18/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Um ano de impertinência

Publicado em 08/09/2021 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Há um ano, em 9 de setembro de 2020, era publicada minha primeira coluna aqui na Revista Semana On.

Tudo começou com uma mensagem do Victor Barone alguns dias antes me perguntando o que eu acharia de ter minhas publicações do Facebook transformadas em uma coluna semanal na revista. Achei a ideia excelente. Não apenas uma forma de organizar minhas postagens, como também de dar maior publicidade. E tendo destaque em uma casa que não poderia ser melhor.

O tempo passou – e rápido – e a coluna chega ao seu primeiro ano enquanto eu tento fazer uma Ponte Aérea entre os assuntos mais atuais do Brasil e o público leitor da revista – e também entre mim, que vivo na Bélgica, e o Brasil, o principal assunto de minha coluna e meus artigos para a mídia internacional.

Em algumas semanas consigo produzir mais conteúdo, em outras, infelizmente, o Barone tem que desdobrar para salvar alguma coisa – meu trabalho como freelancer me ocupa muito mais tempo do que gostaria.

Analisando minhas (já) várias colunas, a preponderância de temas indigestos, como o bolsonarismo e sua tentativa de destruir o Brasil, o identitarismo que tem destruído por dentro a esquerda (e ironicamente dificultando o combate ao bolsonarismo) e, claro, minhas críticas à esquerda não só pelo identitarismo, mas pela aceitação do stalinismo e insistência em apostar no PT como real alternativa a, bem, qualquer coisa.

São temas que tenho debatido há anos, sempre com uma perspectiva crítica e de esquerda, mas sem cair nos lugares-comuns e nunca me deixando levar pelo canto da sereia – ou, no caso, do sapo barbudo. E, claro, nunca arrefecendo na oposição à extrema-direita que apesar de se tornar uma força cada vez mais minguante nas pesquisas, continua sendo uma tremenda ameaça à sobrevivência da democracia do país – muito graças à inação das instituições que historicamente serviram para controlar os mais pobres e não moderar os poderosos.

É triste contatar que em um ano, apesar de uma certa variedade de assuntos, os principais tópicos discutidos permaneceram os mesmos – e que a situação global parece ter piorado.

Mas seguimos na nossa tarefa de tentar fazer alguma diferença, promovendo debates, reflexão e, principalmente, tentando fazer a esquerda dialogar e repensar seu papel e como tem se colocado e posicionado diante dos novos desafios.

Como jornalista, me cabe a tarefa de escrever e é o que seguirei fazendo neste espaço.

DECOLONIAL

Teoria ou pensamento decolonial tem (ou teve) seus méritos. Uma forma de pensar "desde abajo", buscando trazer para a perspectiva (latino)americana a análise sobre a história e as ciências sociais da região sem o "approach" europeu.

Ou seja, uma forma dos povos que foram colonizados tentarem entender a colonização (e sua continuidade enquanto imperialismo) com uma perspectiva própria. Tem sua validade e muitos pontos interessantes.

Isso no passado. Hoje (e há algum tem), o decolonialismo virou desculpa para desocupado escrever qualquer besteira buscando se vitimizar. A nova é tentar transformar os astecas em pobres vítimas (esquecendo que os espanhóis contaram com o apoio de vários outros povos submetidos aos Astecas, que eram incrivelmente opressores e detestados).

Não se trata de passar pano para os espanhóis, pelo contrário. Trata-se de ser inteligência, ter método, compreender e usar a ciência e, bem, até o senso comum, para entender que a dicotomia opressores versus oprimidos só serve em slogans políticos e não corresponde à realidade. As relações sociais e a história são MUITO mais complexas do que compreendem (sic) os identitários e a turma metida a progressista.

Decolonialismo é muito semelhante ao conceito-moda dos identitários, o "lugar de fala". Não é que não façam qualquer sentido, fazem, mas foram subvertidos e manipulados para servirem como "cala boca" de movimentos ignorantes e radicais.

[Lugar de fala nada mais é que uma perspectiva, uma forma de enxergar. Só isso. Ela é um ponto de partida, mas não de chegada e muito menos o que define a validade ou não de uma análise.]

No fim das contas, o decolonialismo, assim com oa insistente negação da biologia em outros temas, servem apenas para aproximar essa esquerda progressista-identitária de qualquer bolsominion – ambos negam a ciência.

Se é verdade que um lado tenta subverter a ciência para, então desacreditá-la, o outro simplesmente nega e ponto. Há, talvez, uma sofisticação perversa nos identitários, mas o resultado é o mesmo: Desconfiança e negação da ciência, abolição do método científico e a pregação de quaisquer barbaridades – mas com um verniz acadêmico.

Uma coisa é você dizer que a terra é plana, outra é você dizer uqe a terra é plana, mas usar o sagrado feminino e a cosmologia asteca para provar seu ponto – e acusar qualquer um que discorde de ser branco, logo, racista e colonizador.

Essa esquerda identitária e tão ou mais perigosa que qualquer fascista bolsominion com tempo demais para postar besteiras online – até porque está também impregnada na academia e a carcomendo por dentro.

OS BOLSOMINIONS

E os bolsominions já começam a se arrepender de terem ido para Brasília. Tadinhos, né?

É meio impressionante como os caras não conseguem compreender que são mera massa de manobra, descartáveis, gado de abate, pro Bolsonaro. Mas bem, seguem Bolsonaro, então não são realmente capazes de compreender muita coisa.

Uma das características mais marcantes do Bolsonaro é sua incapacidade de ser fiel, de defender os seus, de fazer qualquer coisa para proteger seus seguidores. São todos descartáveis, peças a serem usadas em um tabuleiro em que o presidente sequer endenteu as regras e não tem qualquer estratégia.

Ele grita, ameaça, ataca e pelo caminho vão ficando peças. Até que poucas sobrem. O problema é que enquanto é desidratado, Bolsonaro ameaça mais e mais a democracia brasileira, então o ideal é que seja derrubado logo.

Mas enquanto isso, o gado segue incapaz de entender que não são nada para seu líder.

ÓDIO

O ódio que a galera tem da Miriam Leitão é tão boçal e incompreensível que a atacam até por…. criticar os protestos bolsonaristas!

Eu sou o primeiro a apontar o ridículo da galera identitária que acha que toda crítica a uma mulher é machismo, mas é difícil pensar em outra coisa quando se trata da virulência totalmente nonsense contra a Miriam Leitão.

Na Copa vaiaram a Dilma – a presidente do país -, mas ali era "machismo", "misoginia". Já atacar insistentemente uma jornalista chama-se o que?

Em tempo, faz sentido. Não existe raça mais ressentida que a petista – fora que os caras só posam de anti-bolsonaro, na real Lula tem pavor de impeachment, afinal seguem na vibe do "segundo turno ideal". Quanto pior, melhor pra essa gente.

Olhem o nível dessa corja.

A Miriam Leitão foi brutalmente torturada pela Ditadura, mas os Lulaminions tem a pachorra de duvidar ou de achar que ela "não aprendeu nada".

Lulaminions = Bolsominions. Eu repito isso há anos e sempre encontro mais elementos pra sustentar a tese.

Leia outros artigos da coluna: Ponte Aérea

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *