20/04/2024 - Edição 540

Saúde

Mundo vê queda de 14% em casos de covid-19; Brasil vai no sentido contrário

Publicado em 28/05/2021 12:00 -

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Novos dados publicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que as contaminações por covid-19 continuam a sofrer uma queda na semana que terminou no último domingo. A retração global foi de 14%, com a taxa de redução ainda mais elevada na Europa, de 25%.

Mas os dados também revelam que a pandemia não perde força no Brasil e as taxas apontam para um sentido contrário em comparação com a média mundial.

De acordo com a OMS, houve um aumento de 3% no número de novas contaminações no país na última semana, com um total de 451 mil novas infecções. Apenas a Índia, que vive uma crise sanitária sem precedentes, ainda enfrenta uma situação pior que a do Brasil. Um total de 1,8 milhão de novos casos foi detectado no país asiático em sete dias. Ainda assim, trata-se de uma redução de 23% em comparação à semana anterior.

No mundo, foram 4,1 milhões de novos casos registrados em sete dias. Trata-se, segundo a OMS, da terceira semana consecutiva de redução. Mas a agência insiste que há, cada vez mais, "dois mundos" sendo estabelecidos. Um deles conta com amplas campanhas de vacinação e uma queda significativa de mortes.

Em apenas uma semana, os EUA registraram uma queda de 20% em novas contaminações. Na Europa, a queda também foi significativa em diversos locais. Na Alemanha, a redução em novas infecções foi de 24% em sete dias.

De outro lado, porém, países que patinam na vacinação e em medidas sociais continuam mergulhados em crises que não dão sinais de perder força.

Três dos locais com maior número de novos casos estão na América do Sul. Além do Brasil, que ocupa o segundo lugar mundial na semana, a Argentina aparece com 210 mil novos casos, superando os EUA. A Colômbia ainda vem na quinta posição, com 107 mil novos casos.

Com distanciamento e vacinas, mortes caem em 21% na Europa

Outra constatação da OMS é de que as mortes têm sido reduzidas de forma importante em diversos países. Na Europa, a queda em apenas uma semana foi de 21%, contra uma queda mundial de 2%.

No total, os mais de 40 países do continente europeu registraram um número inferior de mortes que o Brasil na semana, que não viu uma queda dos números. Foram 13 mil óbitos no Velho Continente, contra 13,6 mil no Brasil. Nos EUA, a taxa é de 4 mil mortes na semana.

A liderança, em termos de mortes, continua sendo da Índia, com 28 mil óbitos. Nas Américas, a situação da Argentina também preocupa. Em uma semana, a alta foi de 19%, com 3,5 mil vítimas.

Rompendo o teto

Pela primeira vez em dois meses, a taxa de contágio (Rt) do novo coronavírus ultrapassou o teto em todo o Brasil, segundo dados da Info Tracker, organizada pelas universidades estaduais Unesp e USP e que monitora a pandemia. Os pesquisadores consideram como teto o índice 1, quando cada pessoa pode contaminar uma outra. Se for maior do que 1, cada doente poderá contaminar mais de uma pessoa.

Para que a transmissão do novo coronavírus seja contida e caia o risco de uma terceira onda de infecção, a taxa de Rt precisa ficar abaixo desse patamar. Esse índice, porém, acaba de ser ultrapassado nas cinco regiões do Brasil.

A marca, segundo a Info Tracker, foi rompida no último dia 25. Com taxa média nacional de 1,12, os índices ficaram assim em cada região do Brasil:

Sul: 1,12
Nordeste: 1,12
Norte: 1,06
Centro-Oeste: 1,02
Sudeste: 1,01

Coordenador da plataforma e professor da Unesp, Wallace Casaca explica a metodologia. Ele diz que, "como cada região tem diferentes números de habitantes e curvas epidemiológicas, a média simples [somar e dividir por cinco o índice das regiões] não funciona" para encontrar o Rt nacional.

"O que o algoritmo faz é calcular todos os casos ativos, óbitos e recuperados de todos os estados para chegar ao índice brasileiro", diz.

Em 2021, já na segunda onda, o Rt de todas as regiões do país ficou abaixo de 1 pela última vez em 14 de fevereiro. A partir de então, a taxa foi aumentando até que em 7 de março todas as regiões atingiram 1. A média nacional continuou crescendo, até chegar a 1,22 em 29 de março, quando voltou a diminuir, e todas as regiões ficaram novamente abaixo do teto no dia 21 de abril.

As taxas voltaram a subir três dias depois. Ontem todas as regiões estavam com Rt acima de 1 pela primeira vez após 57 dias.

Por que Rt acima de 1 preocupa?

Casaca diz que Rt abaixo de 1 "significa que a pandemia está sob controle". Em uma cidade com 100 pessoas infectadas e taxa em 0,78, por exemplo, haverá 78 novas contaminações.

Esses 78 infectados vão contaminar outras 61 pessoas, reduzindo o número de doentes aos poucos se o índice se mantiver. O problema é quando a taxa está acima de 1, como agora.

Ao multiplicar o Rt atual, de 1,12, por 100 doentes, essas pessoas podem contaminar outras 112 pessoas, que por sua vez devem infectar ao menos 125.

E se a taxa não cair?

O aumento da Rt "reflete as consequências da vacinação lenta, da flexibilização do isolamento social e das novas cepas do coronavírus", diz Marco Aurélio Sáfadi, infectologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

"Estamos muito longe de ter a população imune. Se essa tendência de aumento no Rt se mantiver, é esperado na sequência aumento de novos casos e, em 20, 30 dias, aumento dos mortos", diz o médico, que prevê UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) cheias.

No estado de São Paulo, 31,1 mil pessoas estavam internadas em leitos de UTI e enfermaria em 1º de abril. Esse número caiu constantemente até chegar a 21,1 mil em 11 de maio, quando as internações voltaram a subir. Hoje são 22,5 mil pacientes.

Pernambuco passou de 2.700 para 2.900 nesse período. No Paraná, foi de 1.700 para 1.800. O Rio Grande do Sul viu os números caírem para quase metade entre 1º de abril e 8 de maio, mas eles voltaram a subir e agora há 2.900 pessoas em UTI e enfermaria.

Imunologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Ana Marinho atribui o aumento das internações à flexibilização da quarentena na maior parte do Brasil e à "mudança de percepção das pessoas sobre a doença".

Segundo pesquisas do instituto Datafolha, os que acreditam que a pandemia está fora de controle foram de 79% em março para 53% agora e apenas 30% dos brasileiros dizem que estão totalmente isolados na pandemia.

Haverá terceira onda?

Graças ao avanço da Rt e à manutenção de internações em alto patamar, o presidente do Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), Carlos Lula, teme que "a terceira onda seja mais virulenta do que a do começo do ano", embora ela ainda possa ser evitada.

"É urgente que o governo garanta vacinas para imunizar toda população adulta até outubro", afirmou. O médico e neurocientista Miguel Nicolelis disse que o Brasil não conseguiria lidar com uma nova onda de infecções.

“Temos um sistema de saúde que tomou dois tsunamis na testa, mal sobreviveu, e está em uma situação em que, se vier um terceiro [tsunami], nós não temos medicamentos, não temos leitos, não temos equipes de UTI. Não temos condição de dar conta de uma terceira explosão. E não temos vacina”, afirma Nicolelis.


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