25/04/2024 - Edição 540

Saúde

No Brasil, 120 mil mortes teriam sido evitadas com medidas preventivas

Publicado em 25/06/2021 12:00 -

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No Brasil, cerca de 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas ao longo do primeiro ano da pandemia se o país tivesse adotado medidas preventivas de forma mais firme e consistente. É o que revela um estudo apresentado pela médica Jurema Werneck ao Senado Federal durante a CPI da Covid-19 na quinta-feira (24).

"O estudo revelou o tamanho do desastre provocado por políticas equivocadas, incompletas, limitadas e intermitentes no Brasil: são 120 mil vidas que poderiam ter continuado, caso as autoridades tivessem seguido a ciência e gerido a pandemia com responsabilidade", afirma Werneck, também diretora-executiva da Anistia Internacional.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Disponível online, ele foi encomendado pelo grupo Alerta, uma iniciativa criada por sete entidades da sociedade civil para trazer à tona a discussão sobre mortes evitáveis por Covid-19 no Brasil.

Participam do grupo a Anistia Internacional Brasil, o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), a Oxfam Brasil e a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC).

Dados sobre o Brasil

Para chegar a essa e outras estimativas acerca das vítimas brasileiras da pandemia, os pesquisadores calcularam o excesso de morte por causas naturais entre março de 2020 e março de 2021. Comparando com o registro de óbitos de 2015 a 2019, eles constaram que houve 305 mil mortes acima do esperado para o período

Esse número não inclui apenas mortes diretamento provocadas pela Covid-19, mas também óbitos indiretos causados pelo atraso no diagnóstico ou pela falta de tratamento para outras doenças, decorrente da sobrecarga no sistema de saúde, por exemplo. A estimativa, no entanto, já leva em consideração os efeitos das medidas de distanciamento social aplicadas no país, mesmo que elas tenham sido parciais ou de baixa intensidade.

Com base em relatórios científicos publicados nas revistas Science e Nature, os pesquisadores calcularam, ainda, que poderiam ter sido registrados 40% menos óbitos até março de 2021 caso as medidas preventivas de isolamento social e restrição às atividades econômicas e educacionais tivessem sido aplicadas corretamente no país.

Além disso, um segundo eixo do estudo analisou como a falta de preparação do sistema de saúde brasileiro influenciou o número de mortes evitáveis. Um dos resultados encontrado foi que 20.642 pessoas faleceram à espera de atendimento. Isso equivale a 11,3% do total de registros de internação.

É importante ressaltar que os dados se referem apenas aos 12 primeiros meses de pandemia, não abrangendo, portanto, o período de maior mortalidade registrado no Brasil, que ocorreu entre março e maio de 2021.

Outros dados levantados pelo estudo revelam que a maioria dos óbitos em pronto-socorro ou pronto-atendimento foi registrada em unidades públicas de saúde. A falta de acesso a leitos também atingiu um número proporcionalmente maior de pessoas negras e indígenas: os óbitos na fila de espera representaram 13,1% das internações entre as pessoas negras e indígenas, e 9,2% entre as pessoas brancas.

"Os números também trazem mais uma evidência das desigualdades que estruturam a sociedade brasileira, mas que foram reveladas e aprofundadas durante a pandemia. As pessoas negras são as mais afetadas pela falta de leitos, têm menos acesso a testes diagnósticos e sofrem um risco 17% maior de vir a óbito na rede pública", completa Werneck.

O artigo publicado no site do Idec também traz recomendações à CPI da Covid-19, como a criação de um memorial nacional em homenagem às vítimas da pandemia e de uma frente nacional de enfrentamento à doença que seja liderada por especialistas. "Não se trata apenas de apontar erros e cobrar responsabilidades, mas também de apontar caminhos viáveis e imediatos que nos ajudem a preservar vidas", conclui a médica.

Na contramão do mundo

A pandemia da covid-19 no Brasil segue uma trajetória que vai no sentido contrário à média mundial. Dados oficiais da OMS (Organização Mundial da Saúde) publicados nesta quarta-feira revelam que os totais de novos casos e de mortes na semana que terminou no dia 20 de junho sofreram uma queda importante em comparação com os sete dias anteriores. Mas, no Brasil, a pandemia continua a ganhar força.

De acordo com o levantamento, o mundo viu uma redução de 6% no número de novos infectados, para um total de 2,5 milhões de casos entre os dias 14 e 20 de junho. As mortes caíram em 12%, para 64 mil. As taxas são as mais baixas desde fevereiro.

A OMS, apesar de comemorar a tendência, alerta que a mortalidade ainda continua elevada, com mais de 9 mil óbitos por dia no planeta.

No caso do Brasil, os dados revelam que a pandemia não segue a tendência global. Na semana, o país registrou um salto de 11% no número de novos infectados, para um total de 505 mil.

Os dados oficiais indicam, ao mesmo tempo, uma queda de 30% na incidência na Índia, que deixou de liderar o ranking de locais com maior número de novos infectados. Na semana, ela registrou 441 mil casos. Mas especialistas alertam que a subnotificação na Índia seria generalizada e que os números oficiais não mais refletem a realidade.

Na OMS, porém, a regra é a de trabalhar apenas com os dados oficiais, desde o início da pandemia. A subnotificação também seria um problema em outras regiões.

No ranking, a terceira colocação é da Colômbia, com 193 mil novos casos (aumento de 10%) e Argentina, com 149 mil e queda de 16%. Chama a atenção ainda da OMS a crise na Rússia, com um aumento de 31% nos casos em apenas uma semana e um total de 105 mil.

No Brasil, porém, os números são equivalentes a tudo o que o continente africano e Europa registraram oficialmente em sete dias.

O levantamento sobre o número de mortes também revela uma situação brasileira que continua a preocupar. Foram 14,2 mil óbitos na semana, um aumento de 7% em comparação à semana anterior. A Colômbia vive uma crise similar, com um aumento de 11% e 4,1 mil mortes. Já a Argentina registra uma queda de 14% na semana.

Apenas a Índia, com 16 mil mortos na semana, ainda supera as taxas brasileiras. Mas com uma população seis vezes maior. Na semana, todos os países da Europa somaram apenas 6 mil mortes, menos da metade da taxa no Brasil.

Variantes

Outro alerta da OMS se refere à proliferação de variantes. A entidade considera que elas são as principais ameaças para controlar a pandemia e apelam para que campanhas de vacinação sejam aceleradas.

A entidade destaca que existe uma queda na eficácia de certas vacinas diante das mutações, mas apenas de forma marginal. Segundo a OMS, empresas avaliam a possibilidade de uma terceira dose em determinados casos.

O novo mapeamento também mostra que a variante Alpha já está em 170 países, contra 119 países no caso da variante Beta. A variante Gamma, originalmente registrada em brasileiros, já se espalha por 71 países.

Mas a grande preocupação se refere à mutação Delta, considerada como mais transmissível que todas as demais. Originalmente identificada na Índia, ela já está em 85 países e a OMS apela para que governos ampliem medidas de controle social e não abandonem a máscara.


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