16/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

A epifania da mãe do menino Henry e o perigo Pazuello

Publicado em 05/05/2021 12:00 - Rafael Paredes

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Assim que enterrou o filho de quatro anos, Monique Medeiros foi levada à casa do pai do vereador Dr. Jairinho para receber orientações do advogado do casal. O advogado apresentou a narrativa que ambos deveriam reproduzir em depoimento à polícia. A mãe da criança, por algum motivo, acreditava que a estratégia era para proteger ambos.

O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, está passando por intenso treinamento de media training para enfrentar as perguntas dos senadores na CPI da Covid instalada a mando do STF. A Comissão Parlamentar de Inquérito tem uma maioria de senadores que se declara de oposição ou independentes. Dentre esses, há parlamentares muito experientes, como o relator Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE).

Nas últimas semanas, Monique Medeiros identificou que a narrativa construída pelo advogado André Barreto tinha como principal objetivo poupar o provável executor do assassinato do menino Henry Borel. A professora apenas reforçaria a narrativa, mas não seria protegida por ela. Para tudo isso, o vereador Jairinho estaria pagando R$ 2 milhões à defesa. Identificada a estratégia, Monique mudou de advogado e passou a acusar o então namorado desse e de outros crimes.

Testemunhas dizem que Pazuello treme de medo nos treinamentos que vêm recebendo. Esse bastidor pode ser verdade, já que o general pediu para ou adiar seu depoimento na CPI ou fazê-lo por videoconferência.

Quem já viu CPIs antes, sabe que os parlamentares fazem de tudo para arrancar a verdade, para que o depoente confesse ou entregue alguém. Os senadores podem apelar para o nacionalismo de um militar ou ofertarem um acordo. Dizem que Pazuello teme sair preso de seu depoimento.

A revista Veja disponibilizou há algumas semanas uma entrevista bombástica do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten. Nas falas, Wajngarten expõe suas rusgas com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Parece estar abrindo o coração. Mas ninguém abre o coração para Veja.  Na Veja, se executa uma missão. Ao ser tão claro e taxativo de que a culpa da não compra de vacinas da Pfizer é do general, Wajngarten deixa transparecer uma estratégia. Fábio pareceu se esforçar para blindar o presidente da República e entregar Pazuello de bandeja para a CPI.

Já imaginaram se Pazuello tem o mesmo insight que Monique? Percebe que o treinamento patrocinado e a orientação são apenas para que ele reproduza uma narrativa? Que essa narrativa é para proteger alguém que não ele? O que será que pode acontecer?

Com certeza o Planalto faz esse cálculo que o Dr. Jairinho não fez.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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