28/03/2024 - Edição 540

Poder

Apesar de tudo, Bolsonaro ainda é o favorito da corrida eleitoral em 2022

Publicado em 24/07/2020 12:00 -

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O governo Jair Bolsonaro passou nos últimos três meses por uma tempestade política perfeita. À crise inaugurada pela pandemia do novo coronavírus, menosprezada pelo presidente desde o início, somaram-se a conturbada demissão de seu ministro mais popular, Sergio Moro, duas trocas no Ministério da Saúde, a abertura de um inquérito para apurar interferência política na Polícia Federal, a divulgação em vídeo de uma escabrosa reunião de seu gabinete, o cerco a bolsonaristas radicais em duas investigações do Supremo, a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), em uma casa do advogado de Bolsonaro, o diagnóstico de Covid-19 do chefe do Executivo e o saldo nefasto de mais de 80 000 mortos pela doença. Mesmo em meio a dificuldades sérias, que poderiam estraçalhar a popularidade de inúmeros políticos, Bolsonaro segue firme, mostrando mais uma vez que é um fenômeno político. Se a disputa presidencial fosse hoje, ele seria reeleito.

Essa é uma das principais conclusões de um levantamento exclusivo realizado pelo instituto Paraná Pesquisas entre os dias 18 e 21 de julho. Mesmo sendo um mandatário controverso à frente de um país dividido em relação ao seu governo, Bolsonaro lidera todos os cenários de primeiro turno — com porcentuais que vão de 27,5% a 30,7% — e derrotaria os seis potenciais adversários em um segundo round da corrida ao Planalto em 2022: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-­prefeito Fernando Haddad (PT), o ex-­governador Ciro Gomes (PDT), o ex-­ministro Sergio Moro, o governador paulista João Doria (PSDB) e o apresentador Luciano Huck. Um feito impressionante, considerando-se que, segundo a mesma pesquisa, 48,1% dos brasileiros desaprovam a sua gestão (eram 51,7% no fim de abril) e 38% consideram ruim ou péssimo o seu trabalho (eram 39,4%). Comparada a um levantamento anterior da Paraná Pesquisas, de três meses atrás, a aprovação oscilou positivamente de 44% para 47,1%, enquanto o contingente que considera seu mandato ótimo ou bom foi de 31,8% para 34,3%, variação acima da margem de erro de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

A eleição de 2022 ainda está distante, mas chama atenção a capacidade de resistência do presidente. Os constantes solavancos políticos e as lambanças em série na condução da pandemia não colaram nele a ponto de erodirem a sua mais fiel base de apoio, de cerca de 30% dos eleitores — número que é considerado até por adversários como freio a um processo de impeachment (há dezenas deles nas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia). Na visão de especialistas, Bolsonaro conseguiu escapar à lógica de que sucumbiria às crises por dois motivos: o auxílio emergencial, que amenizou efeitos econômicos da pandemia em uma população indiferente às confusões de Brasília, e a atitude mais comedida do presidente nos últimos tempos, especialmente após a escalada de tensão com o Supremo. Seu filho e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse ao jornal O Globo, na quarta-feira 22, que a “postura de distensionamento” será permanente. “Desde que percebeu que o conflito com o STF era perigoso, o presidente recuou, ficou quieto, parou de dar declarações bombásticas. Para uma parte dos eleitores que o apoiam, mas eram críticos ao desempenho, a postura de Bolsonaro paz e amor ajuda a melhorar a avaliação”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. “Bolsonaro volta a subir principalmente com o auxílio de 600 reais, que passou a chegar a mais gente. Com o fator bolso, a crise política fica menor. Lula, na época do mensalão, era um herói, porque o bolso estava cheio”, avalia Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas. Com os bolsonaristas já cativos, o governo busca justamente o “fator bolso” e a expansão de programas sociais para diversificar a sua base eleitoral. A pesquisa mostra que melhoraram os índices de avaliação no Nordeste, uma cidadela petista e lulista. Os nordestinos ainda são os brasileiros menos afeitos ao presidente, porém os que desaprovam o governo caíram de 66,1% para 56,8% entre abril e julho e os que aprovam subiram de 30,3% para 39,4%.

Pela perspectiva atual, fica difícil imaginar uma força que possa rivalizar com o presidente. A desaprovação ao seu governo, no entanto, faz supor que exista espaço para um projeto alternativo, menos radical e mais equilibrado. Entre os possíveis nomes de centro-­direita, quem aparece melhor hoje é alguém que estava colado ao presidente até recentemente, o ex-ministro Sergio Moro. Nas disputas de segundo turno, depois do inelegível Lula, Moro é quem mais se aproxima de Bolsonaro (44,7% contra 35%). Nas de primeiro turno, ele termina em segundo lugar, quando o candidato do PT é Fernando Haddad e em terceiro, mas não longe, quando é incluído o nome de Lula (veja os quadros). Visto como um ícone na batalha anticorrupção, Moro apresenta potencial de crescimento numa faixa hoje ocupada por Bolsonaro, mas que pode ser conquistada se as revelações do caso Fabrício Queiroz tisnarem de vez a imagem do presidente em relação ao cuidado com o dinheiro público. Essa ameaça de Moro já entrou no radar do bolsonarismo nas redes sociais e em manifestações de rua, que o elegeram como novo integrante do hall de “traidores da pátria”. O ponto negativo de Moro como alternativa a Bolsonaro é que, em razão de sua atuação como juiz, marcadamente contra Lula e o PT, ele dificilmente vai aglutinar apoios da esquerda. Outro dado dificultador é que ninguém sabe ao certo quais são as posições econômicas defendidas pelo ex-ministro.

Depois de derrubar a economia do país e assaltar o estado brasileiro, o velho oponente ideológico ainda tem um eleitorado cativo (Paulo Maluf também tinha, mesmo depois de comprovadas todas as denúncias de corrupção contra o ex-prefeito de São Paulo). Embora tenha sido condenado e preso na Lava-Ja­to e esteja inelegível pela Lei da Ficha Limpa, Lula tem ainda um forte recall entre os eleitores desse espectro. O petista chega a ter ampla vantagem sobre o presidente entre nordestinos (34,1% a 18,7%) e eleitores que estudaram até o ensino fundamental (31,5% a 21%). Na verdade, a fidelidade das pessoas ao petista se assemelha, de certa forma, à dos bolsonaristas mais ferrenhos. Há um quê de identificação e simpatia pessoal, elementos mais emocionais do que racionais. “Lula é uma liderança com raiz social muito importante, criou o Bolsa Família, fortaleceu universidades. Foi contestado pela corrupção, mas não eliminou esse apoio”, diz José Álvaro Moisés, da USP.

Embora o piso eleitoral da esquerda seja respeitável, seu teto é baixo. Ninguém desse campo político demonstra capacidade de bater o presidente num eventual segundo turno. Tanto Lula quanto Haddad, oponente de 2018, são derrotados por Bolsonaro nas simulações de embates diretos — o capitão, aliás, ganha de seus rivais, não só os petistas, em todos os recortes de gênero, idade e escolaridade, à exceção da preferência por Lula entre os que estudaram até o ensino fundamental. “No segundo turno, onde estão os 48% que desaprovam Bolsonaro? Não tem ainda um candidato para catalisar essa desaprovação”, analisa o cientista político Antonio Lavareda.

Aos que gostariam de ver um candidato de Centro no Planalto em 2022, o levantamento do Paraná Pesquisas não traz boas novidades. Os dois principais nomes desse grupo, João Doria e Luciano Huck, tiveram desempenho pífio na pesquisa. Mesmo sem o nome de Moro no cenário, Doria alcança apenas 4,6% das intenções de voto. Nessa mesma simulação, Huck, que já beirou os 12%, cravou apenas 8,3%. No caso do apresentador da Globo, é até compreensível esse encolhimento.

Embora faça lives em suas redes, algumas delas mostrando os camarins de sua atração na emissora, Huck não exerceu nenhum papel fundamental no combate à pandemia — nem poderia. Era natural que caísse (há pessoas de seu entorno que garantem que ele nem está assim tão empolgado para concorrer em 2022). Doria, por outro lado, merecia um reconhecimento maior do eleitorado. Sua atuação no combate ao coronavírus pode não ser perfeita, mas foi a melhor possível entre os governadores. Os números talvez mostrem que a estratégia do presidente de jogar a crise sanitária no colo de governadores e prefeitos aparentemente deu certo até agora, com a irresponsabilidade não se traduzindo em impopularidade.

O ex-governador de Minas, Magalhães Pinto, cunhou uma frase que define à perfeição esse momento da disputa de 2022: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Tudo pode, é claro, mudar até lá — e mesmo antes disso. Existem no horizonte de Bolsonaro ao menos duas questões que podem comprometer o seu projeto de reeleição: o desfecho imprevisível do caso Queiroz e a perspectiva de tormenta econômica no rescaldo da pandemia (está previsto um tombo de quase 6% do PIB), agravada pelo auxílio emergencial, que, em tese, vai até setembro. Mas é inegável que o capitão segue firme no páreo até agora, com uma inabalável resistência e, a rigor, nenhum adversário à altura.

O caminho da oposição para 2022 passa pela conquista de isentos e arrependidos

Completamos neste ano duas décadas de governos populistas desde a recuperação do direito ao voto para presidente. O cotejo de perdas e ganhos entre esses vinte anos e os oito de mandato de Fernando Henrique Cardoso poderia medir a vantagem de o Brasil retomar o ponto tido como fora da curva. Não tratemos de partidos, mas de desempenho.

Naquele período liquidou-se a inflação, instituíram-se ferramentas avançadas na educação, abriu-se ao cidadão o acesso à comunicação na antessala da internet, deram-se passos importantes na saúde com a introdução dos medicamentos genéricos, o combate à aids, ao tabagismo e, sobretudo, não se viveu sob a égide do conflito permanente.

Ninguém dava nada pela eleição de FH. Intelectual de maneiras brandas, fugia ao estilo do político tradicional e justamente pela falta de traquejo nas lides do popularesco a candidatura foi recebida com descrença, mesmo sendo ele o artífice do Plano Real, iniciado em fevereiro do ano eleitoral de 1994. Menos de oito meses depois seria eleito em primeiro turno.

Na ausência dos recursos da performance tresloucada e/ou do ativismo radical, o ativo da época foi a ligação direta entre a oferta da candidatura e a demanda da população. Os resultados do plano na derrubada da inflação atraíram e convenceram o eleitorado a deixar de lado promessas ilusionistas de mudar “tudo isso que está aí” e se concentrar na resolução da, na época, chaga principal. Com o que, candidato e eleitor passaram a falar na mesma língua, a atuar em sintonia.

Soa utópico falar na possibilidade de retornar a esse tipo de ambiente a fim de se construírem uma ou mais alternativas para a disputa presidencial de 2022. Porém não custa pensar a respeito. Afundaram-se em seus equívocos e malfeitorias PT e PSDB e, com isso, foi-se a dicotomia vigente por longo tempo.

Já é tempo de o Brasil perceber também que não é refém de tipos como Jair Bolsonaro para se defender da “ameaça da volta do PT”. Os malefícios produzidos por um e por outro foram suficientes para que as forças políticas busquem maneiras mais razoáveis de atrair o eleitorado.

A unidade dos opositores é celebrada como o grande pré-requisito. É uma condição, mas não a solução de todo o problema, que depende primordialmente da definição dos pontos em torno dos quais se deve dar essa união. Perdem-se tempo e energia, por exemplo, apenas pisando e repisando sobre o que o governo faz de ruim.

Carecas estamos de saber que Bolsonaro não entrega o que prometeu na economia nem no combate à corrupção; que desarticulou a área da cultura, paralisou a educação, retrocedeu no meio ambiente, comporta-se da pior maneira na crise sanitária e deu o dito pelo não dito na reformulação da política. Isso não apenas devido à aliança com o Centrão, mas também no abandono da reforma dos meios e modos políticos com a anuência, diga-se, de suas excelências que não dão a menor bola para as 52 propostas existentes na Câmara e sessenta projetos no Senado relativos ao tema.

Concentrar a oposição só na repetição do já conhecido, além de não criar caminhos opcionais, ajuda a normalizar atitudes que eram vistas como anormais. As pessoas se acostumam e passam a não se escandalizar, levando o contingente de decepcionados e arrependidos a se acomodar no terreno da “falta de alternativa”.

A denúncia é importante, mas sozinha não funciona para fins de conquista. Fala-se muito hoje em empatia, mas não se veem os opositores de Jair Bolsonaro praticando o que pregam. No lugar de atrair, afastam os que votaram no presidente, mas não o fariam de novo, afugentam os que ainda pensam no caso e aqueles que não se animaram a ir às urnas ou optaram por anular ou deixar o voto em branco.

Essa turma é chamada de tudo, menos de bonitinha. Não raro costuma-se dirigir a ela um “bem feito” pelo fato de seu escolhido não ter sido Fernando Haddad. Sugestão: que tal substituir o ressentimento e o menosprezo pelo diálogo com esse pessoal? E olha que não é pouca gente: cerca de 30% do eleitorado, 42 milhões de votos em números redondos.

Muita coisa para os pretendentes a candidatos em 2022 deixarem ao sabor do que der e vier. Dá trabalho ir atrás e encontrar um jeito de cativar esse povo todo? Requer enorme esforço. É preciso achar a conversa certa, entender a necessidade de ouvir e, se for o caso, ceder para perceber que as demandas e crenças da maioria nem sempre combinam com os desejos e convicções de quem se dispõe a governar para todos.

Derrota no Fundeb faz governo rever articulação política

O governo vai reorganizar a articulação no Congresso após a derrota na votação da proposta de emenda à Constituição que transformou o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) em programa permanente. Em reunião ministerial, o revés sofrido na Câmara foi debitado na conta do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A estratégia do Palácio do Planalto para o novo freio de arrumação prevê agora que nada seja negociado no Congresso sem aval do ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro fará mais trocas em sua equipe de articuladores no Legislativo. Depois da destituição da deputada Bia Kicis (PSL-DF), ele planeja trocar o líder do governo na Câmara. A função é hoje ocupada por Major Vitor Hugo (PSL-GO), mas a ideia é que o deputado Ricardo Barros (PP-PR) – integrante do Centrão e ex-ministro da Saúde no governo Michel Temer – assuma a vaga. A mudança só não ocorreu ainda porque Bolsonaro procura um posto de destaque para encaixar Vitor Hugo, considerado um aliado fiel. Vitor Hugo e Ramos, porém, não se entendem. Além disso, o deputado é criticado por seus próprios pares.

A destituição de Bia Kicis da vice-liderança do governo no Congresso foi mais um movimento do presidente para se afastar da ala radical do bolsonarismo nesta fase em que precisa ampliar sua base de sustentação. A deputada é uma das mais ferrenhas apoiadoras de Bolsonaro e foi surpreendida com a dispensa.

“O simbolismo dessa troca é exatamente esse, porque, em um momento em que a gente começa a retomar o ritmo da questão legislativa, o presidente deixa claro que, sempre que precisar e achar correto, trocará o líder ou o vice-líder”, disse o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO). “O cargo de líder, e incluo o meu nisso, é de prerrogativa do presidente da República.”

Na prática, a gota d’água para a saída de Bia Kicis ocorreu após ela ter passado recibo da derrota do Planalto na votação do Fundeb. O governo articulou uma manobra para “vender” a imagem de que havia saído vitorioso em plenário. Chegou mesmo a mudar de posição na última hora, quando percebeu que perderia. Mesmo assim, a então vice-líder do governo fez questão de manter o voto contra a proposta que prorrogou o Fundeb, escancarando o racha.

Guedes, por sua vez, tentou destinar recursos do novo Fundeb ao Renda Brasil, programa que ainda está sendo desenhado pela equipe econômica para substituir o Bolsa Família. A negociação não deu certo e acabou “atropelando” a Secretaria de Governo. Nenhum dos ministros quis se manifestar.

Bia Kicis disse, depois, que votou de acordo com sua consciência, como sempre fez o próprio Bolsonaro quando era deputado. Na avaliação de aliados bolsonaristas, o presidente tenta se distanciar de políticos que vivem em atrito com o Supremo Tribunal Federal (STF). Alvo de inquérito das fake news na Corte, Bia Kicis ficou magoada com Bolsonaro, que ainda busca um nome para substituí-la.

Centrão

Desde que intensificou a aproximação com parlamentares do Centrão para formar uma base no Congresso capaz de levar adiante sua pasta, especialmente econômica, o presidente tem ouvido que precisa baixar o tom. Os novos aliados advertem que a mudança também pode ajudar a descolá-lo das ações que investigam a promoção de fake news. Para isso, seria bom ele se afastar de figuras envolvidas nas investigações que ocorrem tanto no STF (Supremo Tribunal Federal) quanto na CPMI das Fake News.

Bolsonaro já vinha ouvindo os conselhos. No início deste mês, em gesto de pacificação com o STF, ele substituiu 2 de seus mais aguerridos aliados da vice-liderança do governo na Câmara. Otoni de Paula (PSC-RJ) e Daniel Silveira (PSL-RJ), listados nas ações das fake news, perderam seus cargos. Ambos têm histórico de ataques aos ministros da Corte. No lugar deles, entraram Carla Zambelli (PSL-SP) e Maurício Dziedricki (PTB-RS). A indicação do petebista já era uma inclinação clara aos novos aliados e atendia ao pleito do presidente do PTB, Roberto Jefferson.

A movimentação evidencia o quanto os bolsonaristas mais ligados ao guru ideológico do governo, Olavo de Carvalho, estão ficando de lado no governo Bolsonaro. Esse rearranjo ocorre no momento em que o grupo perdeu o comando do Ministério da Educação, e os militares e parlamentares do Centrão passaram a ter mais voz dentro da articulação do governo.

A maior participação desses 2 setores têm sido bem avaliada por Bolsonaro. O presidente, segundo os novos aliados, tem considerado positivos os resultados da nova estratégia. Além de afastá-lo do imbróglio do inquérito das fake news, Bolsonaro estaria satisfeito com a boa avaliação do auxílio emergencial. Tanto que buscou instituir um novo programa de transferência de renda.

Há ainda quem lembre que o comportamento do presidente se repetiu tanto na aprovação do auxílio emergencial quanto do Fundeb. Inicialmente, o governo estipulou o valor de R$ 200 para o auxílio, disse que não tinha de onde tirar dinheiro para a medida, mas quando viu que o Congresso se articulava para aumentar o valor para R$ 500, ele atropelou e apresentou uma contraproposta, de R$ 600. Pode, então, capitalizar a vitória da medida.

Foi assim também com o Fundeb. A equipe do presidente passou o fim de semana em uma ampla articulação contra a proposta, tentou empurrar o reajuste do fundo para 2022, mas alertado pelos novos aliados do Centrão, de que não venceria essa batalha, o presidente se apressou e sugeriu então aumento de 20% para 23% na participação da União. Faltou apenas combinar com a ala mais radical, que estimulada por sua equipe, havia passado o fim de semana inteiro trabalhando publicamente contra a constitucionalização do Fundeb.

No dia da votação, apenas 7 parlamentares foram contrários, todos aliados do presidente — que inicialmente também era contra o texto. Essa postura irritou o presidente porque deu a impressão de que ele foi derrotado. Na quarta-feira (22), ele minimizou o voto contra desses bolsonaristas. “Seis ou sete votaram contra. Se votaram contra, eles devem ter os seus motivos. Só perguntar para eles por que votaram contra. Agora, alguns dizem que a minha bancada votou contra. A minha bancada não tem seis ou sete, não. A minha bancada é bem maior do que essa aí”, disse.

A versão dos bolsonaristas

Apesar da alfinetada do presidente, parlamentares que votaram contra a proposta dizem que seguirão fiéis. No Twitter, a deputada Bia Kicis confirmou a manutenção da aliança. “Fora da vice-liderança, mas sempre apoiando o presidente Bolsonaro”, disse. 

Ela também compartilhou uma declaração de apoio ao presidente que havia concedido à GloboNews. “Votei de acordo com a minha consciência. Aliás, eu segui o exemplo do presidente Jair Bolsonaro que, quando foi parlamentar, só votou de acordo com a consciência dele. Para mim, ele é um modelo e continua sendo um modelo”, disse.

A militância bolsonarista, que passou dias se manifestando publicamente contrária ao Fundeb, tem afirmado que a destituição de Bia Kicis não é obra do presidente, mas do governo dele — especialmente da ala militar. O grupo tenta não atrelar o presidente ao seu governo.


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