19/04/2024 - Edição 540

Entrevista

Puccinelli avisa que não deve nada à Justiça, descarta ameaça à democracia e diz que população exige seu nome em 2022

Publicado em 06/08/2021 12:00 -

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Se depender do “italiano”, a corrida pelo governo do Estado em 2022 será acirrada. Depois de um inferno astral que culminou em duas prisões (e uso de tornozeleira), que o impediu de disputar o pleito de 2018, André Puccinelli (MDB) manda avisar que não há nada que o impeça juridicamente de disputar as eleições no ano que vem. Ele diz que a vontade é do povo: “Não é que eu queira. Estou atendendo um apelo do partido e um apelo da população”. Nesta entrevista, a segunda da série que a Semana On está realizando com os pré-candidatos ao Governo do Estado, Puccinelli também descarta alianças com o que chama de esquerda e direita radicais, mas desconversa sobre se subiria ou não no palanque de Bolsonaro. Para Puccinelli, a democracia não está ameaçada no Brasil. Confira.

 

Seu nome tem aparecido nas pesquisas de intenção de voto de uma forma muito positiva. O senhor é pré-candidato ao Governo do Estado?

O pessoal começou “volta, André, volta, André… O Diretório [Estadual do MDB] me conclamou e nós fizemos reunião há cerca de pouco mais de mês. Simone, os três deputados estaduais, vereadores da Capital, lideranças… “Pô, você gosta do partido, você gosta de nós, você sempre teve simpatia… Lança a pré-candidatura”. Pensei muito e disse: “Bom, eu vou dispor do meu nome como pré-candidato”. Não é que eu queira. Estou atendendo um apelo do partido e um apelo da população, porque me trouxeram uma série de pesquisas mostrando que eu estou à frente de todos os candidatos. Então atendi, sou pré-candidato, e pedi ao partido que construa, eu também junto, as condições para que eu possa, de pré-candidato, me tornar candidato. E quando anunciar? Em tempo oportuno, nesse ano. Antes do Natal teremos essa resposta.  Com 1/5 do valor do dinheiro que o partido diz ser necessário, com os índices de pesquisa como estão, eu disputo bem. Se ganho ou não ganho, bem, não me preocupa. Mas, até agora não perdi nenhuma eleição. Gostaria de não perder e vou me empenhar para ganhar.

O senhor pensou em encerrar a carreira política em 2017?

Eu pensei que tinha encerrado um ciclo, tendo passado por muitos cargos eletivos, de deputado a prefeito, de prefeito a governador, e entregue o estado em boa situação. Tanto é que, desmentindo alguns equívocos dos mal informados de hoje, eu demonstro através de documentos auditados pela gestão seguinte (gestão Reinaldo Azambuja) que entreguei o estado com dinheiro em caixa: R$ 571 milhões, em 2014. Com dinheiro em cada setor para concluir as obras que faltavam. Tanto é que as minhas contas foram aprovadas na integralidade. Para surpresa minha, logo no primeiro mês subsequente, em janeiro de 2015, começaram as críticas ao André [Puccinelli], vindas de parte do governo que eu ajudei a eleger! Apoiamos o Reinaldo [Azambuja] no segundo turno contra o Delcídio.

Não pedi nada a ele, não pedi absolutamente nada. Aliás, eu pedi duas coisas: como não tinha conseguido concluir o Aquário do Pantanal e o campus da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) com o curso próprio de medicina que eu criei, eu pedi: “Reinaldo, quando você terminar, põe uma placa assim… Iniciado no Governo André Puccinelli, concluído no Governo Reinaldo Azambuja”. Não precisava colocar que 95% da UEMS o André que fez. Não precisa por 90% do aquário foi feito pelo André. Não precisa”. Foram essas duas coisas.

Mas, começaram as críticas… Eu fiquei quieto por um tempo. Depois, com documentos na mão, demonstrei que eu tinha entregue o Governo com R$ 571 milhões em caixa, que as obras inacabadas não eram obras inacabadas, mas em andamento com recurso total para terminá-las, em cada rubrica orçamentária. E disse: “quero crer que alguns equívocos estão sendo cometidos por inexperiência de assessores do governador, que ele esteja sendo induzido a erro. Poupei o governador, poupei o nome de quem quer que seja, dizendo que era equívoco, erro, inexperiência, por isso tudo.

Continuaram as críticas, e aí eu resolvi ser candidato [a governador, no ano eleitoral de 2017], para demonstrar… Porém, me cercearam a liberdade, me prenderam. E tem que fazer uma ressalva: a prisão foi sem denúncia formalizada. É ilegal fazer preventiva sem denúncia formalizada e sem ter comprovações, sem ter requisitos que comprovem… Tanto é que fui absolvido por seis a zero, por unanimidade, dizendo que a prisão foi ilegal.

Juridicamente nada lhe impede de ser candidato ao Governo do Estado?

Nada. Não tenho condenação nenhuma. Se a eleição fosse hoje, eu poderia ser candidato. Se a eleição for amanhã, posso ser candidato, porque eu sou inocente, sou ficha limpa. Através dos documentos, vou comprovar, quando acostar de pré-candidato que sou hoje, se me tornar candidato.

A eleição que se aproxima será polarizada no âmbito nacional e, inevitavelmente, no Estado. Quem são, em Mato Grosso do Sul, os aliados preferenciais do André?

Quem se dispõe a ser candidato não pode ter aliado preferencial. Tem que competir contra qualquer adversário – não inimigo, contra adversário. Poder até que pode, mas não se deve ter inimigos na política. Devemos ter adversários, tratar a política como uma questão relevante, tratar os adversários em alto nível, discutir projetos e propostas para o estado, mostrar o que já fez no passado, e dizer as pretensões para o futuro. Mas (este debate) só pós-pandemia. Agora, o importante é cuidarmos dos nossos irmãos, nossos semelhantes. Graças a Deus [a pandemia] está em declínio, não só aqui em MS. Volto a parabenizar o Geraldo Resende e dizer que, pós-pandemia, mais dois meses, esteja morrendo pouca gente. Eu gostaria que não morresse ninguém.

O ex-governador Zeca do PT disse, em entrevista recente, que o campo de aliados que o PT procuraria é amplo, mas que ele não faria aliança com o senhor. Há uma mágoa entre os dois?

Tem que perguntar para ele. Eu me dou bem, ou me dava bem com o Zeca… Depois dessa declaração, parece que ele que não quer se dar bem comigo. Nós fomos deputados estaduais juntos, éramos da bancada de oposição. Eu era deputado de segundo mandato e ele de primeiro. Eu tinha sido secretário de saúde, quando ele precisava atender alguém na área de saúde, eu o auxiliava… Eu não sei. Não sei se é dor de cotovelo da derrota na Prefeitura de Campo Grande… Eu não sei. Porque, se ele foi derrotado por mim na Prefeitura, o povo fez o desagravo e o elegeu governador… Não sei. Eu o perdoo e Deus deve perdoá-lo, que Deus é muito mais magnânimo do que eu, logicamente. Deus o perdoe… Problema dele. Tem que perguntar pra ele porque que ele tem essa birra comigo. Não sei.

Mas o senhor teria aliança com o PT?

Dizem que em política você só não faz aliança com satanás. Quem que é o satanás? Dizem que em política você pode ter aliados, não que se identifiquem e pratiquem exatamente o que o seu estatuto, seu programa de partido, dizem. Mas, por que não ter aliança com centro-esquerda? Centro-esquerda radical eu não faria aliança. Centro-direita radical eu não faria aliança. Centro esquerda suave e centro direita, eu faria aliança, porque a virtude está no centro.

O senhor subiria num palanque com o presidente Jair Bolsonaro?

As eleições nacionais nunca influenciaram demasiadamente Campo Grande. Vou dar um exemplo. Quando o Delcídio, que era um excelente candidato, apoiado pelo Zeca e pelo partido, fez outdoor em Campo Grande inteira: "Lula apoia Delcídio", "Zeca apoia Delcídio". Eu ganhei com tranquilidade. O Delcídio deixou de ser bom candidato naquela época? Não, de maneira nenhuma. Tanto é que ele era considerado imbatível na sucessão, quando ele competiu com o Reinaldo. Volto a dizer, então, que as eleições nacionais não têm tanta influência em MS para eliminar o candidato. "Ah, se você não estiver do lado do Lula, você tá perdido. Se você não estiver do lado do Bolsonaro, tá perdido". Como eu disse, a virtude está no centro. Se os dois não radicalizarem, eu vou dizer: quem quiser votar no Lula que vote. Quem quiser votar no Bolsonaro – que eu acredito que esteja imbuído de boa vontade, mas deixa os filhos falarem demais – vota. Vota no André, vota em quem quiser.

O senhor acha que de alguma forma a democracia no Brasil está ameaçada?

Não, não, não… A democracia está consolidada, eu sou fã da instituição Forças Armadas. Veja só: tirando os excessos – se houve excessos, porque alguns não foram provados – as Forças Armadas imprimiram uma impulsão na infraestrutura do Brasil muito grande. São instituições que nós, como patriotas, devemos reverenciá-las Os excessos existem em todos os setores. Na política, na advocacia, na engenharia, tudo. Mas, as Forças Armadas, como instituição, eu as respeito.

O senhor não acredita que as Forças Armadas embarcariam numa aventura golpista?

Não, não, não. Eu não acredito. A democracia não está ameaçada. Existem os radicais tanto de um lado como do outro. Estes deviam ter consciência de que deveriam ser patriotas e que não deveriam ser radicais. Deveriam pensar no Brasil, e não no seu ego. Eu não creio que a democracia esteja ameaçada.

O que o senhor faria de diferente no Governo do Estado, em comparação com a gestão atual?

Tem um ditado que diz "elogio em boca própria é vitupério". Eu voltaria o MS Canta Brasil, que acabaram. Aconselharia que os prefeitos voltassem a Noite da Seresta, que não se gastava dinheiro nem na Prefeitura e nem no Estado para poder ter valores nossos que foram descobertos aqui em MS… Eu faria mais. Tentaria fazer mais casas. Nós entregamos 62 mil casas, entregamos dinheiro depositado em contratos assinados para construir mais 12 mil, dando 72 mil casas. Não foi feito nem metade do número que eu fiz. Casa gera muito emprego e dá um teto as nossas crianças. E eu faria mais infraestrutura. Fui o governador que mais fez infraestrutura, recapeamento, asfalto. Eu faria mais. Procuraria fazer mais. De diferente, cada um faz a seu estilo e eu iria ao encontro das reivindicações populares, como fiz na Prefeitura. Eu tinha contato das associações de bairro e perguntava: o que vocês querem que faça? Eu dizia para eles escolherem democraticamente o que era prioridade. Eu atenderia as reivindicações populares, advindas das lideranças que representam os municípios.

Mato Grosso do Sul tem economia baseada no agronegócio. Mas, o que falta para se desenvolver outras matrizes econômicas? Qual a estratégia para que isso se torne um fato?

Pensando em geração de empregos advindos não só do agro, mas da indústria, criamos em Campo Grande o Prodes [Programa de Desenvolvimento Econômico Social de Campo Grande], no qual reunimos a Fiems, as associações, as lideranças de empresários e empregados, para que discutíssemos, durante um ano, qual seria a legislação pertinente para que tornássemos Campo Grande, na época, competitiva para atrair indústrias. Programa semelhante nós fizemos no Governo do Estado e investimos especificamente em áreas que gerariam muitos recursos. Então, os diversos setores tem que ter um diferencial pra que o governo possa dar condições de estabelecer, e nós que estamos longe do centro consumidor, temos competitividade suficiente para vencer o valor e o custo do frete para vender nos lugares onde tem muita população. Agora, com essa construção da Rota Bioceânica, juntamente com a ponte que está sendo construída em Porto Murtinho, está dinamizando MS.

A Rota Bioceânica será um diferencial para o Estado…

Grande. Mas veja: no começo do meu governo estudamos 8 projetos estratégicos para o Estado. Um deles era o alcoolduto, porque nós industrializamos esse setor. Tínhamos 11 usinas sucroenergéticas, que produziam mais álcool. Agora, a maioria produz, além de álcool, açúcar, e gera energia. São usinas modernas, que não têm problema de meio ambiente e geram muitos empregos. Passamos de 11 para 25 usinas. Mas, os alcooldutos não vingaram. Nós fizemos os linhões e nos tornamos “bypass” entre o norte e o sul, porque fomos integrados no sistema nacional de energia elétrica. Temos as ferrovias. Nós lutamos muito e agora está saindo a ferrovia que inicialmente tinha sido pensada de Porto Murtinho até Maracaju, de Maracaju a Dourados, de Dourados para Cascavel (PR), de lá para o Porto de Paranaguá. A Ferrovia Norte-Sul tá saindo lá no norte, tá saindo de Aparecida do Taboado. A ferrovia viabiliza frete. Quando tivermos essa ferrovia aqui, vamos ser um estado do Brasil mais competitivo de minério e grãos para os países asiáticos

O que falta para tirar isso do papel?

Ah… Começou em 1950. Agora está na morosidade do poder público. Eu penso assim: um bilhão de bocas para comer na China, 1 bilhão na Índia. Mais Japão, mais Coreia do Norte. Quando vão acabar as bocas para comer toda a produção que tem aqui? E nós ficamos 7 mil km de Cabotagem, mais perto dos portos. Com esse projeto, Mato Grosso do Sul vai ser o estado mais competitivo de todos os estados do Centro Oeste que produzem grãos e carne. E nós vamos ser o celeiro para aplacar a fome do mundo. Quando chegarmos com a bioceânica aos portos do Chile e do Peru, teremos exportação para o mundo. Vamos ganhar em competitividade em relação a MT, GO, MG, SP e PR. Nosso estado está fadado, nos próximos 50 anos, a ser um dos maiores em termos econômicos em termos de PIB, e um dos melhores estados para se morar no Brasil. Nossa Campo Grande é uma das cidades mais bonitas do país, mais arborizada, fotografia bonita, uma miscigenação de raças.

O senhor foi muito criticado por investir no Aquário. Se arrepende?

Olha, no último ano do Zeca, ele aplicou R$ 233 milhões em saúde. Eu, em 2007, apliquei mais de R$ 800 milhões. Então, nunca faltou dinheiro para a saúde. Não faltou dinheiro para segurança e para educação, e ainda tinha dinheiro para terminar a obra do Aquário. Essa obra tem quatro laboratórios. Deixei contrato assinado e a Cataratas do Iguaçu ganhou licitação para gerir o Aquário do Pantanal. A entrada seria R$ 34. Esse valor tinha que dar R$ 0,05 para o Governo do Estado e pagar custeio dos quatro laboratórios para estudar a ictiofauna pantaneira, que seriam tocados pela Embrapa Pantanal, mas geridos pela UEMS. Dois países, entre eles a Itália, por meio da Universidade de Turim, tinham feito convênio conosco para serem cidades-gêmeas com Campo Grande e tocarem as pesquisas. Veio uma delegação de Okinawa, no Japão. Fizemos convênio. Mas, o mais importante é que nós íamos nos apropriar da “grife Pantanal”. O cara ia para MT ver o aquário e ia ver que o aquário é em MS, e ia aprender que MS existe. Nós íamos nos apropriar dessa grife. Mato Grosso do Sul é o Estado do Pantanal, como o Zeca quis tentar, mas a população não quis. Também estava no contrato que aos fins de semana, dois ônibus de prefeituras de MS poderiam trazer crianças de escolas públicas para visitar o Aquário de graça. Tinha até estacionamento previsto para essa demanda. Tudo isso para incutir na pessoa o sentimento de que o Pantanal é nosso, 67% dele está aqui. Tudo isso ajudaria a nos tornar conhecidos no mundo como a grife Pantanal é de MS. Essa era a minha intenção. Esse plano não se perde, só que agora precisa de mais dinheiro. Quem é que deixou as coisas estragarem e agora precisa gastar mais? Se eu de pré-candidato me tornar candidato, e se me eleger, se até lá ele (Reinaldo) não tiver terminado [a obra], eu termino essa m****.

O que o senhor diria aos sul-mato-grossenses nesse momento?

Vamos nos orgulhar do nosso estado. É um estado de dádivas. Um dos melhores, senão o melhor. E ninguém bate Campo Grande, nenhuma das outras 26 capitais. É a cidade mais arborizada, mais bonita, a Capital dos Ipês.


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