Poder
Publicado em 15/10/2021 12:00 -
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O relatório final da CPI da Covid, a ser apresentado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) na próxima terça-feira (19), deverá pedir indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por 11 crimes. Veja quais:
A CPI entra agora em seus últimos dias, depois de mais de 5 meses de funcionamento. A expectativa é que o relatório seja votado na quarta-feira (20), um dia após ser lido por Renan.
Em seguida, o texto será enviado ao Ministério Público, responsável por decidir se leva adiante ou não os pedidos de indiciamento feitos pela comissão. É ao MP que cabe apresentar uma denúncia formal ao Judiciário.
No caso de Jair Bolsonaro, o indiciamento precisa ser apresentado à Procuradoria-Geral da República (PGR) – que, pela Constituição, tem a prerrogativa de protocolar ações penais contra o presidente.
Inferno
Às vésperas do encerramento da CPI da Covid, o grupo majoritário da comissão encontrou uma forma de evitar que caiam no esquecimento pedidos de indiciamentos e as propostas de aperfeiçoamento legislativo que constarão do relatório final. Decidiu-se compor um comitê pós-CPI, um observatório para o acompanhar os desdobramentos da investigação parlamentar. Para desassossego de Bolsonaro, as cobranças invadirão o calendário eleitoral de 2022.
Desmontado o palco da CPI, Bolsonaro espera realizar o sonho da blindagem. Conta com a cumplicidade de Arthur Lira e Augusto Aras. O comitê pós-CPI não abrirá o gavetão em que o presidente da Câmara guarda os pedidos de impeachment. É improvável que o grupo arranque do procurador-geral uma denúncia contra o presidente por crime comum. Mas os senadores podem contribuir para a realização do pesadelo eleitoral de Bolsonaro, encostando os cadáveres da pandemia no comitê da reeleição.
Costuma-se dizer que o brasileiro não tem memória. No caso da pandemia, uma construção trágica, alicerçada sobre mais de 600 mil cadáveres, é remota a hipótese de ocorrer um surto coletivo de esquecimento. Mas o país não está livre de casos pontuais de amnésia. Daí a conveniência de cutucar gente como Lira e Aras.
Quem observou a forma como Bolsonaro se comportou durante a pandemia ficou confuso. Os devotos imaginaram que o presidente tinha uma estratégia capaz de causar inveja aos líderes de países civilizados que se renderam à ciência. Os céticos notaram que o capitão estava numa tática suicida, que empurraria os mortos por covid para dentro da sucessão presidencial de 2022.
Nenhuma das duas alas supunha que a tragédia teria a dimensão de mais de 600 mil covas. Do ponto de vista eleitoral, uma tragédia assim pode ter o peso de uma lápide.
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