29/03/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Queimadas no Pantanal: “vivemos uma situação inédita”, diz biólogo que atua na região

Publicado em 14/08/2020 12:00 -

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Um dos biomas mais ricos em biodiversidade e importantes do planeta, o Pantanal, passa pela maior seca e número de queimadas das últimas décadas. Somente nesse ano foram mais de 1 milhão e 200 mil hectares de área queimada. o que corresponde a 8 vezes o território do município de são paulo.

Para André Siqueira, biólogo da ONG Ecoa, que atua há mais de 31 anos no pantanal, a situação é inédita. “Não há nada parecido com o que estamos vivendo. Quem está no pantanal há muitos anos comenta que não existiu ainda momento como esse. Esse ano não tivemos chuva praticamente nenhuma. Não tivemos o pulso de inundação. Os milhares de hectares que são inundados todos os anos, que mantêm os solo úmidos e as áreas inacessíveis até pelo menos julho e junho, nós não tivemos isso.” afirma Siqueira.

Segundo Marcos Rosa, coordenador do Map Biomas, o motivo da seca histórica advém de um efeito sistêmico, que está associado ao desequilíbrio climático e hídrico, ocasionado pela devastação de outros biomas importantes, como o cerrado e principalmente a Amazônia.

“As cabeceiras dos rios que correm para o Pantanal nascem no Cerrado e na Amazônia. E elas foram muito devastadas, apenas 40% delas são conservadas, o resto todo já tem ocupação agrícola.  É muita soja cuja plantação vai até a borda do rio. Então, quando chove os sedimentos descem para dentro do Pantanal e vão assoreando os rios do pantanal, deixando os rios mais rasos.” afirma Rosa

Além do problema hídrico que advém de outros territórios, outro fator central é a ação de pecuaristas que atuam desmatando e trocando a vegetação local por outras mais resistentes ao gado. Segundo um levantamento do Instituto SOS pantanal, cerca de 15% da área do pantanal já foi convertida em pastagem.

“Tem o uso tradicional de pastagem, o uso muito sustentável, o pantaneiro mesmo, que não tem grande impacto. O grande problema hoje é exatamente esse pessoal de fora, que não é o ocupante tradicional do Pantanal, e que a primeira coisa que faz quando chega, é remover toda toda área de gramínea, savana e floresta para fazer um plantio de exótica. E de áreas muito grandes. Esse é o grande problema do Pantanal.” explica Rosa.

Desde o dia 15 de julho, o governo federal proibiu queimadas em todo o país por 120 dias, e na semana seguinte enviou militares e aeronaves para combater os incêndios no bioma. Porém, ambientalistas afirmam que o socorro foi muito tarde e não arrefecerá os efeitos do desmonte dos órgãos responsáveis pela fiscalização na região, como o IBAMA e a ICMBIO.

“Há uma falta de investimento dos órgãos fiscalização de monitoramento, prevenção e combate. A estrutura de fiscalização atual é completamente contrário ao crescimento exponencial do fogo. Não tem como negar desassociar que a narrativa federal repercute no repasse dos recursos.” afirma Siqueira.

No Nabileque

O Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul intensificou as ações de combate ao grande incêndio que ocorre há quatro dias na Fazenda Brasil Fronteira, no Pantanal do Nabileque, Sul de Corumbá. Mais seis homens – três bombeiros e três brigadistas do Ibama – estão se deslocando de helicóptero para a área, situada abaixo do Forte Coimbra.

“O fogo avança por uma grande extensão de campo empurrado pelos ventos fortes, desde a tríplice fronteira do Brasil com a Bolívia e Paraguai”, informou o tenente-coronel Frederick Caldeira, que está no comando das operações de combate e prevenção aos focos de calor em Corumbá.

O oficial bombeiro sobrevoou a fazenda em helicóptero da Marinha, na manhã de quinta-feira (13), e constatou que a área já queimada é expressiva e está sendo dimensionada. Dez homens, entre bombeiros e brigadistas do Ibama, estão combatendo ao fogo com o apoio dos peões e maquinários da fazenda.

As equipes saíram de Corumbá e chegaram ao local na noite de ontem, após longa viagem de 9h com viaturas pelas estradas boiadeiras. O reforço à operação será transportado no helicóptero Pantera, do Exército, que está baseado no município desde o início da Operação Pantanal II, em julho.


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