28/03/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Trabalho de jornalista é fácil, né? Não, não é

Publicado em 10/02/2021 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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Existe uma percepção (muito errada) de que o trabalho jornalístico é, em geral, algo simples de se fazer. Oras, qualquer um pode conversar com 2-3 pessoas e escrever alguma coisa, certo? Errado.

Deve sair na semana que vem um texto meu que comecei a trabalhar em… 2019! Levei mais de um ano entre ter a ideia, pesquisar, convencer um editor a pagar pela matéria, entrevistar mais de uma dezena de pessoas (pra acabar usando só uma parte do que coletei), escrever e passar por várias rodadas de edição.

Final de 2020, finalmente, tudo pronto.

Mas no fim do ano tudo para. Mais de um mês e o texto seguia na fila. Começa janeiro e uma das editoras me pede ainda mais trabalho, 3 novas rodadas de edição, converso de novo com uma fonte, coleto mais informações… E finalmente vai sair.

Claro, nem toda matéria leva tanto tempo ou é tão trabalhosa, mas muitas são. E em muitos casos o pagamento é virtualmente o mesmo se trabalhamos por um ano ou por 1 semana em um texto. Poucos são os meios que pagam de acordo com o trabalho, o tempo e o esforço. E a maioria paga mal (esse texto, no caso, até rendeu alguma coisa acima da média, mas nem de longe o suficiente diante de todo o trabalho que tive).

E o fato da maior parte dos lugares pagar mal significa que temos, nós freelancers, cada vez menos tempo para nos dedicarmos a textos longos e trabalhosos porque, no fim, precisamos de quantidade e não necessariamente de qualidade.

É um tremendo dilema. Claro que o melhor é ter tempo e ser bem remunerado para fazer grandes textos, mas não é o que acontece sempre – aliás, é raro.

Mas voltando ao raciocínio principal, jornalismo de qualidade leva tempo e não é nada fácil ou simples. Em média, para um texto mais aprofundado levo pelo menos 2 meses trabalhando. Algumas vezes mais, outras menos, mas no fim aquele texto que alguém leva 10 minutos lendo teve um processo de centenas de horas por trás. Sei de textos que levam muito mais tempo, anos de pesquisa, de apuração, de investigação. Mas esses parecem ser cada vez mais raros.

Porque digo isso? Honestamente não sei. Talvez um desabafo em tempos de dificuldade, passaralhos, pagamentos minguando, cortes e redações cada vez mais enxutas e freelancers nadando contra a maré em uma indústria em crise.

REVOLTOSOS

Quais as diferenças e semelhanças entre a Revolta da Vacina de 1904 e a maneira pela qual Bolsonaro lida hoje com a pandemia de Covid e a vacina? Expliquei para o Zócalo Public Square.

Em 1904 a população do Rio de Janeiro se revoltou contra a obrigação imposta pelo governo de se vacinar. Hoje os papéis foram trocados e enquanto a população quer se vacinar, é o governo que se revolta. Leia AQUI.

PERDEU, FACHO!

E o bolsominion Douglas Garcia perdeu MAIS UM processo por ter criado uma lista de antifascistas para expor e ameaçar opositores políticos. Leia AQUI.

Eu também estou na lista, o processei e contei a história (falta o juiz decidir, faz meses que ele senta no processo). Leia AQUI.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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