28/03/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Em obras, nova clínica vai modernizar reabilitação de animais do Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica

Publicado em 27/01/2021 12:00 -

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Referência nacional no tratamento de animais selvagens vítimas de acidentes e do tráfico, o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), instalado em Campo Grande, vai ganhar uma nova clínica. As obras de construção da unidade veterinária estão em andamento, 20% executadas, e devem ser entregues no final deste ano.

Segundo a Agência Estadual de Empreendimentos (Agesul), que fiscaliza a construção do prédio, a obra está na fase inicial da superestrutura, que é a edificação das bases de concreto, vigas e pilares. 

Orçada em R$ 3,8 milhões, a nova unidade de saúde terá espaços administrativos, salas de cirurgia, ambientes para quarentena e laboratórios para exames. O hospital veterinário vai modernizar o atendimento aos bichos das mais diversas espécies que vivem no Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica e foram resgatados com problemas de saúde.

“Luta antiga, a nova clínica vai dar uma importante estrutura para o trabalho de recuperação dos animais silvestres. Além de ampliar o espaço, (a obra) ainda dará melhores condições de trabalho para os servidores e possibilitará parcerias. O local poderá funcionar como escola de residência para cursos de veterinária e biologia, entre outros, e formar mão de obra especializada”, destacou o governador Reinaldo Azambuja no lançamento da obra, em julho de 2020.

Coordenadora do Cras, a médica veterinária Aline Duarte explica que a nova clínica vai concentrar em um único lugar todas os atendimentos aos animais selvagens, como triagem, exames, atendimento clínico, cirurgias e reabilitação. “Hoje o serviço é distribuído em vários prédios e feito com instituições parceiras. Com o novo hospital, tudo será concentrado no Cras, o que dará mais agilidade e efetividade ao atendimento”, conta.

Trabalho de excelência

O Cras foi criado em julho de 1987 para recepcionar, triar e destinar os animais silvestres apreendidos em operações de combate ao tráfico, atropelados nas rodovias estaduais ou ainda entregues voluntariamente pela população. Foi um dos primeiros Centros de Triagem de Animais Silvestres criados no Brasil e é, atualmente, o mais importante da categoria.

“Junto com instituições parceiras, fazemos um trabalho de excelência, superando limitações e alcançando objetivos, conseguindo um bom retorno na quantidade de animais tratados”, afirma Aline. Entre 70% e 80% dos animais que entram na unidade são tratados, reabilitados e devolvidos à natureza. O restante acaba perdendo a vida ou sendo transferido para zoológicos, instituições científicas ou criadouros – quando não podem ser reinseridos no habitat natural.

Entre mamíferos, aves e répteis, atualmente, cerca de 250 animais estão em tratamento no Cras. Mas a unidade já chegou a atender, simultaneamente, 600 bichos. “Recebemos em média 800 animais no primeiro semestre de cada ano e 1.800 no segundo. Isso por causa da primavera, que é época de reprodução e muitos filhotes acabam vítimas de tráfico, como filhotes de papagaios, por exemplo”, explicou a veterinária.

Procedimentos inéditos

Secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck lembrou que o Cras é pioneiro no mundo em procedimentos avançados, como o implante de bico em uma arara Canindé realizado com sucesso em março de 2020, que repercutiu nos meios científicos internacionais.

O Centro de Reabilitação também fez uma prótese em impressora 3D para implantar em um mutum, pássaro de grande porte que foi vítima de atropelamento.

Recentemente, a unidade reabilitou uma onça pintada resgatada dos incêndios que atingiram o Pantanal, em Corumbá, no ano passado. O mamífero teve as patas queimadas e o pulmão comprometido por causa da fumaça produzida pelo fogo. Batizado de Jou Jou, o animal foi resgatado em novembro de 2020 e reinserido no bioma em janeiro deste ano.

As aves formam a maioria dos animais atendidos no Cras, cerca de 70%. Mas atendemos todos os bichos que precisam de cuidados”, disse Aline. Os animais mais raros tratados na unidade foram a onça pintada e o lobo-guará.

“É um desafio diário, pois temos uma fauna muito rica, que exige conhecimento das mais diversas espécies. Papagaios filhotes, por exemplo, precisam de alimentação de três em três horas”, contou. Para ela, o novo hospital vai dar mais agilidade no restabelecimento do animal, antes de reabilitá-lo e devolvê-lo à natureza.

Onça solta no Pantanal já se alimentou e até atravessou o Rio Paraguai a nado

A onça Jou Jou, devolvida ao Pantanal na semana passada fez sua primeira alimentação na noite do último dia 23. Ela comeu uma capivara na região onde foi solta, na Serra do Amolar. E mais, o animal atravessou a nado o Rio Paraguai.

O médico veterinário do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, Lucas Cazati, que foi o responsável pelo tratamento do animal, disse que estas primeiras informações mostram que a onça está recuperada, “sadia” e reabilitada para seu habitat natural.

A onça, um macho de 87 quilos, devolvida à mata na última quinta-feira (21), é monitorada por uma coleira que a cada hora emite um sinal, capturado pelo satélite e retransmitido ao software de monitoramento, que é feito por GPS e sinal VHF.

O médico veterinário, Diego Viana, do Instituto Homem Pantaneiro, responsável por fazer este monitoramento, explicou que as informações colhidas do GPS vão mostrar o que o animal fez no dia anterior, e que o sinal (VHF) emite a sua localização e distância em tempo real. Ao todo serão 24 informações diárias.


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