29/03/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Entre médicos formados pela UEMS, indígena quer inspirar jovens a acreditarem na educação

Publicado em 03/11/2020 12:00 -

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“É uma conquista imensa para meus familiares e amigos, e carrego comigo, inspirações de luta e determinação, cujo papel da minha mãe, Maria Lucia, como liderança indígena representa para mim força e coragem! Espero que eu consiga inspirar e motivar mais pessoas, que assim como eu, acreditei na educação: Esse é nosso maior bem, e ninguém tira de nós”, enfatiza Eliadja Raiany Freire de Moura, de 31 anos.

Ela integra o grupo de três indígenas formados na primeira turma de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Eliadja é indígena Pankararu, do município de Tacaratu em Pernambuco. A princípio pretende ficar em Mato Grosso do Sul, retribuindo com trabalho no Estado que a acolheu, e futuramente retornar para o seu Estado.

A médica recém formada destaca que as cotas são uma importante iniciativa de promoção da igualdade e de oportunidades, com o intuito de introduzir modificações de ordem cultural à medida que há diversidade. “Um princípio do Sistema Único de Saúde (SUS) que retrata muito bem esse sistema é a equidade: tratar de forma desigual os desiguais. E quando falo desigual, não coloco na posição de vitimizado, mas me volto a todos aqueles que buscam nas oportunidades oferecidas, se destacar pela sua força de vontade, e em ter sua história e de sua família mudada para melhor!”, ressalta.

O diploma vem cheio de simbologias e ela se sente grata não só por ser agora a primeira médica mulher da família, mas especialmente por realizar esse sonho na primeira turma de Medicina da UEMS representando seu povo indígena. “Esse curso foi meu maior sonho, e hoje faço parte dessa história, construída por diversidades, pessoas de locais diversos do Brasil unidos pela vontade de fazer uma medicina de excelência!  Esse curso foi desafiador e apaixonante vivenciá-lo! Ele estimula o aluno a dar seu melhor e querer fazer uma medicina mais humana, mais sensível às questões biopsicossociais! Nos ensina a sermos resilientes, e que podemos fazer a diferença para melhor, onde quer que estejamos, pois está em nossa essência!”, reflete Eliadja Raiany.

A UEMS foi a primeira universidade Brasileira a garantir inclusão de indígenas com a reserva de 10% de vagas nos cursos de graduação oferecidos pela instituição. A Vice-reitora da UEMS, a professora Celi Corrêa Neres, ressalta que UEMS tem na sua história a marca do sistema de cotas e da inclusão social. 

“O trabalho que a UEMS desenvolve em relação a toda a política de inclusão e, especificamente a política de cotas, é a materialização da própria missão da UEMS no sentido de permitir o acesso à educação superior para grupos que historicamente foram alijados desse processo”, destacou a vice-reitora que é especialista na área de Educação Especial.

A UEMS também foi a terceira Universidade no Brasil a adotar cota racial de 20% das vagas para negros em todos os cursos. Na 1ª Turma de Medicina da UEMS se formaram nove cotistas negros. Entre eles, Ronnyel dos Santos Pereira, de 25 anos, natural de Teresina, Piauí. Ele celebra esse momento e destaca que o sistema de cotas é de extrema importância, pois consegue fazer com que indivíduos negros e da periferia, como ele, consigam atingir posições sociais ainda dominadas por brancos. 

“Foi uma experiência como nenhuma outra. Na universidade tive tempo de me empoderar, reinventar e ter a consciência da importância de ser um homem negro em um curso de medicina. Acredito que ainda falta muito para que uma turma de formandos de medicina no Brasil seja composta por uma grande quantidade de negros. Porém a UEMS está no caminho certo para que essa modificação social seja possível”, afirma o médico formado pela UEMS Ronnyel Pereira. 

Primeira Turma de Medicina

A UEMS realizou, no dia 21, a solenidade de Colação de Grau da 1ª Turma de Medicina desta Universidade que formou 47 médicos de 14 Estados brasileiros. A cerimônia ocorreu em sistema de Drive In, no Estacionamento do Bloco A da Unidade Universitária de Campo Grande.

Dos formados na turma “Dr. Flávio Renato de Almeida Senefonte”, dezesseis são de Mato Grosso do Sul, doze de São Paulo, três de Minas Gerais, dois do Rio de Janeiro, um de Pernambuco, um de Tocantins, um da Bahia, dois de Goiás, dois de Mato Grosso, um de Rondônia, três do Paraná, um de Alagoas, um do Piauí e um do Maranhão. Trinta são do sexo feminino e dezessete do sexo masculino, sendo que três são cotistas indígenas e nove cotistas negros. Com esta configuração, a primeira turma se consolida como um Grupo que representa todos os Estados do país.

O curso, criado em 2015, teve o total de R$ 1, 5 milhão de investimento feito pelo Governo Estadual nos últimos anos, desde infraestrutura à contratação de docentes, passando pela aquisição dos materiais didáticos – livros e demais itens.


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