26/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Bolsonaro apela ao ‘coitadismo’, mas a população não cai mais

Publicado em 15/07/2021 12:00 - Victor Barone

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Jair Bolsonaro está doente? Sim, ninguém soluça sem parar por dias porque gosta. Espero, portanto, que se recupere. Mas, enquanto estava internado no Hospital das Forças Armadas, uma série de publicações em suas redes sociais mostraram que ele vai tentar aproveitar a situação para faturar politicamente. O que é extremamente conveniente em meio a uma tempestade de notícias ruins e a uma derrocada em sua popularidade.

Temos que separar as coisas: um fato é o quadro de Bolsonaro, que é mais sensível devido às cirurgias abdominais pelas quais passou. Outro é o oportunismo que se vale da pouca transparência que ele dá à sua saúde (escondendo resultados de testes de covid e idas ao hospital) para tentar virar o jogo político. Seria leviandade dizer que ele está exagerando para se livrar da má fase, mas, no mínimo, quer transformar o limão em limonada.

Jair mira, especialmente, o bolsonarismo-raiz – aqueles 15% da população que acreditam em absolutamente tudo o que ele diz. Esse grupo, que é capaz de atender a um pedido de seu líder para ajudar em um golpe de Estado em 2022, está sendo exposto, dia após dia, pela CPI da Covid e a imprensa, a evidências de que o "mito" fez corpo mole diante da corrupção. Isso sem contar as provas de que o "mito" embolsava salários de parentes usados como funcionários-fantasmas em seu gabinete enquanto deputado federal.

Expondo nas redes sociais a imagem de seu corpo seminu no leito hospitalar no momento em que recebia uma benção de um religioso, presidente ou alguém autorizado por ele apelou para a mesma estratégia de comunicação que adotou após o atentado que sofreu em setembro de 2018. A facada, apesar de terrível, foi diligentemente utilizada para a construção da imagem de "mito" – que ele, agora, tenta reconstruir.

Em suas mensagens nas redes sociais, Bolsonaro retomou o atentado, tentando envolver de forma leviana o PSOL e o PT, atiçando as velhas teorias conspiratórias da extrema direita. E sem cerimônia, colocou-se como um líder ungido por Deus ao afirmar que ele lhe deu a oportunidade de por o Brasil no caminho da prosperidade.

E apesar de ter sido cúmplice na morte de quase 540 mil brasileiros por covid-19 ao atrasar a compra de vacinas, boicotar o isolamento social, atacar o uso de máscaras, enganar a população com remédios inúteis e sabotar os esforços de prefeitos e governadores para combater a crise, Jair usou politicamente as vítimas. Afirmou, em sua sequência de mensagens, que "mesmo com todas as adversidades, inclusive uma pandemia que levou muito de nossos irmãos no Brasil e no mundo, continuamos seguindo por este caminho". Omitiu que foi sócio da pandemia na empreitada.

Falando especialmente ao público evangélico, que aprova seu governo bem mais do que a média da população, afirmou que são as "orações" que o motivam a seguir em frente e "enfrentar tudo que for preciso para tirar o país de vez das garras da corrupção, da inversão de valores, do crime organizado, e para garantir e proteger a liberdade do nosso povo". Aposto uma rachadinha de salário de ex-cunhado que o termo "corrupção" foi estrategicamente colocado em primeiro lugar nessa enumeração.

Como em uma carta-testamento brega, Bolsonaro pediu "a cada um que está lendo essa mensagem que jamais desista das nossas cores, dos nossos valores", num momento em que o verde e o amarelo voltam a ser usados pela oposição nos protestos de rua contra ele. E, apelando ao patriotismo dos militares, afirma que "temos riquezas e um povo maravilhoso que nenhum país no mundo tem". Encerra reafirmando a "honestidade", para apagar a prevaricação da qual está sendo acusado, e traz novamente o divino para a discussão, dizendo que ele poderá mudar a realidade "com Deus no coração".

Enquanto Bolsonaro estiver enfrentando a crise de saúde, podemos esperar muitas outras mensagens como essas. Tanto para fortalecer o vínculo com os 15% de base mais fiel, quanto para manter perto os 24% que consideram seu governo bom e ótimo e tentar gerar alguma empatia entre os outros 24% que acham seu governo regular. Já os 51% que avaliam sua gestão como ruim e péssima não são alvo dessas mensagens. Eles estão ocupados, tentando sobreviver ou compartilhando memes que criticam exatamente esse uso político.

Bolsonaro está doente e se vende como mártir, apesar de ser apenas um pequeno político desesperado. Mártires são as centenas de milhares de brasileiros que morreram de covid-19 como vítimas da sabotagem de seu governo.

Uma evidência de que essa estratégia já está em prática é a quantidade de postagens, de seguidores reais e robôs nas redes sociais, atacando quem critica o fato de ele estar usando o seu quadro clínico para tirar vantagem política. Ou seja, quem questiona a "narrativa" presidencial leva pedrada.

No meu texto anterior, já desejei saúde ao presidente – mesmo que ele não tenha feito o mesmo aos brasileiros na pandemia de covid-19. Espero que ele viva muitos anos para poder responder pelos crimes do qual é acusado. Tanto os de corrupção na Justiça brasileira quanto aqueles contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional.

Por Leonardo Sakamoto

AINDA NO AR

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar se Jair Bolsonaro cometeu crime de prevaricação por supostamente não ter comunicado aos órgãos de investigação indícios de corrupção no Ministério da Saúde durante as negociações para a compra da vacina Covaxin. 

O inquérito veio a público no início da semana, mas foi instaurado no começo de julho, depois que a Procuradoria-Geral da República perdeu a queda de braço com a ministra Rosa Weber. Para quem não lembra, a PGR pediu para adiar a investigação: queria empurrá-la para depois do fim da CPI, que deve ser prorrogada até outubro.

A prevaricação acontece quando funcionários públicos atuam de forma a atender interesses particulares. No Código Penal, são considerados funcionários públicos “quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerça cargo, emprego ou função pública”. É o caso da Presidência da República.

Após a notícia do inquérito se espalhar, o presidente lançou mão da tática da confusão e mentiu ao afirmar que o crime de prevaricação não se aplica a ele. “O que eu entendo é que a prevaricação se aplica a servidor público, não se aplicaria a mim”.

Bolsonaro reafirmou ainda que, após receber a denúncia dos irmãos Miranda, teria avisado o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Segundo o presidente, o general da ativa teria dito que não tinha nada de errado.

Em entrevista ao Roda Viva na segunda, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que após a reunião com o presidente no Palácio da Alvorada, encontrou-se Pazuello na ponte aérea entre São Paulo e Brasília. “O Pazuello não toca no assunto – eu que toco no assunto com ele. (…) Ele inclusive desabafa: ‘meu amigo, inclusive eu já tô saindo, já tentei de tudo para resolver este problema e não consigo‘”. 

E não foi desta vez que o Brasil ficou sabendo se há mesmo gravação da conversa com Bolsonaro. Questionado diversas vezes, o deputado continuou deixando no ar. “Eu jamais gravaria um presidente da República, mas eu não estava sozinho na sala – e nem todo mundo que estava na sala confia no presidente“, disse, dando a entender que seu irmão, Luis Ricardo Miranda, teria gravado.

No último dia 9, o consultor técnico do Ministério da Saúde William Amorim Santana confirmou parte da denúncia dos irmãos Miranda à CPI. Foi ele quem recebeu a 1ª fatura (conhecida como invoice) da Precisa Medicamentos com erros muito suspeitos. Willian é subordinado de Luis Ricardo na divisão de importação da pasta. 

Segundo o Datafolha, 70% dos brasileiros acreditam que há corrupção no governo Bolsonaro.

APOSTANDO NA CONFUSÃO (SEMPRE)

A essa altura já sabemos que na cartilha de Jair Bolsonaro há dias de ataques e há dias de recuos. Depois de afirmar que houve fraude nas eleições presidenciais de 2014 – e que “a fraude está no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”, o presidente disse que está “perfeitamente alinhado” com o Poder Judiciário. 

A declaração aconteceu na saída de uma reunião de conciliação organizada pelo presidente STF, Luiz Fux, por conta da crise gerada por Bolsonaro. “Convidei o presidente da República para uma conversa, diante dos últimos acontecimentos, onde nós debatemos o quão importante para a democracia brasileira é o respeito às instituições e os limites impostos pela Constituição Federal”, disse Fux à imprensa. 

Um novo encontro no estilo ‘as instituições estão funcionando’ foi anunciado, desta vez também com a presença dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Não rolou devido a internação do presidente.

Bolsonaro concedeu uma estranha coletiva de imprensa depois da reunião com Fux. De manhã, em meio à repercussão dos números do Datafolha sobre a percepção de corrupção no seu governo, ele disse que não é “Jairzinho paz e amor”. Horas depois, declarou ser o “Jairzinho paz e amor”

Mas a conciliação não atingiu o conteúdo: ele voltou a espalhar boatos de que as eleições são fraudadas: “Devemos mostrar para o mundo que o Brasil é país sério, tem eleições limpas, auditáveis. Acertado por minoria de técnicos, isso não é eleição. Aí vamos bater na tecla da contagem dos votos”.

Outra tecla batidíssima por Bolsonaro neste momento de crise é a religiosa. Ele usou uma parábola na conversa com Fux, segundo o ministro, depois disse aos jornalistas que seu indicado à vaga do STF, André Mendonça, recebeu dele o pedido de começar sessões da mais alta Corte do país com orações. Questionado se estava arrependido por ter chamado o ministro Luis Roberto Barroso de “imbecil”, Bolsonaro recorreu novamente aos preceitos religiosos e propôs que fosse rezada a oração “Pai Nosso” durante a coletiva de imprensa

MICHELLE NO CIRCUITO?

E o escândalo das vacinas superfaturadas agora arranha a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A Veja divulgou mensagens capturadas do celular do cabo Luiz Paulo Dominguetti. Numa conversa registrada em 3 de março, Dominguetti fala com Rafael Alves, representante da Davati Medical Supply, identificado como “Rafael Compra Deskartpak”. Ele comenta os avanços do reverendo Amilton Gomes para se aproximar dos Bolsonaro.

“Michele (sic) está no circuito agora. Junto ao reverendo. Misericórdia”, escreve. Rafael se mostra incrédulo diante do nome da primeira-dama. “Quem é? Michele Bolsonaro?” E Dominguetti retorna: “Esposa sim”. O interlocutor orienta o PM a ligar para Cristiano Carvalho, CEO da Davati no Brasil, que pilotava a operação. “O reverendo chegou na Presidência da República”, diz Dominguetti, em um áudio: “Roberto Dias é segundo plano”.

Michele é o terceiro membro do clã citado nos escândalos de compra de vacinas. Além do próprio presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) já apareceu na história por ter arrumado para o dono de outra empresa, a Precisa, uma reunião com o presidente do BNDES em outubro de 2020. 

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), descartou a convocação da primeira-dama. “Não, não vamos convocar. Tem muita gente que tira proveito para mostrar intimidade com poder”, disse ao Estadão. “Até porque, se não, a gente entra no joguinho do Bolsonaro (do tipo) ‘Estão mexendo com minha família, minha esposa é uma santa’. A gente se antecipa logo para não misturar as coisas e ser diferente dele”.

AINDA, A CPI

O representante oficial no Brasil da Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, depôs à CPI, complicando ainda mais a já emaranhada trama que coloca sob suspeita a compra de vacinas. Segundo ele, a empresa não procurou o Ministério da Saúde: foi procurada. “Quando puder me retorne, sou Roberto Ferreira Dias do Ministério da Saúde”. Essa mensagem, de 3 de fevereiro, teria sido o primeiro contato da história entre a pasta e a Davati, que não mantinha negócios com o ministério

Ainda de acordo com essa versão dos fatos, também não foi a Davati que foi atrás do PM Luiz Paulo Dominghetti, mas o policial que se apresentou, em fevereiro, dizendo ter uma “parceria” com a ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula. O reverendo, por sua vez, teria recebido aval do governo federal para tratar da compra de vacinas. Em entrevista ao Estadão semanas atrás, o CEO da Davati Herman Cárdenas também foi nessa linha e disse que Dominghetti virou representante da empresa “a pedido” do Ministério da Saúde. A intermediação de Dominghetti e do reverendo Amilton entre Davati e ministério foi classificada pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), como “absolutamente nova”.

Enquanto isso, segundo Cristiano Carvalho, Dias continuava lhe mandando mensagens. Essa insistência deu base às promessas de Dominghetti e o representante da Davati passou a ver a história como uma oportunidade.

Carvalho declarou que nessas conversas Dias nunca mencionou propina. Mas que a situação foi relatada por Dominghetti, que usou o eufemismo “comissionamento extra” de US$ 1 por dose. De acordo com o representante da Davati, a proposta partiu do “grupo do Blanco”, em referência a pessoas ligadas ao coronel Marcelo Blanco, que até janeiro tinha sido subordinado a Dias no Ministério da Saúde, mas em fevereiro já tinha saído da pasta e aberto empresa de representação de insumos hospitalares. O coronel tinha uma posição “dúbia”, definiu Carvalho, porque, “parecia atuar como se ainda estivesse” no ministério.

Ele disse ainda que, na primeira vez que foi ao ministério, em 12 de fevereiro, participaram da reunião o reverendo Amilton, Dominghetti e nada menos do que quatro coronéis: Elcio Franco (então secretário executivo da pasta), Marcelo Pires (acusado pelos irmãos Miranda de fazer pressão no escândalo original, da Covaxin), Cleverson Boechat Tinoco Ponciano (coordenador-geral de Planejamento do ministério que também aparece no caso Covaxin) e Helcio Bruno presidente do Instituto Força Brasil. “São muitos coronéis e elcios“, brincou Carvalho.

O Instituto Força Brasil é uma entidade bolsonarista que tem como vice-presidente o empresário Otávio Fakhoury, e já esteve nos holofotes no inquérito das fake news que investiga o gabinete do ódio. De acordo com o depoimento de ontem, seria também o braço utilizado pela Senah para chegar ao alto escalão da Saúde. 

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o Força Brasil patrocina um conjunto de contas em redes sociais como a página Crítica Nacional, que propagou notícias falsas sobre o uso de máscaras e a vacina da Pfizer.

Em nota, o Força Brasil afirmou que seu principal interesse na reunião do dia 12 de fevereiro era fazer lobby pela vacinação privada

E MUITOS INTERMEDIÁRIOS

A Davati não tinha à mão nenhuma das 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca cuja venda seus representantes negociaram com o governo brasileiro em fevereiro e março deste ano. A afirmação é do CEO da empresa, Herman Cardenas, em entrevista à Folha.

De acordo com ele, havia “uma promessa de alocação das vacinas” feita por outra empresa cuja identidade ele não revela por suposto “sigilo contratual”. Essa empresa, sim, teria contato com a AstraZeneca. A Davati, diz, seria uma “facilitadora do negócio” entre a tal empresa e o governo federal, mediante uma comissão que Cardenas não revela de quanto seria. 

Segundo o empresário, Cristiano Carvalho seria apenas um vendedor autônomo que representou a empresa apenas nesta tentativa de negociação — e que criou site e e-mail da Davati no Brasil sem o seu conhecimento. Ele teria sido indicado por outro coronel, Glaucio Octaviano Guerra. 

Uma reportagem da Agência Pública puxou a ficha de Guerra, que é irmão de policiais com histórico de acusações de corrupção e ligações com a família Bolsonaro. Um desses irmãos, Glauco, chegou a ser preso no ano passado na Operação Mercadores do Caos, suspeito de integrar esquema de desvio de verbas na aquisição de ventiladores pulmonares pelo governo do Rio. Esse mesmo Glauco ajudou a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) na tentativa de anular provas no caso da rachadinha. Ele, que era auditor aposentado da Receita, disse que teve seus dados acessados ilegalmente pela Receita. Esses dados, porém, foram acessados em uma investigação de enriquecimento ilícito.  Glauco foi demitido por improbidade administrativa, e teve a aposentadoria cassada.

E como só tem gente boa nessa história, durante seu depoimento ontem, Cristiano Carvalho admitiu que pediu indevidamente auxílio emergencial de R$ 600 no ano passado – não sem antes negar que tinha sido ele a solicitar o benefício.

ORÇAMENTO SECRETO E ELEIÇÕES

O Congresso aprovou o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022. Duas polêmicas cercaram a votação. 

Depois de muita discussão, os parlamentares resolveram triplicar os recursos destinados ao fundo eleitoral, que vai disponibilizar R$ 5,7 bilhões para as campanhas no pleito do ano que vem. Segundo o Valor, esse adicional veio de recursos que estavam destinados a emendas de bancadas regionais, e seriam destinados para saúde, educação e infraestrutura.

A maioria também aprovou a continuidade do orçamento secreto, ou seja, as emendas que chegam ao Executivo assinadas pelo relator-geral do Orçamento (RP9) e servem para contemplar negociações entre o governo federal e a base aliada. 

ENFIM, FALOU

A diretora técnica da Precisa Medicamentos decidiu responder às perguntas da CPI sobre o caso Covaxin. Emanuela Medrades reconheceu que o Ministério da Saúde não se importou em negociar com uma empresa cujo sócio já havia dado um calote de R$ 20 milhões na pasta na gestão Ricardo Barros. Mas, no geral, sua fala foi alinhada à do governo.

Ela alegou que o preço de US$ 15 por dose é estabelecido pela Bharat Biotech (como o laboratório indiano já indicou), e negou que em algum momento tenha sido oferecido o preço de US$ 10, como aparece na ata de uma reunião com representantes da Saúde e da Precisa. “Eu não sei por que colocaram que o produto custaria US$ 10, porque o produto não foi ofertado. Existe sim uma expectativa que esse valor fosse de menos de US$ 10”, disse ela, afirmando que tentou negociar tal valor com a Bharat, mas não conseguiu.

A diretora ainda se contradisse em relação à fatura cujos problemas foram apontados pelo servidor Luís Ricardo Miranda. Emanuela havia dito ao Senado, em outra ocasião, que o primeiro invoice havia sido encaminhado no dia 18 de março, exatamente como aponta Miranda. Mas ontem disse que não: que isso só teria acontecido no dia 22.

Em tempo: Luís Ricardo depôs à Polícia Federal.

THE BOOK IS ON THE TABLE

O Brasil demorou a entrar na Covax Facility porque era difícil entender a língua inglesa. Pelo menos isso é o que mostram documentos enviados pela CPI e apresentados ao Painel da Folha. A consultoria jurídica do Ministério da Saúde afirmou que o fato de a documentação estar em inglês dificultou a análise, pois os servidores não tinham “conhecimento suficiente de tal língua estrangeira a ponto de emitir manifestação conclusiva”. O consultor também mencionou o prazo apertado.

Por Outra Saúde

GENTE FINA

Uma força-tarefa composta pelas polícias, Guarda Civil Metropolitana, Vigilância Sanitária e Procon fechou uma festa irregular com cerca de 500 pessoas no bairro dos Jardins, na capital paulista. Responsável por evento foi autuada. A socialite Liziane Gutierrez deu um showzinho à parte.

O RELÓGIO DO ROLANDO LERO

O blogueiro e empresário Felipe Neto chamou a atenção para um fato curioso nesta sexta-feira (16), em sua conta do Twitter. O senador Marcos Rogério (PDT-RO), considerado o líder da tropa de choque do governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) na CPI da Covid, – e que ostenta apelidos como Rolando Lero e Locutor de Vidraçaria – usa um relógio da marca Rolex que custa mais de R$ 100 mil. O senador, no entanto, ganha R$33 mil por mês.

Felipe Neto compartilhou a mesma ironia usada pelo jornalista Leandro Demori, editor executivo do The Intercept Brasil: “Oi Marcos Rogério, onde consigo uma réplica do Rolex Daytona como a que o senhor usa? Quero dar uma de presente, mas não tenho condições de ter um original. Ou o seu é original? Ou estou vendo mal e se trata de outro modelo? Agradeço a dica!”

Junto à postagem de Demori segue uma imagem do relógio, modelo Daytona, com o preço.

GRANA SOLTA

O que triplicou no país além do fundo de financiamento das eleições? Simples: o sofrimento dos brasileiros, devastados pelos efeitos da pandemia. Num ambiente assim, elevar o Bolsa Eleição de R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7 bilhão é o mesmo que tratar verba pública como dinheiro grátis. Não é concebível.

A democracia tem um custo. Mas é preciso ter respeito pelo dinheiro do contribuinte. O que os congressistas precisam fazer agora é imitar as famílias brasileiras, podando gastos. Espera-se que a reação contrária force os deputados e senadores a retornar do Mundo da Lua para a Terra.

O Orçamento da União para 2022 terá de ser aprovado até o final do ano. Aprovaram-se agora apenas as diretrizes. Os legisladores terão alguns meses para recobrar o juízo. Precisam ser empurrados para a razão.

Por Josias de Souza

ACAVALHAÇÃO

Bolsonaro transformou a indicação do substituto de Marco Aurélio Mello num processo de avacalhação que abastardou o rito de escolha de um novo magistrado para o Supremo Tribunal Federal. Outros presidentes já colocaram a toga sobre os ombros de auxiliares diretos. Mas nenhum foi tão espalhafatoso quanto Bolsonaro ao escolher o advogado-geral da União André Mendonça.

A exemplo de Mendonça, Gilmar Mendes e Dias Toffoli também ocupavam o posto de advogado-geral da União quando foram indicados para a Suprema Corte, respectivamente, por FHC e Lula. Quando foi escolhido por Michel Temer, Alexandre de Moraes era ministro da Justiça. Os patronos sempre esperam algum tipo de fidelidade a posteriori. Bolsonaro exigiu demonstração prévia de lealdade.

Mendonça teve de medir forças com o procurador-geral da República Augusto Aras. Ambos se esmeraram nos serviços prestados ao capitão. Mas Mendonça contou com uma aliada estratégica. Terrivelmente evangélica como ele, a primeira-dama Michelle Bolsonaro fez campanha doméstica pela indicação. Em privado, Bolsonaro brinca que sua mulher deixaria de dormir com ele se não escolhesse Mendonça.

Uma vez aprovada pelo Senado, a indicação não é garantia de fidelidade. Ministros como Joaquim Barbosa, Ayres Britto e Cezar Peluso, indicados por Lula, foram draconianos com o petismo no julgamento do mensalão. Ajudaram a enviar a cúpula do PT e seus financiadores para o presídio da Papuda. Selecionados por Dilma Rosseff, Edson Fachin e Luis Roberto Barroso atuaram como algozes dos encrencados no petrolão.

Esta é a segunda indicação de Bolsonaro para o Supremo. Antes dele veio Kassio Nunes Marques, escolhido menos pelo currículo do que pelas doses de "tubaína" que dividiu com o capitão no Alvorada. Mendonça pode até surpreender. Mas terá de fazer enorme esforço. No momento, peregrina pelo Senado como um advogado terrivelmente vassalo de Bolsonaro. Um presidente com muitos interesses a defender no Supremo.

Por Josias de Souza

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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