24/04/2024 - Edição 540

Saúde

Metade dos hospitalizados por Covid-19 desenvolve complicações, diz estudo

Publicado em 16/07/2021 12:00 -

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Quadros graves de Covid-19 podem levar a complicações renais, respiratórias, sistêmicas e de outros órgãos. Esses agravamentos, ao que tudo indica, não são incomuns: eles foram os mais recorrentes entre 70 mil pessoas avaliadas em um novo estudo, que estima que um em cada dois pacientes hospitalizados tenha ao menos uma complicação decorrente da infecção pelo Sars-CoV-2.

A pesquisa, publicada no último dia 15 no periódico The Lancet, contou com a participação de voluntários com mais de 19 anos, que estavam internados com Covid-19 grave confirmada ou altamente suspeita, em 302 hospitais do Reino Unido. Do total, metade desenvolveu uma ou mais complicações ao longo da hospitalização.

Os pacientes foram acompanhados entre 17 de janeiro e 4 de agosto de 2020, antes que houvesse vacinação amplamente disponível. Quase um em cada três participantes do estudo (32%) morreu. Entre os sobreviventes, 44% tiveram problemas secundários à doença.

Os agravamentos foram mais evidentes entre homens e pessoas com mais de 60 anos, mas indivíduos de todas as faixas etárias tiveram altas taxas de complicação. Constatou-se que 27% dos jovens de 19 a 29 anos e 37% dos adultos de 30 a 39 anos tiveram alguma das questões. Já 54% das pessoas da faixa dos 60 a 69 anos enfrentaram um quadro grave.

As condições mais comuns em decorrência da Covid-19 foram as renais, que afetaram 24% das vítimas. Em seguida vêm os problemas respiratórios (18%) e os sistêmicos (16). Já os cardiovaculares foram reportados em uma a cada oito pessoas (12%); os neurológicos foram observados em 4% dos pacientes, e os de ordem gastrointestinal ou hepática, em 11%.

O agravamento fez com que, após a hospitalização, 27% dos pacientes estivessem incapazes de cuidar de si mesmos. Isso foi mais recorrente em pessoas de idade avançada, mas também ocorreu em 13% dos jovens de 19 a 29 anos e 17% dos adultos de 30 a 39 anos.

“Este estudo contradiz as narrativas atuais de que a Covid-19 é perigosa apenas em pessoas com comorbidades existentes e idosos. Dissipar e contribuir para o debate científico em torno de tais narrativas tornou-se cada vez mais importante”, comenta Calum Semple, coautor da pesquisa, em comunicado.

Com base nos achados, os cientistas querem continuar estudando os participantes para orientar políticas públicas de saúde. “É importante que, com o alto risco e o impacto que elas têm nas pessoas, as complicações da Covid-19, e não apenas a morte, sejam consideradas quando decisões sobre a melhor forma de enfrentar a pandemia forem tomadas. Apenas focar nos óbitos provavelmente subestima o verdadeiro impacto da doença, particularmente em pessoas mais jovens, que são mais propensas a sobreviver à Covid-19 grave”, explica Aya Riad, coautora do estudo.

Sintomas relacionados à Covid longa

Um estudo avaliou mais de 3,7 mil pessoas que vivem em 56 países e apresentam Covid-19 longa. A pesquisa identificou nesse grupo uma variedade de 203 sintomas, que afetam um total de 10 órgãos. Os resultados da pesquisa foram compartilhados, no último dia 15, na publicação científica EClinicalMedicine.

A equipe de cientistas, liderada pela University College London, na Inglaterra, coletou dados por meio do grupo de apoio online Covid-19 Support Group, da organização de direitos na saúde Body Politic. Sintomas indicativos de Covid-19 foram declarados por 7 meses pelos participantes, que eram todos maiores de 18 anos – com ou sem teste positivo para o vírus Sars-CoV-2.

As manifestações tiveram início entre dezembro de 2019 e maio de 2020 e duravam mais de 28 dias. Os três incômodos mais recorrentes foram: fadiga, que afetou 98,3% das pessoas; mal-estar após esforço (89%) e disfunção cognitiva ou “névoa cerebral” (um tipo de confusão metal), que atingiu 85,1% do grupo. 

Já os sintomas mais debilitantes, segundo os entrevistados, eram também fadiga (citado por 2.652 pessoas), além de problemas respiratórios (2.242 indivíduos) e, novamente, disfunção cognitiva (1.274 participantes). Outras especificações, como alucinações visuais, tremores, coceira na pele, alterações no ciclo menstrual, disfunção sexual, palpitações cardíacas, visão turva e zumbido também entraram no levantamento.

No total, de 65,2% das pessoas sentiram algum tipo de sintoma por ao menos 6 meses. Depois de meio ano, entre 30% a 50% dos entrevistados relataram ainda terem insônia, palpitações cardíacas, dores musculares, falta de ar, tontura, problemas de equilíbrio e linguagem, além de dor nas articulações e taquicardia.

“Memória e disfunção cognitiva, experimentadas por mais de 85% dos entrevistados, foram os sintomas neurológicos mais difundidos e persistentes, igualmente comuns em todas as idades e com impacto substancial no trabalho”, destaca a pesquisadora Athena Akrami, que contribuiu com o estudo, em comunicado. Segundo ela, a evidência desses sintomas pode apontar para problemas mais graves, envolvendo tanto o sistema nervoso central quanto periférico.

A equipe de pesquisa espera que os resultados inspirem a ampliação de diretrizes médicas e a implementação de um programa acessível de triagem para diagnóstico e tratamento mais aprofundados. “É provável que haja dezenas de milhares de pacientes com Covid-19 longa sofrendo em silêncio, sem ter certeza de que seus sintomas estão ligados a Covid-19”, conta Akrami.


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