20/04/2024 - Edição 540

Poder

Datafolha indica que 14% agem como rebanho ao confiar 100% no presidente

Publicado em 21/05/2021 12:00 -

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Há um naco de 14% da população, segundo a última pesquisa Datafolha, que acredita em tudo o que Jair Bolsonaro diz. Esse grupo vive em uma realidade paralela onde há a TV Globo é uma trincheira comunista, universidades são locais de produção em larga escala de maconha, indígenas são os responsáveis por destruir a Amazônia e a vacina da Pfizer pode transformar alguém em jacaré.

Esse grupo também acredita que a covid-19 é apenas uma gripezinha, que foi inventada pela China para uma guerra econômica, que cloroquina e ivermectina são a cura precoce que os grandes laboratórios querem esconder, que máscara e isolamento social são coisa de frouxo e que os números de óbitos estão inflados.

Só para efeito de comparação: entre a população em geral, 50% não confia nunca nas declarações de Bolsonaro e 34% confia apenas às vezes.

Esses 14% batem com aquilo que os levantamentos do Datafolha vêm apontando como o tamanho do bolsonarismo-raiz, grupo de seguidores incondicionais do presidente. Para quem acha isso pouco, saiba que isso representa mais de 29,5 milhões de pessoas. É daí, por exemplo, que brotam muitos dos golpistas que defendem que Jair dê um autogolpe com a ajuda das Forças Armadas.

Esse grupo estava com ele antes de o lavajatismo tornar-se aliado conjuntural do bolsonarismo. Parece não se importar com as rachadinhas dos salários de servidores públicos que atuavam nos gabinetes da família – pelo contrário, acham justo, afinal os Bolsonaro trabalham tanto pelo país. E não apenas consideram Fabrício Queiroz um injustiçado, mas veem nele um instrumento entregue por Deus para ajudar Jair Messias em sua missão.

Contudo, há outro grupo também interessante a ser analisado. Entre o 24% da população que considera o governo Bolsonaro ótimo ou bom, 48% acredita sempre em Jair, 47% confia às vezes e 5% nunca confia. Ou seja, parte dos que o aprovam sabe que ele mente, mas não se importa.

Nesses grupos, estão inseridos aqueles que veem este governo como uma oportunidade de passar por cima de regras e leis que tentam limitar a agressividade do capital. Empresários e investidores, que se beneficiam da política de terra arrasada do governo e celebraram quando o licenciamento ambiental foi queimado na Câmara dos Deputados na semana que passou. São sócios do regime e, portanto, corresponsáveis pelas mortes dele decorrentes.

Há também aqueles que defendem que o presidente deve usar todas as "armas" disponíveis, o que inclui boatos, notícias falsas e outras formas de desinformação, para combater o "inimigo", que inclui a esquerda, os ambientalistas, feministas, moradores de comunidades pobres, populações tradicionais, grupos LGBTQIA+, religiões de matriz africana… Ou seja, manter esse povo que acha que tem direitos iguais em seu devido lugar.

As mentiras de Bolsonaro são vistas por esse grupo como justificáveis instrumentos das guerras política e cultural que o bolsonarismo vem travando. Para eles, não importa se o presidente mentiu e agravou uma pandemia que já matou mais de 435 mil brasileiros. Mas se, ao final a fictícia mamadeira de piroca não for incorporada no material escolar.

Impeachment de Bolsonaro tem apoio de 49% dos brasileiros

A mesma pesquisa aponta que 49% dos brasileiros apoiam o afastamento do presidente Jair Bolsonaro por meio de um processo de impeachment. Outros 46% são contra.

Segundo o instituto, os números representam um empate técnico, mas essa é a primeira vez que a parcela favorável ao impeachment supera numericamente a fatia dos brasileiros contrários ao afastamento. Em março, pesquisa do mesmo instituto apontou que 46% eram favoráveis ao impeachment e 50% manifestavam posição contrária.

Segundo o Datafolha, o apoio ao impeachment é maior entre jovens de 16 a 24 anos (57%), moradores do Nordeste (57%), desempregados que procuram emprego (62%) e entrevistados que dizem ter muito medo do coronavírus (60%).

Já a reprovação ao impeachment chega a 52% entre homens e no Sul do país. Já a rejeição chega a 60% entre entrevistados que dizem não ter medo do coronavírus, 57% entre evangélicos e 56% entre assalariados registrados.

A nova pesquisa reflete outros levantamentos que apontam uma constante perda de apoio do presidente. Nesta semana, o Datafolha já havia revelado que apenas 24% dos brasileiros aprovam a gestão de Bolsonaro.

O presidente também apareceu bem atrás de Luiz Inácio Lula da Silva numa pesquisa que traçou cenários para a disputa presidencial de 2022, aparecendo com apenas 23% das intenções de voto no primeiro turno, contra 41% do petista.

O resultado desfavorável a Bolsonaro também ocorre num momento de crise econômica, sanitária e política, com o governo sendo acusado de incompetência e má gestão da pandemia, que já provocou a morte de 430 mil brasileiros.


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