29/03/2024 - Edição 540

Brasil

Trabalhadores começam a pagar a conta

Publicado em 01/10/2020 12:00 -

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A taxa de desemprego de maio a julho de 2020, 13,8%, foi a mais alta da série histórica desde 2012. Os dados são da PNAD Contínua e foram divulgados nesta quarta-feira 30 pelo (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) IBGE.

O índice aumentou 1,2 ponto percentual quando comparado ao trimestre de fevereiro a abril (12,6%) e 2,0 pontos percentuais frente ao trimestre maio a julho de 2019 (11,8%).

A população desocupada (13,1 milhões de pessoas) ficou estável frente ao trimestre móvel anterior (12,8 milhões) e subiu 4,5% (561 mil pessoas a mais) em relação ao mesmo período de 2019 (12,6 milhões).

O País também apresentou o menor contingente de população ocupada da série, 82 milhões. A taxa caiu 8,1% (menos 7,2 milhões pessoas) em relação ao trimestre anterior e 12,3% (menos 11,6 milhões) frente ao mesmo trimestre de 2019. O nível de ocupação (47,1%) também foi o mais baixo da série, caindo 4,5% frente ao trimestre anterior e de 7,6 %, contra o mesmo trimestre de 2019.

A taxa de subutilização da força de trabalho, que engloba os desocupados, e os subocupados por insuficiência de horas, também foi recorde na série, 30,1%.

A população na força de trabalho (95,2 milhões de pessoas) também foi a menor da série histórica. A taxa caiu 6,8% (menos 6,9 milhões) frente ao trimestre anterior e 10,4% (menos 11,0 milhões de pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2019.

A população fora da força de trabalho (79,0 milhões de pessoas) foi recorde da série, com altas de 11,3% (mais 8,0 milhões de pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 21,8% (mais 14,1 milhões de pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2019.

A população desalentada também bateu recorde, 5,8 milhões. O percentual de desalentados em relação à população na força de trabalho ou desalentada (5,7%) também foi recorde, crescendo 1% frente ao trimestre anterior e de 1,4% contra o mesmo trimestre de 2019.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos), estimado em 29,4 milhões, foi o menor da série, caindo 8,8% (menos 2,8 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 11,3% (menos 3,8 milhões de pessoas) ante o mesmo trimestre de 2019

Número de desempregados deve aumentar até 2021, avaliam economistas

O desemprego deve demorar ao menos até 2022 para voltar ao patamar de antes da pandemia da covid-19, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

Apesar de o País ter aberto 249 mil vagas formais em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), especialistas estimam que, entre formais e informais, a desocupação seguirá piorando até 2021.

Os números sugerem que o País chegou no terceiro trimestre a um cenário que já preocupava os economistas: com o afrouxamento das medidas de isolamento, o brasileiro vai, aos poucos, voltando às ruas para buscar emprego – mas as vagas de trabalho não estão mais lá.

“O desemprego só não foi maior, porque a força de trabalho continuou caindo em julho. Em agosto e setembro, as suspensões de contratos de trabalho feitas pelas empresas para evitar cortes vão se esgotando, o que traz mais risco para esses empregados”, avalia Cosmo Donato, da LCA Consultores.

A expectativa da consultoria é de que a desocupação encerre este ano em 15% e continue subindo, até chegar a um pico de 18,5% no primeiro trimestre do ano que vem, atingindo 15,5 milhões de pessoas. A estimativa é que o desemprego só volte ao nível dos 11% – em que estava antes da pandemia – em 2022.

“Isso, num cenário em que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresça em um ritmo de 3,5% em 2021 e 2022″, ressalta Bruno Ottoni, da IDados. “A desocupação ocorria em rimo lento, mas os dados de julho assustam. Uma recuperação antes de 2022 é pouco provável.”

Na avaliação dos economistas, mesmo que o cenário para o mercado de trabalho em 2021 ainda seja desafiador, algumas medidas podem ser tomadas para minorar esse baque.

“A proposta de renda mínima após o fim do auxílio emergencial pode ajudar a reduzir a queda menor do consumo das famílias mais pobres. A grande questão é como financiar isso, sem o País arruinar ainda mais as suas contas”, avalia Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Renda dos assalariados despencou 10%, em média

Enquanto bilionários aumentaram suas fortunas durante o período de pandemia, tanto na América Latina como no mundo, a renda do trabalho está caindo. Os dados são de relatório divulgado no último dia 25 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). E informam que redução de horas trabalhadas em todo o mundo levou a uma “drástica” diminuição do rendimento.

De acordo com a OIT, apenas nos três primeiros meses do ano, os rendimentos provenientes do trabalho diminuíram em torno de 10,7% em relação a igual período de 2019. Isso equivale a aproximadamente US$ 3,5 bilhões (perto de R$ 19,6 bilhões, no câmbio de hoje). “Essa cifra não inclui os efeitos das medidas adotadas pelos governos para sustentar o nível de renda”, pondera a entidade. A renda do trabalho caiu principalmente em países de renda menor. Segundo a OIT, a América foi a região mais atingida, com queda de 12,1%.

A perda de quase R$ 20 bilhões da renda dos trabalhadores vai no sentido oposto aos ganhos obtidos por bilionários em plena pandemia. Foi o que apontou relatório “Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid na América Latina e Caribe”. O estudo publicado pela Oxfam Brasil revelou que 73 bilionários da América Latina e do Caribe aumentaram suas fortunas em US$ 48,2 bilhões apenas entre março e junho deste ano. No Brasil, os 42 bilionários do país aumentaram suas fortunas em US$ 34 bilhões no mesmo período. “A Covid-19 não é igual para todos. Enquanto a maioria da população se arrisca a ser contaminada para não perder emprego, os bilionários não têm com o que se preocupar”, diz Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

“Ao mesmo tempo em que redobramos esforços para vencer o vírus, devemos adotar medidas para mitigar seus efeitos nos aspectos econômico, social e de trabalho”, diz o diretor geral da OIT, Guy Ryder. “Principalmente, fomentar o emprego e a atividade empresarial, e assegurar a renda.” 

Essa queda também é sentida no Brasil. A diminuição dos postos do trabalho fez a massa de rendimentos encolher em aproximadamente R$ 12 bilhões apenas no segundo trimestre, de acordo com o IBGE.


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