28/03/2024 - Edição 540

Auau Miau

Como cuidar da saúde e da diversão dos pets na pandemia

Publicado em 08/06/2021 12:00 -

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Bento é a estrela das aulas virtuais do adestrador Luciano Pereira, 44 anos. A capacidade do carismático Yorkshire em obedecer a mais de 40 comandos (plantar bananeira, espirrar, fingir usar o vaso sanitário e outros) tem convencido “pais e mães de pet” sobre a possibilidade de domesticar um animal de estimação sem quebrar nenhuma regra de distanciamento social. 

“No início da pandemia, o trabalho parou. A impossibilidade de visitar clientes foi uma barreira. Por isso, comecei a fazer consultas comportamentais online. Muitos clientes compraram cães ou gatos para fazer companhia na pandemia, mas não sabiam nada a respeito dos cuidados”, disse Pereira. 

O adestrador faz vídeos filmados na própria casa – tendo Bento como parceiro. “Realizo o passo a passo com o meu cachorro. Com a ajuda dele, ensino coisas como onde dormir, onde fazer xixi, como organizar a casa, controlar o latido e alguns truques”, enumera. Além de aulas pré-gravadas, Pereira também oferece acompanhamento personalizado online. 

A forma encontrada pelo adestrador para se adaptar à pandemia da covid-19 é uma amostra de como o mercado pet se adaptou e até cresceu durante esse período. De acordo com o Instituto Pet Brasil, o faturamento do setor em 2020 foi de R$ 40,8 bilhões, um aumento de 15, 5% em relação ao balanço anterior (o e-commerce saltou 25% em um ano). 

Os números mantêm o Brasil como um dos principais mercados pet do mundo. O País permanece no top 3 do ranking mundial, atrás somente dos EUA, em primeiro lugar, e China, em segundo. A população pet no Brasil é de aproximadamente 141,6 milhões de animais. Ainda segundo os dados do Instituto Pet Brasil, o número de cães no País é de 55,1 milhões e de gatos, 24,7 milhões.

“O segmento emprega muito. As lojas são povoadas de funcionários. O e-commerce explodiu, assim como as pequenas lojas e serviços. O segmento é considerado essencial e se manteve funcionando durante a pandemia. Apesar disso, é preciso ficar atento aos problemas de exportação de matéria-prima e com a alta do dólar. Mas é inegável que o mercado continua aquecido”, disse Nelo Marraccini, presidente executivo do Instituto Pet Brasil. 

Com mais pessoas ficando em casa por mais tempo, os cuidados com os pets também aumentaram. O gastrônomo Flávio Duarte, por exemplo, notou que o seu spritz-alemão, o Carlos Eduardo Duarte Diniz (sim, ele tem nome completo), tinha um “paladar aguçado”. “Fiquei incomodado por não encontrar comidinhas naturais. Sempre ficava com a pulga atrás da orelha com produtos industrializados. Então, parti para o estudo das comidas mais naturais para pet”, disse.

Hoje, Duarte desenvolve receitas caseiras para os seus pets – sim, Carlos já ganhou um irmãozinho, o Otávio Augusto Duarte Diniz, que também é um foodie lover. “Meus cães estão super felizes. Mudou o cheiro das fezes e até o hálito deles.” 

A gourmetização da alimentação de cães e gatos parece um caminho sem volta. Empresas, como a Mon Petit Chéri, lançaram receitas com um apelo mais sofisticado, como é o caso da linha assinada pelo chef francês Érick Jacquin da própria Mon Petit. 

Para Luciana Oliveira, PhD em nutrição de cães e gatos, com os tutores mais próximos dos seus pets, a busca por uma alimentação variada é um movimento inevitável. “Com a pandemia, a indulgência aumentou. Os pets engordaram. Estão recebendo mais petiscos. Alguns tutores querem que seus pets tenham prazer na alimentação, mas sem descuidar da saúde. É nesse ponto que entra a gourmetização. Tutores que não querem dar a mesma ração todos os dias e buscam algo a mais.” 

Mas cães e gatos não querem só comida. Eles também querem diversão e arte. Gabriela Martinez, 28 anos, é proprietária de uma empresa que organiza festas de aniversários para pets, a Badalacão. “No começo da pandemia, foi complicado, as festas foram canceladas. Teve muito reembolso”, contou. 

Mas, como aconteceu com os humanos, os cães e gatos também partiram para soluções virtuais. Gabriela começou a comercializar kits individuais para festas pets (com bolinho pequeno, salgadinhos, hamburguesinhos, enfeites…). “Os donos fazem a festa na própria casa e depois colocam a festa no Instagram, nos stories ou transmitem ao vivo para outros donos”, contou. Um kit individual do Badalcão sai R$ 150. 

No ramo da moda pet, também cada sorriso é um flash. Lara Guaraldo, da loja virtual Petzera, identificou um aumento de 50 % nas vendas de roupas e acessórios. “Tem a ver com as pessoas estarem mais tempo próximas aos seus pets. Há uma busca por conforto e por gerar atividades dentro da própria casa. A quantidade de passeios diminuiu. Então, aumentou a procura por brinquedos, comedouros e até por roupinhas”, comentou.

O número de cães e gatos, entre outros bichos, abandonados e resgatados em abrigos no Brasil aumentou cerca de 70% no ano passado, segundo levantamento da ONG Ampara Animal. O dado pode ser explicado pelo grande movimento de procura por pets no início da pandemia – principalmente por pessoas que não tinham muito conhecimento do que seriam as responsabilidades de cuidar de um animal. Com o decorrer dos meses, começaram a aparecer devoluções aos abrigos ou mesmo tristes casos de abandono de pets.

A empresa Pedigree mantém o programa Adotar é Tudo de Bom – que cuida de cães resgatados por mais de 150 ONGs e protetores do País. Durante o período pandêmico, a empresa promoveu adoções de animais até via Zoom. “A digitalização deste processo é importante. Mas não pode ser confundida com uma ação de ‘apertei, comprei’. Nosso programa de adoção é de excelência. As ONGs envolvidas garantem uma assinatura de termo de adoção, entrevistas com os interessados e acompanhamento. O pet não pode ser algo momentâneo. Procuramos conscientizar as pessoas”, contou Roberto Valdrighio, gerente sênior de marketing da Pedigree. 

Já a PremierPet lançou uma campanha de adoção com currículos de animais no LinkedIn, a #AdoteUmCV. A campanha estimulou a adoção de cães e gatos nessa fase de pandemia. A ação foi inspirada na ação com a hashtag para recolocação profissional, mas evidencia o perfil de pets (e não de humanos), aproveitando a visibilidade do perfil da empresa no LinkedIn para incentivar a adoção responsável entre os usuários da plataforma.


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