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Eurodeputados pedem justiça

Publicado em 30/04/2021 12:00 -

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Num debate no Parlamento Europeu na quinta-feira (29), o Brasil voltou a ser alvo de duras críticas por parte de deputados, que pedem que o presidente Jair Bolsonaro seja "investigado". Numa resolução aprovada por maioria absoluta dos deputados, os europeus recomendam que autoridades que fizeram campanhas de desinformação sejam processadas e levadas à Justiça.

O documento aprovado não gera uma obrigação legal. Mas o fato de ter sido aprovado pelo Parlamento foi interpretado como um sinal do isolamento político do Brasil e da imagem desgastada de Bolsonaro na Europa.

O texto pede a ajuda dos europeus para o Brasil e para a região. Mas foi recebido como uma demonstração da recusa dos europeus em aceitar a estratégia adotada por Bolsonaro.

Na resolução, o Parlamento "lamenta que a pandemia tenha sido fortemente politizada, incluindo a retórica negacionista ou a minimização da gravidade da situação pelos Chefes de Estado e de Governo, e apela aos líderes políticos para agirem de forma responsável a fim de evitar novas escaladas".

O texto ainda "considera preocupantes as campanhas de desinformação relacionadas com a pandemia e apela às autoridades para identificarem e perseguirem legalmente as entidades que perpetram tais ações".

A resolução ainda pede uma maior luta contra a "desinformação online, notícias falsas e pseudociência" e indicou que esses foram "grandes motores da pandemia na América Latina". O texto ainda aponta "exemplos concretos que vão desde as "curas" de charlatães e milagres da COVID-19 a ataques políticos e campanhas de ódio contra certas comunidades e minorias".

O texto, usando uma formulação mais ampla, ainda cita como "alguns governos têm sido particularmente criticados por seguirem caminhos políticos perigosos no que diz respeito à pandemia da COVID-19, mostrando oposição a iniciativas sanitárias regionais e locais, incluindo ameaças de enviar o exército para refrear o encerramento e as restrições locais, e têm sido acusados de ignorar as diretivas fundamentais da OMS, as melhores práticas de gestão da pandemia e as diretrizes de saúde pública baseadas na ciência".

A meta, ainda que sem citar Bolsonaro, era acusar diretamente a gestão da pandemia no Brasil.

Bolsonaro cometeu "crimes de lesa-humanidade" e precisa ser investigado

O texto oficial, porém, não cita nomes. Mas isso não impediu que, no debate, o presidente brasileiro fosse poupado. Anna Cavazzini, deputada alemã do Partido Verde, foi contundente. "São quase 400 mil mortos no Brasil. É uma tragédia provocada por decisões políticas deliberadas. Para nenhum governo foi fácil. Mas tentar uma coisa, recusar é outra", disse.

"Desde o começo da crise, Bolsonaro se recusou a tomar decisões e rejeitou medidas cientificamente comprovadas. Ele reduziu a importância da pandemia, se opôs à vacinação e tentou ações em tribunas contra lockdown", alertou.

Ela também destaca como a fome triplicou e que a crise social já atinge 90 milhões de brasileiros. "Precisamos lançar um apelo ao Brasil: tome medidas com base na ciência", disse.

A portuguesa Isabel Santos denunciou "o mais irracional negacionismo de Bolsonaro e de ele ter feito tudo para a população não ser vacinada". "Não foi um erro. Mas irresponsabilidade deliberada. O tempo e o povo vão julga-lo", disse. Outras ainda o acusaram de ter "ajudado o vírus a matar".

Miguel Urban Crespo, eurodeputado espanhol, foi ainda mais duro. Para ele, a situação "dramática" do Brasil é resultado da "gestão criminosa de Bolsonaro". "No lugar de declarar guerra ao vírus, ele declarou guerra à ciência, à medicina e à vida. As mortes seriam evitadas. Sua necropolítica e sua política da morte constitui um crime contra a humanidade que deve ser investigado", defendeu.

"Hoje, Bolsonaro é um perigoso para o mundo todo e o povo brasileiro não merece", disse.

O mesmo discurso foi usado por Javi Lopez. Para ele, Bolsonaro é "um risco para a vida dos brasileiros e para toda a humanidade". "Estamos diante de um país que pode ser incubadora de novas cepas", alertou.

A eurodeputada Katalin Cseh, da Hungria, repetiu diante do Parlamento as frases de Bolsonaro, em que pediu para que a população deixe de chorar. "Nunca deveríamos chegar a esse ponto. O presidente optou por ser parte do problema", alertou.

Já a francesa Leila Chaibi foi clara: "a política criminosa de Jair Bolsonaro não é inocente. A tragédia aumenta".

Outro eurodeputado espanhol, Jordi Solé, do partido Esquerda Republicana da Catalunha, alertou que a gestão da crise sanitária pelo presidente brasileiro pode "transformar o país numa incubadora de novas cepas" do coronavírus.

A portuguesa Isabel Santos, do Partido Socialista, disse que a situação no Brasil é mais difícil por causa da "negação irracional" de Bolsonaro, a quem acusou de fazer "de tudo para que a população não se vacine".

"Não é um erro, mas uma irresponsabilidade deliberada", acrescentou.

Críticas do bloco conservador

Os parlamentares conservadores que participaram do debate também fizeram críticas, mas muitos deles evitaram citar o nome do presidente brasileiro. Para o português Paulo Rangel, do centrista Partido Social Democrata, o impacto da pandemia foi agravado "por erros políticos e visões negacionistas, como é o caso do Brasil".

Já o legislador hispano-venezuelano Leopoldo López, do conservador Partido Popular, afirmou que é necessário "destacar a negação da seriedade por parte dos dirigentes de alguns dos países com maior população".

"O negacionismo de Bolsonaro ajuda o vírus a matar ", afirmou Izaskun Bilbao, do Partido Nacionalista Basco, que integra o bloco liberal do Parlamento Europeu.

A Comissária Europeia para a Estabilidade Financeira, Mairead McGuiness, ressaltou na sessão plenária que a União Europeia já destinou 38 milhões de doses de vacina contra a covid-19 a 30 países latino-americanos através do consórcio Covax Facility, um programa apoiado pelas Nações Unidas que visa um acesso mais igualitário aos imunizantes.


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