28/03/2024 - Edição 540

True Colors

Pacote de Maldades

Publicado em 13/02/2015 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Não deixe se enganar pelos cabelos grisalhos e olhar perdido. Eduardo Cunha de bom velhinho não tem nada.

Cunha é a materialização do conservadorismo que tanto se teme na política brasileira. É um dos líderes da chamada bancada evangélica do Congresso Nacional, que contabiliza cerca de 80 deputados. Ele também é um dos nomes fortes por trás da igreja neopentecostal Sarah Nossa Terra e autor do bizarro projeto de lei que visa instituir o Dia do Orgulho Hétero.

Atual presidente da Câmara dos Deputados, Cunha pertence ao quadro de políticos do PMDB no Rio de Janeiro. Foi eleito deputado federal com quase 233 mil votos, cerca de 3,6% do total de votos de seu estado. É poderoso. Por seu atual cargo, concentra a decisão de barrar a votação de quaisquer projetos que poderão ir à votação na Câmara.

E já deu o recado de que não ocupa a posição por ocupar: matérias que envolvam criminalização da homotransfobia, legalização do aborto e outras matérias de cunha social só serão votadas “por cima de seu cadáver”, segundo o parlamentar. Cunha é arrogante e extremamente antidemocrático.

O retrocesso defendido por Cunha, na verdade, já está em pauta. Em menos de um mês em exercício da função de presidente, o deputado já desarquivou o projeto de lei que visa instituir o dia do Orgulho Hétero, como o fim de intimidar a militância LGBT que luta pela criminalização da homotransfobia. Também já foi autorizada por ele a retomada de uma comissão especial que legislará sobre o formato de família na sociedade brasileira. É onde mora o perigo, já que o projeto do dia do Orgulho Hétero, por mais que seja uma forma de esvaziar as reivindicações da comunidade LGBT, só garante que pessoas heterossexuais não sejam discriminadas em situações que naturalmente já não são.

Segundo a proposta do apelidado “Estatuto da Família”, defendida pela bancada evangélica, o termo “família” representará apenas o núcleo que compreende as uniões entre diferentes gêneros, homem e mulher. Na prática, dentre outros absurdos, uniões homoafetivas consistiriam em contravenção. A matéria também irá proibir que a adoção de crianças por casais homoafetivos, já que estes não formam família. Para não dizer que a matéria só afronta homossexuais, pessoas solteiras também seriam impedidas de ingressar com pedido de adoção.

Vale lembrar que, atualmente, a adoção por casais homoafetivos não conta com legislação própria. É autorizado por meio de jurisprudências e portarias do Conselho Nacional de Justiça.

O que vale se destacar neste momento é que, com seu pacote de maldades, Cunha revela que tem uma visão distorcida sobre democracia, igualdades, populações em vulnerabilidade e o conceito de Estado Laico. Suas ideias ultraconservadores são agressivas só por serem divulgadas. Levando em conta o poder que atualmente detém, a democracia assume um tom ainda mais sombrio que o atual.

Na Câmara, a aprovação de projetos de leis, emendas e outras matérias funciona de forma obscura. Normalmente, é preciso ceder um pouco para conseguir um pouco. Explico. Para a aprovação de um determinado projeto, é extremamente comum que os partidos promovam alianças numa espécie de qui pro quo, “uma mão lava a outra”, em bom português. A bancada evangélica tem expertise nisso.

Os entraves que impossibilitam a votação da PLC 122, que criminaliza a homofobia (infelizmente a transfobia não é adequadamente contemplada no projeto), é um dos grandes exemplos destes acordos. As retiradas de apoio à matéria, em suas várias tentativas de votação no Congresso (a matéria nunca conseguiu ir a plenário na Câmara) se explicam dessa maneira.

Com o poder de decidir o que vai ou não a plenário, Cunha se torna uma espécie de deus. Torna-se onipotente, até que seu calcanhar de Aquiles seja exposto. O problema é que o deputado já foi investigado diversas vezes, tanto por envolvimento com tráfico internacional de drogas como por falsificação de documentos e desvio de recursos públicos.

Se nem com isso ele caiu, é preciso descobrir uma vulnerabilidade realmente surpreendente.

Uma possibilidade a ser explorada é o desgaste junto a seus eleitores, mas Cunha defende justamente o que essas centenas de milhares acreditam – ele representa mais de 200 mil votos e ideias tresloucadas do fundamentalismo cristão que só cresce a cada dia no país.

Oposição contundente à suas ações, em tese, também fariam parte da equação, muito embora o exemplo que podemos observar é sempre no sentido oposto, onde os partidos políticos mais densamente organizados e os conglomerados da mídia orquestram esmagamento das ideias progressistas na política brasileira.

Aliás, Eduardo Cunha também é contra à proposta de regulamentação da mídia mencionada durante a campanha presidencial. Quer dizer…

Para ler

12 motivos para lamentar Eduardo Cunha na presidência da Câmara – BuzzFeed

7 decisões de Eduardo Cunha que fazem dele o maior inimigo dos LGBT – BuzzFeed

Eduardo Cunha e a Câmara dos Bons costumes da Ditadura –  Virginia Guitzel

 

Madonna no Grammy’s

Deu o que falar a performance da cantora Madonna na 57ª edição do Grammy’s, o “Oscar da música”. Foi sensacional, como você pode conferir no vídeo. Mas os haters não perdoaram e distribuíram acusações de que a material girl já não é a mesma, que está velha, que dança mal e que não canta, mas dubla.

Tudo refutável, claro. Além da criatividade como criadora artística do espetáculo, sim, ela dança. E sim, ela está velha, não parece, mas está. A única dúvida que fica é se ela canta ou dubla.

Até que alguém teve a ideia de divulgar um vídeo sincronizado com o som isolado do microfone da cantora e… sim! A apresentação foi inteiramente ao vivo, sem dublagens.

Outras experiências de isolamento vocal de performances de cantoras pop não foram bem sucedidas, mas Madonna deu seu recado como uma excelente cantora, com muito fôlego ainda, apesar de sua “idade”. Quer dizer…

Duvida? Se já viu o vídeo acima, aproveite e veja este aqui embaixo também!

 

Sem camisinha não rola!

Já há alguns anos a True Colors denuncia a ineficácia (ou seria inércia?) do Governo Federal, representado pelo Ministério da Saúde, em relação ao combate ao contágio pelo HIV, que ocorre sobretudo nas relações sexuais desprotegidas.

Essa crítica tem fundamento, já que a população onde mais ocorrem contaminações é de homens que fazem sexo com homens, de 15 a 24 anos. Somado a isso, temos o lobby religioso do nosso Congresso Nacional (ele, de novo!) para engavetamento das campanhas direcionadas ao público LGBT.

E como cada um tem que fazer sua parte nesta luta contra o HIV, o deputado Jean Willys (Psol-RJ) está promovendo uma campanha educativa nas redes sociais, que consiste na produção e compartilhamento de vídeos educativos, mas com o diferencial de não serem “higienizados”, ou seja, são realmente direcionados ao público mais vulnerável desta equação: a comunidade LGBT e profissionais do sexo.

Para realizar a campanha, a equipe de Willys trabalhou em parceria com o coletivo Fora do Eixo. Ao todo, foram feitos três vídeos, sendo que dois já estão aí para você conferir. Há, também, cinco histórias em quadrinhos, que estão sendo gradualmente postadas no facebook do parlamentar.

Para conferir todo o material, curta a fanpage de Jean Wyllys no Facebook. Boa folia, com camisinha sempre!

Conhecendo no Portão

Piscina

OBS: está rolando um debate pesado sobre a representação das travestis e transexuais com base no vídeo "conhecendo no portão". Qual sua opinião sobre a forma como a comunidade T está representada no vídeo?

Leia outros artigos da coluna: True Colors

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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