28/03/2024 - Edição 540

Poder

Líderes religiosos reforçam pressão por impeachment de Bolsonaro

Publicado em 29/01/2021 12:00 -

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Líderes evangélicos e católicos vão aumentar a pressão pela abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro no Congresso. Em um movimento apresentado como uma “frente de fé”, um grupo de religiosos formalizou, no último dia 26, na Câmara dos Deputados, um pedido de afastamento de Bolsonaro, sob o argumento de que ele agiu com negligência na condução da pandemia de covid-19, agravando a crise. É a primeira vez que representantes desse segmento encaminham uma denúncia contra o presidente por crime de responsabilidade.

O pedido de impeachment é assinado por religiosos críticos ao governo. Na lista estão padres católicos, anglicanos, luteranos, metodistas e também pastores. Embora sem o apoio formal das igrejas, o grupo tem o respaldo de organizações como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, a Comissão Brasileira Justiça e Paz da Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e a Aliança de Batistas do Brasil.

“Uma parcela da igreja deu um apoio acrítico e incondicional ao Bolsonaro independentemente do discurso que ele defendia. Queremos mostrar que a fé cristã precisa ser resgatada e que a igreja não é um bloco monolítico”, disse o teólogo Tiago Santos, um dos autores do pedido de impeachment.

As falhas do governo durante a crise do coronavírus, na esteira de idas e vindas sobre a importação de vacinas da China e da Índia, elevaram a temperatura política. Partidos de esquerda como PT, PDT, PSB, PSOL e PCdoB, além da Rede, também protocolaram na Câmara, na quarta-feira, 27, um outro pedido de afastamento de Bolsonaro, desta vez com o mote “Pelo impeachment, pela vacina e pela renda emergencial”. As siglas adiaram a formalização da denúncia, antes prevista para esta terça-feira, justamente a pedido dos religiosos, que temiam confusão entre os dois movimentos.

“Nitidamente, há crime de responsabilidade. São 15 crimes que estão colocados neste novo pedido e que apenas reforçam a condução não só de forma desastrosa, mas – por que não dizer – genocida, do atual presidente da República”, afirma a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), uma das parlamentares que compareceram ao protocolo do pedido de impeachment na Câmara.

Há um conjunto de cristãos que não apoia iniciativas de Bolsonaro

A secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Romi Bencke, afirma que o pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro, apresentado por lideranças religiosas se dá, entre outras coisas, porque uma parcela dos cristãos não se sente representada pela conduta do presidente na pandemia.

O pedido das igrejas tem como base “o manejo criminoso das políticas sanitárias durante a pandemia, o não acesso à vacina e o desprezo pela vida dos brasileiros”, como detalha o documento. A peça foi produzida pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e reúne assinaturas da Frente Ampla Cristã.

“A gente sabe que Bolsonaro tem uma boa base de apoio entre as bases conservadoras das igrejas. Então, a gente avaliou que seria muito importante fazer esse contraponto e dizer ‘tem um conjunto de cristãos que não apoiam e condenam esse tipo de iniciativa do governo Bolsonaro’”.

A pastora luterana aponta que o presidente comete crimes de responsabilidade durante a pandemia por se ausentar das obrigações impostas pelo cargo. “A responsabilidade primeira de oferecer suporte à população, à sociedade, tanto [pra] que as pessoas possam se prevenir quanto pra fortalecer o sistema público de saúde, é do governo federal, e isso não aconteceu”, diz, ao mencionar, por exemplo, o fim do auxílio emergencial.

A secretária-geral do Conic destaca que os signatários do pedido de impeachment estão “em campanha” pela prorrogação do auxílio, porque é algo “fundamental para as pessoas em vulnerabilidade econômica”.

“O desemprego no Brasil aumentou significativamente durante a pandemia, então, é dever do Estado garantir que esses cidadãos tenham recursos para se manter durante este período e até depois desse período, porque a gente vai precisar reestruturar o país. Isso não vai ser de um dia pro outro”, argumenta Romi Bencke. 

Ao contestar o discurso negacionista entoado por Bolsonaro, a pastora diz ainda que a comunidade religiosa signatária do pedido de impeachment apoia as vacinas, “independentemente da sua origem”. Ela afirma também que a imunização é algo relacionado às concepções cristãs.  

“Se vacinar não é uma decisão única e exclusivamente individual, mas sim uma responsabilidade coletiva, de amor ao próximo, porque, se eu tenho como princípio de fé o cuidado, o respeito à vida, o amor ao próximo, eu preciso concretizar isso de forma prática. Não posso transformar o amor em retórica, e um gesto de amor hoje é o gesto da vacinação”.

Por fim, a pastora afirmou que as igrejas também têm “reforçado” o coro em defesa das vacinações já existentes no país antes do início da imunização contra a covid por entender a relevância sanitária do processo.

53% apoiam impeachment de Bolsonaro, mostra pesquisa Atlas

Para 53% da população brasileira é hora de submeter Jair Bolsonaro a um processo de impeachment. O número emerge da pesquisa Atlas divulgada no último dia 24, quando surgem carreatas em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro pedindo a destituição do mandatário e o tema volta a ganhar atenção em Brasília em meio ao recrudescimento da pandemia e a crise do oxigênio em Manaus. O apoio ao impeachment ―que se espalha em todas as regiões e faixas de renda, mas é mais forte entre as mulheres e no Nordeste― está no patamar mais alto desde maio, quando alcançou 58% na série histórica medida pela empresa.

“Nós acompanhamos de perto esse número e há volatilidade, mas parece haver uma estabilidade desse patamar mais alto de apoio ao impeachment”, analisa Andrei Roman, CEO do Atlas, comentando o levantamento que tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos e cujas entrevistas foram encerradas neste domingo. “53% é um limite ainda muito perto entre ter maioria ou não ter maioria. Se esse número chegar a 60%, aí podemos falar de uma maioria contundente que coloca pressão sobre o Congresso como foi com Dilma Rousseff”, segue Roman.


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