29/03/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Primeiro foram os idiotas; agora, são os loucos

Publicado em 26/05/2021 12:00 - Rafael Paredes

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O ex-ministro Nelson Jobim, responsável pelo encontro entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula, além de ter participado do governo de ambos, também foi ministro da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi no governo de Dilma que Jobim passou a disparar frases que acabaram com a própria demissão. Uma delas foi em 2011, em um evento em homenagem aos 80 anos de FHC, quando proferiu em discurso: “Os idiotas perderam a modéstia”.

Nelson Jobim foi também ministro do STF e sempre sonhou em ser presidente da República, mas nunca conseguiu construir um ambiente político partidário para tal intento. Desgostoso, obviamente soltou a frase como crítica à aparente inabilidade política de sua chefe e de seus comandados, em especial a hoje deputada federal e, à época, ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann.

Pois bem, se naquele período os idiotas tinham perdido a modéstia e saído da toca, o que diria para o atual cenário político? Nesta terça-feira (25/05), a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, compareceu à CPI da Covid no Senado. Sem modéstia alguma e com uma verborragia impressionante, afirmou, detalhou, confirmou diversas informações falsas sob os olhares aparentemente resignados de senadores de oposição e independentes. Os governistas comemoraram.

As agências de checagem de fakenews rapidamente publicaram em seus sites as notícias falsas que envolviam a utilização do cloroquina para o tratamento de covid, as mentiras sobre a Organização Mundial da Saúde (OMS), dentre outras crenças quase que religiosas da pediatra.

Mayra Pinheiro é conhecida por defender de forma militante a cloroquina, remédio com ineficácia comprovada para combater a doença causada pelo novo corona vírus. Outra hipótese defendida como ciência por Mayra é um certo isolamento vertical, metodologia nunca aplicada.

Em suas respostas, a “capitã Cloroquina”, como é conhecida, afirmou que a Pasta da Saúde não é obrigada a seguir as orientações da OMS, que não seguiu a recomendação de algumas sociedades médicas brasileiras, mas sim um grupo de especialistas formado lá, por eles. Ou seja, o Ministério da Saúde se consultava com alguns, porém esses alguns mereciam mais respeito que a Organização Mundial da Saúde e que sociedades científicas. Sabe quando você quer fazer alguma coisa e pede conselhos para um amigo de quem já tem certeza de que ele vai concordar com você? O Ministério da Saúde faz igual às nossas pilantrices da vida cotidiana.

Porém, a alucinação mais mirabolante confirmada na CPI da Covid pela “capitã Cloroquina” foi a de que, na sede da Fiocruz, tinha infláveis com símbolos em formato de pênis por alguma conotação sexual. A Fundação Oswaldo Cruz é uma entidade centenária, mundialmente respeitada no âmbito da pesquisa, promoção, inovação, ensino e assistência à saúde. A Fiocruz produz vacinas, medicamentos, oferta cursos desde o ensino médio até a pós-graduação. Essa é uma instituição pública e estratégia de Estado, suas produções atendem de crianças a idosos.

Sobre o inflável com símbolo de pênis? Provavelmente era uma arte em que unia a comemoração dos 120 da Fiocruz e sua arquitetura. Só a loucura enxerga um pênis no trabalho da Fiocruz.

Uma loucura sem modéstia.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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