25/04/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Bombeiros superam cansaço, calor e dificuldades para controlar incêndios no Pantanal

Publicado em 02/10/2020 12:00 -

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A superação ao enfrentar altas temperaturas e dificuldades de acesso que levam à exaustão, poucas horas de sono e a concentração para manter o equilíbrio emocional, foram situações desafiadoras para os bombeiros de Mato Grosso do Sul e do Paraná durante dez dias de combate aos focos de calor na região da Serra do Amolar, 220 km ao Norte de Corumbá.

O êxito da operação desencadeada pelo Governo do Estado, por meio da Semagro (secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), elevou o grau de satisfação da guarnição e todos os bombeiros se sentiram gratificados pelo sucesso alcançado e a oportunidade de defender um bioma patrimônio da humanidade.

“Foi uma experiência nunca vivida, nos proporcionou enriquecimento profissional e pessoal”, traduziu a tenente paranaense Luisiana Guimarães, 36, que esteve, por diversas situações, à frente do fogo. Na segunda-feira, 28, ela passou 12 horas de grande tensão no vale da serra, onde o fogo avançava rapidamente para uma área de 70 mil hectares de reservas.

Navegação no limite

A força-tarefa estruturada pelo Estado, que em alguns momentos chegou a contar com mais de 70 combatentes, entre bombeiros, brigadistas e voluntários das organizações não-governamentais, desempenhou a contento duas missões: proteger as populações ribeirinhas e a Serra do Amolar, lugar de relevância para a conservação da biodiversidade do bioma.

O efetivo dos bombeiros subiu o Rio Paraguai no dia 23 de setembro, no navio Paraguassu, da Marinha de Ladário, que navegou no limite devido ao baixo nível de água com a seca: 150 km. Os 90 km à frente, até o Parque Nacional do Pantanal, na divisa de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, foram feitos de lancha, navegando à noite entre bancos de areia e pedra no fundo do rio.

“O Pantanal é um terreno que dificulta o combate às chamas”, relata o tenente bombeiro Jonatas Lucena, de Corumbá. “A temperatura excessiva, acima de 40 graus, causa muito desgaste, assim como os deslocamentos pelo curso do rio, em até 2h, ou pelo solo, carregando equipamentos pesados por 10 a 15km. E encontramos ainda muito brejo, atolando até os joelhos. ”

A “guerra” no Amolar

Divididos em dois barcos, os bombeiros priorizaram as ações na área ribeirinha da Barra do São Lourenço, onde vivem mais de 200 pessoas. A comunidade vive da venda de iscas, peixes e artesanato e foi ameaçada com fogo. Algumas famílias foram retiradas de suas casas, abrigando-se na escola municipal, e toda a área foi protegida com aceiro.

O maior desafio foi combater o fogo que se alastrou pelo entorno da serra, na sexta-feira, 25. Os bombeiros, que se encontravam no Rio Cuiabá, distante 45 km da sede da reserva Eliezer Batista, atenderam a emergência vinda pelo rádio transmissor e se uniram aos brigadistas e aos funcionários para debelar as chamas, que ameaçavam chegar às edificações.

“Enfrentamos outra realidade em relação ao nosso Estado”, conta o tenente paranaense Pedro de Faria, 27. “Dificuldades de acesso, muito cansaço e carga de estresse que não vivenciamos, além da potencialidade dos incêndios, situação que mexe com o seu psicológico. Mas ficamos extremamente satisfeitos e gratificados por participar dessa ação, fazendo o diferencial. ”

Para conter o fogo e não deixá-lo atingir a Serra do Amolar, o que ocorrendo tornaria incontrolável a situação, os bombeiros se revezaram em uma longa e exaustiva viagem por 8 km, usando barcos, trator e quadriciclo, além da caminhada com equipamentos nos ombros. O trabalho diurno e noturno foi compensado com o controle das chamas, ao quinto dia.

Instituto pede doações de água mineral para brigadistas

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP), responsável pela gestão de algumas reservas da Serra do Amolar, está arrecadando doações de água mineral para os brigadistas que auxiliam no combate às queimadas no bioma. De acordo com Ângelo Rabelo, presidente do Instituto, a ideia é "melhorar minimamente as condições" dos cerca de 64 profissionais e voluntários que atuam contra as chamas na região da Serra do Amolar.

Ainda segundo o presidente do IHP, os trabalhos seguem intensos. "O fogo segue propagando em todas as direções e temos muitos brigadistas atuando em diversas frentes contra as chamas. O problema é que as condições da temperatura afetam a produtividade dos nossos brigadistas, devido a desidratação", alerta Rabelo.

Para piorar as condições, o estado enfrenta, nesta semana, um recorde histórico de calor. Em Corumbá, na região pantaneira, os termômetros chegaram a marcar 43°C. Temperatura que aumenta significativamente para quem está em contato direto com o fogo. "A ideia é a gente arrecadar bastante água potável, para fazer esse transporte em grandes quantidades e poder minimamente melhorar as condições dessas pessoas trabalhando nos incêndios", afirma o presidente do Instituto Homem Pantaneiro.

As doações devem ser entregues na Rua Comendador Domingos Sahib, número 300, em Corumbá. A primeira remessa de doações, com 50 fardos de 1.5L doados por duas empresas já saiu nesta quinta-feira (1°) para os brigadistas. Mais 400 fardos devem ser entregues até o próximo sábado.

Voluntários arrecadam alimentos para os animais no Pantanal vítimas dos incêndios

Uma campanha arrecada alimentos para os animais vítimas das queimadas do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Somente em Campo Grande, um grupo de voluntários arrecadou até a tarde de quinta-feira (1), um dia após o lançamento oficial da iniciativa, quase uma tonelada de comida.

Frutas de todos os tipos, verduras, legumes, e ovos serão levados até Corumbá onde serão deixados em pontos do bioma, que foram mais atingidos pelos incêndios.

As queimadas já destruíram somente no Pantanal de Mato Grosso do Sul, 1,4 milhão de hectares e em todo o bioma cerca de 3,4 bilhões de hectares, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) Prevfogo em parceria com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA/UFRJ).

Conforme o Projeto SOS Animais do Pantanal, o bioma tem cerca de 2 mil espécies de plantas, 580 de aves, 280 de peixes, 174 de mamíferos, 131 de répteis e 57 de anfíbios.

Ainda de acordo com o projeto, todas as espécies estão sentindo os efeitos das queimadas. Os reflexos vão desde a morte, passando pela perda do ‘habitat’ até a exposição dos sobreviventes a predadores. Algumas espécies ainda correm o risco de extinção.

Um grupo de biólogos já está em Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense, fazendo um reconhecimento das melhores áreas para deixar essa alimentação para os animais.

Conforme o projeto, um caminhão com capacidade de 2 toneladas sairá do Mato Grosso, com alguns donativos arrecadados no estado vizinho e chegará nesta sexta-feira (2) Campo Grande. O veículo vai ser recarregado e no sábado segue para Corumbá.

O projeto conta com apoio da iniciativa "'É o bicho do MT", do estado do Mato Grosso, que já desenvolve um trabalho similar no estado vizinho.

Além desse projeto, voluntários têm abastecido cochos com água e diariamente deixado frutas e comida em alguns dos locais atingidos. Outros até fazem curativos em animais.

Para contribuir para arrecadação, os alimentos podem ser levados até o endereço da rua Brasil, 1257 – Bairro Monte Castelo, em Campo Grande. Outras informações podem ser obtidas pelos telefones: (67) 99243-5009 e 99131-7320.


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