28/03/2024 - Edição 540

Campo Grande

Fisioterapeutas da SESAU e da UFMS atuam na recuperação de sequelas da Covid-19 em Unidades Básicas de Saúde

Publicado em 19/11/2020 12:00 -

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“Minha mãe ficou 46 dias internada, 30 dias entubada devido à Covid. Quando recebeu alta, passou a sofrer com tonturas, muita dificuldade de locomoção e escaras pelo corpo. Se não fosse este atendimento domiciliar não sei como a teríamos tratado. A fisioterapeuta e a equipe do NASF (Núcleo Ampliado de Saúde da Família) vêm toda quarta-feira na nossa casa”, afirma Joelma Loureiro, moradora do bairro Maria Aparecida Pedrossian, falando de sua mãe, Maria Elir, de 72 anos, e do atendimento realizado por uma fisioterapeuta do NASF e por estudantes de fisioterapia da UFMS, participantes do projeto “Formação em reabilitação pós Covid-19 para fisioterapeutas em projeto de colaboração entre SESAU e UFMS” e pela equipe multidisciplinar do NASF.

Maria Elis é uma das milhares de pessoas que sofrem com sequelas provocadas pela Covid-19 e que precisam de atendimento para retomarem suas vidas.

Após quase nove meses do registro do primeiro caso do novo Coronavírus no país, o desafio do sistema de saúde se multiplica. Além do aumento do número de casos em uma provável “segunda onda”, muitos “recuperados” têm apresentado sequelas ou sintomas prolongados.

Em Mato Grosso do Sul, a pesquisa “Acompanhamento de pacientes pós-Covid-19 em MS”, realizada por James Venturini, biólogo e professor do “Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da UFMS”, mostrou que 30 dias após a infecção pela Covid-19, 68% dos pacientes acompanhados ainda apresentavam algum sintoma; e 60 dias depois, 49% ainda tinham sequelas. Entre as principais: fraqueza, cefaleia, tosse, alteração do olfato e paladar, dores musculares e falta de ar.

Pelo Brasil, outras pesquisas mostram o mesmo. De 17.044 pacientes que ficaram internados nos hospitais municipais em São Paulo por Covid-19, por exemplo, 7.136 precisarem de atendimento posterior devido a sequelas: 42% do total.

Infectologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e especialista no tema, Rafael Galliez afirma que há poucas pesquisas nacionais sobre o assunto. A maioria está em desenvolvimento. Nem o Ministério da Saúde fez essa conta ainda.

“Do ponto de vista clínico, não é correto considerar um paciente recuperado apenas a partir do teste PCR negativo. A recuperação é complexa”, diz Rodrigo Stabeli, pesquisador da Fiocruz e professor de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Especialistas do Instituto de Reabilitação Lucy Montoro (SP), que recebe pacientes que tiveram alta em outros hospitais, se deparam com várias faces do problema. A principal é a insuficiência respiratória. Paralelamente, muitos pacientes apresentam problemas de locomoção.

Um dos estudos pioneiros sobre o assunto, do Hospital Policlínico Universitário Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, indicou, em julho, que apenas 12,6% dos participantes não apresentaram sintomas persistentes depois da cura. Do restante, 32% tiveram um ou dois sintomas e 55%, mais de três. As sequelas mais persistentes foram fadiga (53,1%), dificuldade de respirar ou dispneia (43,4%), dor nas articulações (27,3%) e dor no peito (21,7%). 

Segundo Carolina Marinho, professora de clínica geral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e responsável por pesquisa sobre as possíveis consequências a longo prazo do novo Coronavírus, as sequelas podem ser tanto pela ação do vírus quanto por causa da intubação ou ventilação mecânica.

Portanto, mesmo que com dados ainda limitados, em todo o mundo há relatos de que uma boa parte dos pacientes recuperados da Covid-19 permanecem com sintomas por um tempo prolongado, e podem evoluir com disfunções em médio e longo prazo, afirma a Organização Panamericana de Saúde (OPAS).

Quanto mais cedo os pacientes iniciam a reabilitação, melhores serão a resposta e a recuperação funcional. Ainda, a reabilitação realizada no território (a região no entorno de cada unidade de saúde) promove maior adesão ao tratamento.

“Uma abordagem precoce pós Covid-19 possibilita o restabelecimento da saúde em menor tempo, bem como evita que complicações se instalem, promovendo qualidade de vida para o paciente e sua família”, explica Datiene Rodrigues Bernal, fisioterapeuta do NASF da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (SESAU).

Segundo Thanara dos Santos, fisioterapeuta do NASF em Campo Grande, a ação das Equipes de Saúde da Família na identificação dos pacientes pós-Covid-19 é de extrema importância. “Considerando as sequelas comumente apresentadas (alterações respiratórias, musculoesqueléticas e neurológicas), é vital priorizar o manejo dessas condições no território. Em casos mais críticos, onde haja necessidade de tratamento em clínicas especializadas, esses profissionais qualificarão o encaminhamento”, pondera.

Em Campo Grande

Diante deste desafio, seis professores e uma servidora administrativa do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), juntamente com alunos do curso, fisioterapeutas da “Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade” da SESAU, alguns fisioterapeutas do NASF campo-grandense e da “Unidade Especializada em Reabilitação e Diagnóstico” (UERD) da SESAU estão realizando, desde setembro, uma formação para qualificar o grupo no atendimento pós Covid-19. Hoje, a “Formação em reabilitação pós Covid-19 para fisioterapeutas em projeto de colaboração entre SESAU e UFMS” reúne 36 participantes.

“Esse projeto também conta com o auxílio dos profissionais de saúde das Unidades Básicas de Saúde da Família, que encaminham o contato desses pacientes que, as vezes, sem internação, apresentam sintomas como fadiga, falta de ar e dores articulares em decorrência da infecção pelo vírus. Esta atividade é de suma importância pois será o início da triagem destes pacientes. Nesta triagem é possível, com poucos recursos, fazer a reabilitação dos pacientes menos graves dentro da própria UBSF. Uma porta de acesso aos usuários do SUS tão carente dos serviços de reabilitação, mais especificamente da fisioterapia, primordial para o pleno restabelecimento destas pessoas”, afirma Fátima Del Fava, fisioterapeuta da UFMS.

Os pacientes que precisam do tratamento pós Covid-19 devem ir até a uma Unidade Básica de Saúde apoiada pelo NASF (confira a lista abaixo) e solicitar uma avaliação pela Fisioterapia. O atendimento é feito em grupos, nestas próprias Unidades, ou à domicílio, quando possível. A triagem do tipo de atendimento é feita após uma avaliação, priorizando aqueles que têm mais dificuldade de deslocamento até à Unidade, ou aquelas famílias com mais de um caso de sequelas.

Segundo Bianca Espinosa dos Santos, aluna do 10º semestre do curso de Fisioterapia da UFMS, o atendimento atenua ou suprime as sequelas dos pacientes pós-Covid-19. “A importância do nosso atendimento é promover a funcionalidade e atenuar as sequelas, promovendo uma rede de apoio para as famílias. Para a formação acadêmica, esta vivência fomenta os conhecimentos sobre as atividades exercidas na Atenção Básica e a importância do fisioterapeuta inserido no território para um atendimento humanizado destes pacientes”, ressalta.

Para Sidney Afonso Sobrinho Junior, que também é aluno do 10º semestre do curso de Fisioterapia da UFMS, a identificação de pacientes acometidos pela síndrome pós-Covid-19 ainda é um desafio na atenção primária, assim como são limitados os recursos e parâmetros de assistência a essa nova doença.

“A atenção primaria é a porta de entrada do SUS. O projeto permite que tratemos os pacientes pós Covid-19, garantindo a eles e sua família o atendimento de reabilitação dentro do próprio território. Mesmo com recursos mínimos e dificuldades, podemos fazer muito por nossa população e ajudar aqueles que necessitam de uma atenção especial”, reforça Aryane Virgini Esposito, fisioterapeuta da residência multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade/SESAU.

“Participar do processo de reabilitação pós Covid-19, durante o programa de residência, tem se revelado um desafio. Ao mesmo tempo é enriquecedor, visto que os usuários têm manifestado sequelas diversificadas. Poder contribuir para que os usuários recuperem suas funções e capacidades é muito gratificante, ainda que essa nova demanda provoque inseguranças pelo fato de ser uma doença que ainda precisamos compreender melhor”, reforça Dayane Cristina Ferreira Marques, também fisioterapeuta residente da SESAU.

Parceria entre UFMS e SESAU

O compromisso entre a UFMS e os profissionais que trabalham nos serviços, por meio de projetos como esse, é imprescindível para que a formação dos futuros profissionais da saúde contemple o desenvolvimento das competências necessárias para atender às necessidades da população.

“A formação compartilhada entre professores e profissionais nos serviços de saúde permite também que os estudantes, ao aprenderem, intervenham na realidade do trabalho fomentando novas possibilidades de atuação profissional, em um movimento solidário que envolve os usuários dos serviços, os profissionais, estudantes e professores para o desenvolvimento das melhores práticas e resultados em saúde”, diz Laís Alves de Souza Bonilha, professora do curso de Fisioterapia da UFMS e coordenadora da “Formação em reabilitação pós Covid-19 para fisioterapeutas em projeto de colaboração entre SESAU e UFMS”

Laís reforça, ainda, o fortalecimento da responsabilidade social das universidades em promover o desenvolvimento da comunidade em que está inserida, como a valorização e fortalecimento do SUS, “uma necessidade que pode ser contemplada por meio dessa proposta”, finaliza.

Unidades Básicas de Saúde e Unidades Básicas de Saúde da Família apoiadas pelas equipes NASF da SESAU

Jardim Seminário, São Benedito, Vila Corumbá, Vila Nasser, Paradiso, Zé Pereira, José Abrão, Sírio Libanês, Azaleia, Nova Lima, Fernando Arruda, Vida Nova, Marabá, Mata do jacinto, Estrela Dalva, Maria Aparecida Predrossian (MAPE), Noroeste, Arnaldo Estevão Figueiredo, Cidade Morena, Moreninha, Mário Covas, Paulo Coelho Machado, Alves Pereira, Macaúbas, Los Angeles, Cohab, Oliveira, Jardim Batistão, Portal Caiobá, Aero Rancho IV, Nova Esperança, Tarumã, São Conrado, Antártica, Vila Fernanda, Iracy Coelho, Botafogo, Vila Carvalho, Cophavila, Dom Antônio, Parque do Sol, Coronel Antonino, 26 de Agosto, Estrela do Sul, Aero Itália, Ana Maria do Couto, Serradinho, Itamaracá e Tiradentes.


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