no âmbito da Operação Lava Jato, investigação de lavagem de dinheiro que acabou revelando subornos da Petrobras em quatro países. Mais especificamente, Lula denunciou ser uma presa do juiz Moro, cuja atuação parcial ficou demonstrada por seus pares.

A não ser que ocorra uma grande surpresa, tanto Lula como Bolsonaro serão candidatos nas eleições de dois turnos marcadas para outubro de 2022. O dirigente do PT lidera as pesquisas com folga, mas é improvável que os votos da esquerda consigam por si sós derrotar o extremista Bolsonaro. Lula precisa forjar uma aliança ampla como aquela que lhe deu sua primeira vitória eleitoral, em sua quarta tentativa, há quase duas décadas. Tem a seu favor a erosão de Bolsonaro pelas 600.000 mortes que a covid-19 deixou no Brasil e a crise econômica.

O relatório da CPI da Pandemia, apresentado nesta semana no Senado brasileiro, recomenda que o presidente seja indiciado por crimes contra a humanidade pela gestão da pandemia. Mas Lula tem contra si o receio de boa parte da elite e da mídia, além das restrições por causa da pandemia. Se Bolsonaro reina nas redes sociais, o habitat natural de Lula é o contato direto com os eleitores, os comícios e os abraços.

Muitos brasileiros se arrependeram de ter votado no militar reformado, mas isso não significa vontade de apoiar o Partido dos Trabalhadores dentro de um ano, embora o ódio a Lula e seu partido perca força à medida que o antibolsonarismo avança. Lula, que ao longo de sua carreira tem se mostrado um bom estrategista, terá que agir com cuidado para construir uma coalizão que dilua a rejeição que ainda desperta e unificar forças suficientes para transformar a presidência do populista de extrema direita Jair Bolsonaro em um pesadelo passageiro.

Lula: “é hora de construir a união dos setores progressistas”

O ex-presidente Lula afirmou durante entrevista à rádio A Tarde, de Salvador (BA), no último dia 20, que é preciso trabalhar para construir a união dos setores progressistas contra o presidente Jair Bolsonaro.

“Sou defensor da ideia de que é normal que cada partido queira ter seu candidato, mas os setores progressistas podem se unificar em torno da construção de um programa que priorize a questão social”, afirmou.

Lula voltou a dizer que ainda não definiu sua candidatura. Para ele, “não é momento de priorizar as eleições de 2022. Ainda estamos nos recuperando de uma pandemia que ceifou a vida mais de 600 mil pessoas, deixou milhares de órfãos. A fome e o desemprego castigando a vida do povo. Vou deixar pra definir candidatura lá pra fevereiro/março”.

Desaprovação de Bolsonaro sobe e chega a 53%, diz nova pesquisa

O governo Bolsonaro é desaprovado por 53% dos brasileiros, revelou a pesquisa Exame/Ideia divulgada nesta sexta-feira (22).

De acordo com o levantamento, 23% consideram a gestão boa ou ótima e 21% classificam como regular. O recorde de desaprovação foi registrado em julho, quando 57% avaliaram o governo negativamente.

“Aprovação de Jair Bolsonaro, apesar de bastante resiliente na casa de 25%, no histórico é bastante inferior aos pares dele que conseguiram a reeleição no Brasil pós-redemocratização, como Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Bolsonaro tem duas variáveis bastante preocupantes para uma possível reeleição: forte rejeição refletida no avaliação ruim, e baixa aprovação”, afirmou Maurício Moura, fundador do IDEIA, à revista Exame.

A pesquisa ainda mostra que 54% dos brasileiros desaprovam a forma como o presidente está lidando com o trabalho. Por outro lado, 23% aprovam.


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