Coluna
Mulheres indígenas: um ‘coquetel molotov’ de esperança no futuro
Postado em 16 de Setembro de 2021 - Ricardo Moebus
Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.
Milhares de Mulheres Indígenas representantes de quase duzentos povos originários do Brasil, reuniram-se em Brasília na histórica II Marcha das Mulheres Indígenas, mostrando mais uma vez sua força ancestral, sua determinação, sua potência vital de re-existir na diferença.
Coincidentemente!? a marcha atravessou Brasília na dia 10 de setembro, dia estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Foi em função desta data mundial que estabeleceu-se pelo Ministério da saúde a campanha anual Setembro Amarelo, de prevenção do suicídio.
No último dia 10 a Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade – ANMIGA, lançou seu manifesto para o Brasil e o mundo, um verdadeiro “coquetel molotov” de esperança no futuro, antecipando a primavera que virá, semeando e engravidando a terra de laços de solidariedade.
Seu manifesto: “Reflorestarmentes – de sonhos, afetos, soma, solidariedade, ancestralidade, coletividade, história” é o maior e mais verdadeiro evento para o Setembro Amarelo de todos os tempos.
Elas denunciam nossa sociedade ao mesmo tempo etnocida e suicida, dizendo ali:
“Fazemos isso diante da sobreposição sem precedentes de emergências que vivemos nos tempos de hoje. Em todos os países do planeta, os impactos da crise climática e ambiental associados aos efeitos da maior pandemia da história geram montantes assombrosos de mortos e novas hordas de excluídos e flagelados.”
E trazem uma proposta única e verdadeira de prevenção do suicídio coletivo que vivemos:
“Precisamos construir juntos um trajeto de vida e reconstrução, que se baseie no encontro entre os povos, no cuidado com nossa Terra, na interação positiva de saberes. É isso que propomos com o Reflorestarmentes. É possível vivermos e convivermos de outra forma, com outras epistemes, a partir de cosmologias ancestrais. Cuidar da Mãe Terra é, no fundo, cuidar de nossos próprios corpos e espíritos. Corpo é terra, floresta é mente. Queremos reflorestar as mentes para que elas se somem para prover os cuidados tão necessários com nosso corpo-terra.”
E concluem da forma mais generosa possível:
“Vamos juntas construir o bem-viver e viver bem para todos!
Vamos juntas reflorestar mentes para curar nossa terra!”
Recebam nossas saudações por sua coragem e determinação todas estas mulheres indígenas que nos abraçam com seus corações valentes, que realizaram o primeiro evento no mundo de um Setembro Amarelo, de Prevenção do Suicídio, que possa realmente nos ajudar a superar nossas práticas societárias e civilizatórias de produção necropolítica, de etnocídio, de genocídio e suicídio coletivo.