28/03/2024 - Edição 540

Comportamento

Mulheres que atingem o orgasmo sozinhas, mas não conseguem quando em casal

Publicado em 02/03/2021 12:00 -

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Parece que hoje em dia, na época dos sugadores de clitóris, todas as mulheres podem desfrutar do clímax. Sim, agora pode haver mais mulheres capazes de fazer isso sozinhas, mas a realidade é que muitas, o que não conseguem é compartilhá-lo.

Se consultarmos alguma bibliografia, o estudo Ficción vs realidad en el sexo, realizado pela Bijoux Indiscrets, traz muita luz a esse respeito. Na pesquisa, 22,5% das mulheres entrevistadas disseram que não chegavam ao orgasmo durante a relação sexual e 30% reconheciam que seus orgasmos eram muito melhores durante a masturbação. De fato, até 52,1% das entrevistadas disseram que já fingiram um orgasmo.

Não são apenas números. Personalidades como Lily Allen admitiram fingir seus orgasmos. Durante a apresentação do novo vibrador da Womanizer, a cantora afirmou não ter tido um orgasmo até os vinte e tantos anos. Allen iniciou assim uma campanha a favor da masturbação feminina, uma vez que, segundo dados da Womanizer, os homens se masturbam em média 156 vezes por ano; as mulheres apenas 50. Mas o problema continua sendo que não nos masturbamos o suficiente ou são nossos parceiros que não sabem como nos estimular?

Não encontrar a pessoa perfeita

“É comum que muitas mulheres sejam capazes de se masturbar e chegar ao orgasmo sozinhas sem nenhum problema, mas, quando têm um encontro sexual, têm dificuldade em desfrutar e sentir esses orgasmos. Saber tê-los sozinha pode ajudar muito, mas não é uma garantia em si”, adianta a sexóloga Ana Lombardía.

Nesse ponto, geralmente acontecem duas situações. Uma das habituais é termos um parceiro estável e, por diferentes motivos, não sermos capazes atingir o orgasmo com ele. A pior coisa a fazer? Fingir e enganar não apenas a outra pessoa, mas enganar a nós mesmas. Porque quanto maior for a mentira, mais difícil será escapar dela.

Mas, cuidado, ter amantes de ocasião tampouco é um seguro de prazer garantido. Muito pelo contrário. “Quando vamos para a cama com uma pessoa nova ou que acabamos de conhecer, é comum que a relação sexual não seja totalmente fluida. É difícil que os dois se harmonizem, se comuniquem, se deixem levar… É normal que fiquem nervosos. Isso implica que muitas vezes não sentiremos tanto prazer, teremos dificuldade para nos excitar e chegar ao orgasmo”, destaca Lombardía. Se considerarmos que muitas vezes enfileiramos relacionamentos curtos durante longos períodos, não é tão raro passarmos um tempo fazendo sexo, mas sem desfrutar de orgasmos.

É importante ter em mente, neste contexto, que não existe uma única razão para ser um amante ruim. Ana Lombardía relata múltiplas situações para não sentir satisfação no sexo: não saber masturbar o parceiro, não saber abordar o sexo oral, ir direto demais à penetração, movimentar-se mal durante a mesma, não dar tempo ao prazer e acabar a relação quando acaba o prazer dele, ou simplesmente sentir que é muito desajeitado no modo de tocar e estimular, assim, em termos gerais. É claro que há muito a melhorar.

Os motivos, segundo a especialista, também são muitos. “Se a pessoa se sente muito insegura, se tem pouca experiência, se está muito obcecada em agradar ou, ao contrário, se é muito egoísta.”

Uma má combinação de fatores

Há anos a psicóloga Marina Castro faz oficinas sobre prazer, tanto para homens quanto para mulheres. Sua conclusão é que não é que sempre haja amantes ruins (isso também acontece, é claro), mas que o problema é uma má combinação entre muitos fatores. O coquetel perfeito do orgasmo impossível.

“Em muitos casos, tem a ver com atitude. Sozinhas, elas se concentram em desfrutar, mas quando estão em casal se concentram em agradar”. Por outro lado, você encontra muitas pessoas que desejam agradar o parceiro, mas não possuem as ferramentas para isso. E recorrem ao pornô, basicamente porque não encontram outra referência.

Um recurso que segundo esta psicóloga pode se tornar um problema no caso dos homens e do sexo com penetração: “Encontro gente com muitas dificuldades sexuais por isso, acreditam que a forma correta é ‘comparecer’ com um bom tamanho, uma boa ereção e durar o tempo suficiente para ela chegar ao orgasmo”. Como se fosse um exame. “No final, vivem o sexo com muita frustração por não cumprirem todos esses objetivos.”

Essa atitude também não facilita as coisas para elas. “Se você está com um parceiro o tempo todo pendente de se gosta do que ele faz ou não, de necessitar saber se ele o faz bem ou se comparece, também implica uma pressão.” A conclusão é que não devemos culpar um ou outro, mas assumir que ambos devem mudar a maneira como abordam o sexo.

Como Castro insiste, diante da falta de educação sexual, dos tabus e preconceitos que ainda existem em torno da autodescoberta e da sexualidade quando somos mais jovens, é lógico aprendermos por imitação. E existem poucos exemplos para além da pornografia. Por isso não é tão incomum acabar em uma oficina sobre sexualidade quando somos adultos. Embora pareça mentira, essas oficinas têm de tratar do básico, pois conhecemos a fisiologia do corpo humano em relação à reprodução, mas ninguém nos explica como funciona em relação ao prazer. “Desta forma entendemos por que a penetração é a prática sexual menos eficaz para atingir o orgasmo.”

Esta não é a única tarefa pendente. Às vezes, o orgasmo não chega não porque não tocamos nos pontos-chave, mas porque é nossa mente que não nos deixa alcançá-lo. Outro dos exercícios que Castro costuma propor em suas oficinas é permitir que as assistentes, principalmente as mulheres, completem uma frase: “A mulher que gosta de sexo é uma…”. E de acordo com ela, aparece de tudo. E nada bonito. Algo que obviamente condiciona o prazer. “Acabam pensando que precisam gostar de sexo, mas não devem gostar muito.”

Buscar juntos o orgasmo perdido

A solução para sair desse circuito é tão simples quanto complicada: melhorar a comunicação com o parceiro. Seja estável ou ocasional. A Sexacademy também tem especialistas em oficinas sobre sexualidade feminina. Uma delas é Lydia Parrilla, psicóloga, sexóloga e formadora. Ela diz que essa é a solução, mas nem sempre é simples. “Para muitas pessoas, falar sobre sexo é algo muito difícil.” E assim só conseguimos ampliar o problema ao infinito.

“Em nossas oficinas, o que procuramos fazer é criar um lugar de discernimento, onde não haja vergonha, onde possamos conversar sobre conceitos reais, sem medo. Desta forma, evitamos sair à procura dessa informação na internet, o local mais consultado e que cria mais confusões”.

Uma vez superada a vergonha, o que nos falta é um pouco de assertividade e empatia. Dizer a alguém que é um mau amante não é a melhor maneira de motivá-lo. “É fundamental que você tente mudar a situação com mensagens positivas. Isto é, em vez de dizer ‘você é péssimo/a na cama’, tente se concentrar no lado positivo. Por exemplo, faça-lhe pedidos do tipo ‘gostaria que…’, diz para concluir Lombardía. Tampouco é o ideal ter ‘a conversa’ bem na hora do sexo, quando estamos mais inseguros e expostos. Fazer isso tomando um vinho ou dando um passeio ajuda para que o assunto surja com menos tensão e possamos abordá-lo de um modo mais descontraído.


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