25/04/2024 - Edição 540

Brasil

Congresso mostrará que lamenta 300 mil mortes se subir auxílio para R$ 600

Publicado em 25/03/2021 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Enquanto a vacinação em massa não vem, a única forma de frear o massacre de brasileiros pela covid-19 é adotar isolamento social. Mas para que quarentenas e lockdowns deem certo, é necessário que trabalhadores pobres saibam que, se ficarem em casa, seus filhos não dormirão com fome.

O Congresso Nacional precisa, portanto, pagar um auxílio emergencial decente e não aquele insulto de R$ 150 a R$ 375, por domicílio, proposto por Jair Bolsonaro e sua equipe econômica.

Uma garoupa e uma onça pintada são suficientes para comprar apenas 23% de uma cesta básica em São Paulo, 29%, em Belém e 31%, em Salvador, de acordo com levantamento mensal feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Por essa razão, uma carta assinada por 16 governadores e destinada, no último dia 24, aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal pede que o benefício seja no valor de R$ 600, com as mesmas regras do ano passado. Ou seja, com possibilidade de R$ 1200 por casa.

Acreditam que os valores propostos para a retomada do auxílio são insuficientes para a sobrevivência com dignidade em meio à segunda onda da pandemia e, portanto, não ajudam com o isolamento social. Os governadores do Acre, Amazonas, Distrito Federal, Rondônia, Roraima, Tocantins, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás e Santa Catarina não assinaram o documento.

A solução para a pandemia é a vacinação. Mas como Bolsonaro não encomendou doses o suficiente no ano passado, a imunização completa da população, que poderia vir em junho, só ocorrerá no final do ano ou em 2022. Até lá, precisamos de temporadas de isolamento e, portanto, de auxílio.

Isso sem contar que o governo Bolsonaro tem sido rápido para liberar armas e munição e facilitar a compra de agrotóxicos, mas não teve pressa para voltar com o benefício. O que teria salvado vidas e impedido um baque ainda maior na economia.

O Congresso Nacional pode emitir sinais de indignação à vontade para tentar se dissociar do negacionismo e da omissão, como fez, nesta quarta, o presidente da Câmara, Arthur Lira, ao dizer que a crise pode provocar um "remédio amargo". Amargo contra Bolsonaro.

Mas se quiserem provar que não são feitos do mesmo material que o chefe do Poder Executivo, terão que demonstrar para quem realmente trabalham. E aprovar um auxílio para ajudar a evitar que, daqui a alguns meses, estejamos chorando mais 300 mil mortos.

O que fará uma família com 150 reais para sobreviver por um mês?

Os números alarmantes do crescimento da pandemia de covid-19 no Brasil, com suas dramáticas consequências, tem levado muitos a afirmar que nos encontramos em um Estado de guerra. E, como acontece em toda guerra, a primeira vítima é sempre a verdade.

Mais de 70 milhões de pessoas no Brasil precisam hoje de uma renda básica emergencial digna, que garanta a elas o básico para sobreviver. Ao colocar a economia em primeiro plano como justificativa para não fazer a proteção social dessas famílias, o Governo aprova um limite de 44 bilhões de reais, reduzindo o auxílio emergencial e o número de beneficiários no pior momento da pandemia no país.

Escondidos no debate do ajuste fiscal e na disputa pela versão do tamanho da crise que estamos enfrentando, o Governo empurra a população para uma triste trincheira, em que fica exposta na linha de tiro.

Pelo mundo, vemos países enfrentando a pandemia com a compra de vacinas, com a imunização em massa, com informações precisas, distanciamento social e lockdown para evitar um colapso ainda maior ―humano, social, econômico. O Brasil ficou atrás na fila das vacinas e o Governo trava uma contraordem sobre as medidas sanitárias que protegem a população.

Somado a isso, vemos a ausência de respostas efetivas do ponto de vista da proteção social, sobre ter direito à vida, à proteção e à sobrevivência neste momento tão delicado e que resulta em uma crise humanitária sem precedentes no Brasil.

Garantir uma renda emergencial de 600 reais e 1.200 reais para mães solo virou, na fala do Governo, algo inconsequente e impossível do ponto de vista fiscal. Assim como a compra de vacinas, os medicamentos necessários para as UTIs, leitos, oxigênio, recursos humanos e todas as medidas que deveriam ser coordenadas pelo Ministério da Saúde, que acumulou dois ministros nos últimas dias sem ter nenhum.

Enquanto o mundo toma as medidas necessárias para a manutenção da vida, o Governo brasileiro segue como quem nada vê, nada ouve e nada fala ―ou melhor, quando fala, consegue, de forma inconsequente, disparar uma série de acusações e impropérios que não têm relação com a realidade.

Nessa guerra, organizações e movimentos sociais, além de pessoas não negacionistas, têm falado desde o início da pandemia sobre as consequências sociais nefastas causadas ou ampliadas pela covid-19, afirmando que não serão superadas enquanto a doença não for controlada por uma atuação competente do governo federal. E isso passa diretamente por políticas de saúde e de proteção social, sim.

Até mesmo banqueiros, economistas e empresários, em carta dura assinada esta semana e endereçada ao Governo federal, manifestaram essa preocupação e cobram mais vacinas, máscaras gratuitas e medidas de distanciamento social, rejeitando totalmente o falso dilema, que o presidente e seus ministros insistem em divulgar, de que, entre salvar vidas e garantir o sustento, é melhor ficar com a segunda opção.

Ultrapassamos a marca trágica de 3.000 mortes por dia e caminhamos para superar um total de mortes acumuladas de 300.000 ainda no mês de março, tudo associado à completa falta de políticas de renda aos pequenos, amparo e proteção aos empregos e uma política de renda emergencial condizente com o que estamos vivendo.

O que fará uma família que receberá 150 reais para sobreviver por um mês? A situação social é desoladora. Metade da população brasileira não tem proteção social para garantir o mínimo que permita manter o isolamento social.

O povo paga caro pela dualidade defendida com unhas e dentes pelo Governo, de que é impossível investir em vida sem comprometer a economia e o teto de gastos. A essa mentira somam-se outras: não dá para comprar vacina, não dá para manter uma renda digna, não dá para fazer isolamento social.

Resultado: pessoas pagam com a vida a incúria do Governo federal. Então, para os que, como nós, não estão preocupados com a conquista de territórios e de poder nesta guerra, o mais importante continua sendo salvar vidas.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *