24/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Fenômenos naturais ou a elite brasileira, qual você prefere?

Publicado em 05/08/2021 12:00 - Rafael Paredes

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Há uma brincadeira na sabedoria popular que conta a história de que quando Deus estava criando o Brasil, poupou o país de grandes desastres naturais como terremotos e vulcões, porém, para compensar, deu a nação uma elite…

Desde a filosofia grega, espera-se das elites de uma determinada coletividade saídas e respostas para as demandas públicas. Deveria surgir das elites um espírito público elevado e virtuoso a conduzir para o caminho da ética, da justiça e da democracia… não no Brasil.

Ser o país com a mais longeva escravatura da história moderna fez muito mal ao Brasil. A elite brasileira é um problema sociológico e provoca uma devastação continuada ao contrário das emergências resultantes de uma erupção vulcânica ou um maremoto.

A última pesquisa Quaest Consultoria demonstrou que nas últimas semanas, a camada de maior renda no país que aprova o governo do presidente Jair Bolsonaro passou de 27% para 41%. A desaprovação caiu quase 10%. Por que dessa melhora na imagem do presidente? Não sei.

Esse crescimento na aprovação do Governo Federal entre os mais abastados não afeta muito numericamente as pesquisas. O número de riscos em um dos países mais desiguais do mundo é pequenininho.

A elite brasileira vive em uma bolha que nem a pandemia conseguiu afetar. A FGV realizou em 2020 uma pesquisa para identificar o nível de felicidade dos brasileiros. Em uma escala de 0 a 10, os brasileiros mais pobres ficaram 0,8 menos felizes no decorrer da pandemia. Natural um crescimento da infelicidade mediante a maior crise sanitária enfrentada pela humanidade nos últimos 100 anos e suas consequências. Já entre os mais ricos a variação foi positiva em 0,1.

A elite brasileira é estanque e não muda há 500 anos. É uma casta inviolável que faz qualquer negócio para conservar o estado de coisas, para cristalizar as estruturas políticas, sociais e econômicas. Para o filósofo italiano Norberto Bobbio (1909 – 2004), é o desejo de manutenção dessas estruturas que caracteriza o espectro político de direita. Quanto mais radicalizado esse desejo de conservação, mais à direita está a força política.

A elite brasileira não investe no país, não dá sua parcela de sacrifício, não aumenta seu parque industrial, faz qualquer negócio para manter a filha estudando no Canadá. A elite brasileira é radical em manter seu status. A elite brasileira é de extrema direita e o atual governo a representa muito bem.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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