27/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Quem segue cegamente a opinião pública, acaba abandonado

Publicado em 12/08/2021 12:00 - Rafael Parades

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Foram mais de 500 ligações e mais de 1.000 e-mails para um dos gabinetes de deputados no dia da votação da PEC do voto impresso. Mais de 90% das ligações eram de DDD’s de outros estados que não o de origem do parlamentar daquele gabinete. Ou seja, não eram eleitores daquele deputado apesar de alegarem o contrário. Os militantes do voto impresso também espalharam nos grupos de WhatsApp os números de celular dos parlamentares.

Mesmo cientes de que os reais problemas do Brasil são os 15 milhões de desempregados, as 19 milhões de pessoas passando fome, a inflação em 12 meses do arroz, do feijão, da carne, da gasolina e do gás, muitos parlamentares cederam a pressão. Nas rodinhas de conversa, os deputados assumiam ser contra o voto impresso, confiarem nas urnas eletrônicas, mas votarem contrariamente às suas convicções pela pressão da opinião pública.

A opinião pública não é a maioria numérica, mas sim uma força política como outra qualquer. Ela é um partido, uma religião, um sindicato, uma rede de comunicação, etc. Porém, como teorizou Franklin Martins em seu livro “Jornalismo Político”, a opinião pública tem características específicas. Ela é volúvel, superficial, traiçoeira e infiel.

O debate sobre o voto impresso é uma polêmica artificial. Tudo que é artificial, dos sabores as polêmicas, tende ou a marcar pelo ineditismo, ou a desaparecer pela fragilidade. A segunda opção obedeceria a lógica da realidade, onde os reais problemas do Brasil vão se impor. Caso isso aconteça, a opinião pública muda seu eixo, muda seus agentes e quem votou contra suas convicções pode acabar sozinho.

Foi o que aconteceu com o presidente americano George W. Bush, que surfou na popularidade da sua guerra contra o Iraque em 2003, quando 80% dos americanos aprovavam a invasão daquele país. Porém, em 2006, enfrentou amarga derrota no Congresso Americano, quando apenas 20% de seus compatriotas ainda apoiavam sua política bélica. A opinião pública se movimenta assim, da minoria a minoria em questão de pouco tempo, sem compromisso e sem fidelidade.

Polêmicas frágeis tendem a ser ainda mais substituíveis. Apesar da militância mobilizada, organizada e barulhenta é pouco provável que a maioria da população brasileira está preocupada com voto impresso. A maioria está silenciosa e prestigiará a firmeza da convicção em detrimento das bandeiras fixadas na areia.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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