19/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Licença para matar

Publicado em 27/11/2014 12:00 - Rodrigo Amém

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Acho que foi em Goiânia. O adolescente, de 16 anos, matou outro garoto. Parece que nem foi a primeira vida que ele tirou. O crime foi gravado com câmera de celular e está na rede, nos Youtubes da vida. Adivinha o que vem nos comentários? O clamor pela pena capital, claro.

Quem é a favor da pena de morte, geralmente sustenta duas argumentações. Três, se você contar “Queria ver se fosse a sua irmã!”. Mas vamos reservar os rompantes passionais para os fóruns de discussão.

Os argumentos a favor da pena de morte costumam girar em torno de duas vertentes: A) Quem mata merece morrer. B) A pena de morte ajuda a diminuir o número de homicídios porque inibe que criminosos levem seus atos às últimas consequências assassinando suas vítimas.

Se a sua razão para defender a pena de morte é a primeira, trata-se de uma visão moral, portanto subjetiva e ponto final. Não vamos discutir isso agora, ainda que me pareça que esse raciocínio misture os conceitos de justiça e vingança.  

Salvo em raras exceções, a decisão de cometer homicídio não é racional. Quem mata não está considerando as consequências dos seus atos a médio e longo prazos. Caso contrário, não mataria.

Agora, se você acredita que a pena de morte reduz o número de crimes violentos, lamento informar que isso simplesmente não é verdade. Uma reportagem do jornal americano The New York Times mostra que, entre 1980 e 2000, a mortalidade em estados americanos com pena de morte e sem é praticamente a mesma. Faz sentido.

Salvo em raras exceções, a decisão de cometer homicídio não é racional. Quem mata não está considerando as consequências dos seus atos a médio e longo prazos. Caso contrário, não mataria. E mesmo para os assassinos meticulosos, frios, os chamados “matadores de carreira”, morrer é risco de profissão. Seja pelas mãos da polícia, da justiça ou de outros bandidos. Logo, o argumento de que o risco de perder a vida é um fator inibidor de homicidas simplesmente não se sustenta. Nem na lógica, nem nos números dos países que aplicam a pena.

É uma questão difícil e eu me compadeço daqueles que não aceitam a morte de um inocente. A sensação de impotência diante da barbárie é aterradora. Considerem então, meus amigos, o seguinte fator: o judiciário brasileiro e sua acapachante incompetência. Dá pra imaginar a quantidade de sangue inocente derramado, caso nosso falido Estado ganhe licença para matar? Quem é que conseguiria dormir tranquilo?

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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