Poder
Publicado em 15/10/2021 12:00 -
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A maior distância do universo para um gestor público é aquela que começa nos erros cometidos no pedaço da gestão que já passou e termina nas promessas de acertos futuros insuscetíveis de checagem. Às voltas com essa travessia entre os erros palpáveis que não admite ter cometido e os acertos imateriais que não sabe se cometerá, Paulo Guedes voou para os Estados Unidos. E aterrissou no mundo da Lua.
O ministro da Economia concedeu um par de entrevistas à CNN Internacional e à Bloomberg. Em ambas, falou sobre um Brasil desconhecido dos brasileiros. Alheio aos mais de 600 mil mortos por Covid, disse que o governo não errou na pandemia.
No Brasil de Guedes, 90% dos cidadãos já receberam uma dose de vacina; 60% estão totalmente imunizados. No país real, apenas 70% encontram-se parcialmente vacinados; 46,7% receberam duas doses de vacina.
Na realidade alternativa de Guedes, a tragédia sanitária é "ruído político". As reformas estruturais e a privatização fazem do Brasil a maior fronteira de investimento do mundo.
Vem aí, segundo Guedes, um plano bilionário para o meio ambiente. E um programa de renda mínima capaz de livrar os brasileiros pobres dos efeitos corrosivos da inflação dos alimentos e da conta de luz.
O ministro prometera zerar o déficit orçamentário no primeiro ano de governo. Hoje, pedala as dívidas judiciais. Dissera que desindexaria e desvincularia o Orçamento da União. Indexou-se ao orçamento secreto do centrão e vinculou-se ao comitê eleitoral de Bolsonaro. Acenara com o desenvolvimento. Entregou carestia.
Toda vez que Guedes fala sobre o futuro radioso de 2022, as pessoas se perguntam que fim levou 2019, futuro da campanha de 2018; ou 2021, futuro de 2019 e 2020.
É difícil ouvir o Posto Ipiranga falando sobre a pujança do Brasil sem reprimir uma espécie de sorriso interior. É como se uma voz no fundo da consciência dos brasileiros avisasse: "Cuidado, trata-se de um farsante, que mantém parte da fortuna a salvo de sua própria inépcia num paraíso fiscal caribenho".
Subiu no telhado
O ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida negou que tenha sido convidado para uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de vir a suceder Paulo Guedes como ministro da Economia. E aí? E aí? O que significa.
Se Mansueto não estiver mentindo, primeiro que ele não foi chamado para conversar com Bolsonaro. Segundo, que se for convidado certamente irá, o que não quer dizer que será convidado nem que aceitará o convite. Terceiro, que Guedes subiu no telhado.
Pode não despencar lá de cima. Pode descer devagarzinho, e é vida que segue, embora mais fraco. Guedes aproveitou o feriadão para espairecer nos Estados Unidos. No momento, por lá ele sente-se mais à vontade, domina o inglês e fica a salvo de incômodos.
Ficou mal com a descoberta da conta em paraíso fiscal onde esconde um naco de sua fortuna para não ter de pagar impostos. O plenário da Câmara dos Deputados quer ouvi-lo a respeito. Saliva a boca do Centrão ante a chance de faturar mais um pouco com isso.
Sem desrespeito a Deus, o destino de Guedes pertence a Bolsonaro e a mais ninguém. Se o ministro fizer tudo o que o presidente mandar para ajudá-lo a se reeleger, por que trocá-lo quando só restam 14 meses para o fim do governo?
Essa é a condição para ficar.
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