Meia Pala Bas
Publicado em 23/01/2015 12:00 - Rodrigo Amém
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Tarefa ingrata é tentar convencer um ser humano a mudar de opinião. Isso que eu e meus colegas articulistas fazemos é uma verdadeira tarefa de Sísifo. Todas as semanas, rolamos a pedra dos fatos morro acima, na esperança de que ela se sustente no topo. Uma vez publicado o artigo, a coisa toda rola morro abaixo, direto para o fórum de comentários raivosos.
Os psicólogos chamam isso de dissonância cognitiva. Uma expressão científica para a tendência do homem, quando confrontado com fatos contrários às suas ideias, ignorar os fatos e fincar o pé nas próprias crenças. Um fenômeno real e identificado em diversos artigos científicos.
Leonardo Sakamoto e Reinaldo Azevedo não estão no ramo de exorcizar infiéis. O trabalho deles não é desmantelar coxinhas e purgar petralhas. Eles escrevem para seus pares.
Os especialistas divergem (até eles!) sobre as possíveis causas da dissonância cognitiva. Entre as teorias mais aceitas, podemos ponderar que – no fundo – não somos mais do que a soma de nossas convicções. Logo, abrir mão delas seria uma profunda afronta à nossa própria identidade. Há também a hipótese antropológica. Nossos ideais são forjados pelo grupo social onde vivemos. Se abdicarmos deles, como isso impactará nossas relações com familiares e afins? Pergunte a um ex-religioso como o abandono de sua fé afetou sua relação com seus entes queridos. Não importa a qualidade do argumento, ele será ignorado. A menos que venha pra confirmar nossa ideologia.
Leonardo Sakamoto e Reinaldo Azevedo não estão no ramo de exorcizar infiéis. O trabalho deles não é desmantelar coxinhas e purgar petralhas, respectivamente. Eles escrevem para seus pares. Pregam para os convertidos. Até porque, esta é a única forma de pregação verdadeiramente eficaz. Eles escrevem como quem sussurra ao subconsciente de seus leitores: “Fica tranquilo. Tem gente mais culta e articulada que partilha a sua visão de mundo. Você não está nem só, nem errado”.
Minha mãe costuma dizer: “Fulano tem a certeza que só a ignorância dá”. Da minha parte, satisfaz-me dialogar com a incerteza dos moderados.
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