29/03/2024 - Edição 540

True Colors

UFMS e homotransfobia

Publicado em 24/10/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Qual o papel de uma universidade pública na sociedade brasileira? Como aquele espaço deve se relacionar com a sociedade e como as contribuições do ensino, da pesquisa e da extensão devem alcançar a esfera pública? Para a nossa realidade, essas perguntas ficam no ar após os frequentes casos de opressão que os pátios da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) têm presenciado.

Se o conhecimento libertador das leituras e as ações práticas dos universitários devem ser convertidas em benefício para as comunidades, isto pouco ocorre na UFMS, sobretudo em relação às questões LGBT. O mais novo “episódio” de ódio gratuito resultou em vandalismo e ameaças contra a comunidade LGBT e seus defensores. Livros doados por um professor foram sumariamente queimados como resposta ao apoio do Diretório Central de Estudantes (DCE) da instituição à luta contra a homotransfobia.

As ações do DCE, que consistiram na divulgação de cartazes com frases de resistência contra a homotransfobia além da realização de debates, surgiram em decorrência de um episódio ocorrido no Restaurante Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, no qual uma estudante trans foi agredida e precisou ser escoltada por seguranças da entidade.

Nesta edição da Semana On, o portal traz uma reportagem que problematiza a questão. Confira AQUI.

Mas a questão que me incomoda em todo este imbróglio é como a entidade silencia diante da opressão. Seja nas grades curriculares, nas discussões em sala de aula, ou nas ações educativas de iniciativa dos estudantes, a universidade parece se manter inerte. A promoção da diversidade sexual, salvo as exceções, é nula.

São visivelmente fracas as medidas protetivas à segurança dos estudantes e poucos os cursos que levantam a bandeira da diversidade.

São visivelmente fracas as medidas protetivas à segurança dos estudantes e poucos os cursos que levantam a bandeira da diversidade (aplausos para os cursos de psicologia e ciências sociais, que ao longo do ano encabeçaram diversos ciclos de debates sobre gênero e sexualidade). É verdade que a administração da universidade regulamentou recentemente o uso de nome social para estudantes e servidores transexuais, mas e aí? De que adianta poder utilizar o nome social se a segurança não é garantida e se não há um debate para fomentar conhecimento por parte de professores e servidores?

Nas reuniões de sindicatos de professores, o assunto nem sequer entra na pauta. Na formação de pesquisadores e futuros professores a questão é meramente tangencial. Onde está o comprometimento de mestres e doutores com o tripé socioeducativo que sustenta as universidades? Por que a universidade acha que diversidade não é um problema dela?

Vejo poucos professores e alunos relatarem que a preparação de profissionais e futuros professores segue em sinergia com a diversidade, por exemplo. Um salve para os que fazem – pessoas com quem me relaciono e que são da minha absoluta estima, mas… E o resto? No curso de comunicação social, só para citar algo a que estou mais próximo, as discussões neste campo seguem incipientes – vejam só, num curso que forma comunicadores e comunicólogos, futuros formadores de opinião. Alunos nem sequer sabem utilizar o artigo corretamente para citar travestis e transexuais em suas reportagens… Algo está errado, muito errado.

A comunidade acadêmica que se importa com esta questão segue pressionando a reitoria por medidas efetivas, tanto em relação à segurança física como à promoção de debates. O que há, como disse, surge do incômodo de poucos professores e da militância estudantil (um salve para vocês). Que sigam fortes nesta postura, pois o que aconteceu na última semana certamente não foi e nem será um episódio isolado, enquanto durar o silêncio da administração.

Parada LGBT de Campo Grande

Acontece neste sábado (25), a XIII Parada da Cidadania LGBT de Campo Grande, a partir das 15h, com concentração na praça Ari Coelho. Como sempre, todas as pessoas (e famílias!) estão convidadas para participar, independente de idade, origem, gênero, raça, classe social e orientação sexual, pois o evento é também a Parada da Diversidade, ou seja, luta por igualdades, mas respeitando as diferenças.

A XIII Parada da Cidadania LGBT de Campo Grande tem como bandeiras o combate contra a homolesbotransfobia e a garantia dos direitos fundamentais das pessoas LGBT. É uma realização da Associação de Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS) em parceria com o Fórum LGBT de Mato Grosso do Sul e de outros movimentos sociais e entidades.

Confiram o evento oficial no Facebook AQUI.

Cartilha LGBT

Na próxima quinta-feira (30), a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul (OAB/MS), lançará a Cartilha de Comunicação e Linguagem LGBT. De acordo com a entidade, o material é direcionado à classe jornalística e de advogados como fim de promover as terminações corretas dos termos LGBT e apresentar os principais temas da agenda social da comunidade, além de orientar a correta abordagem em procedimentos e inquéritos.

Os aplausos em relação à iniciativa são mais que merecidos: o manual é resultado de um trabalho em conjunto entre a Comissão da Diversidade Sexual, o Sindicato dos Jornalistas no Estado (Sindjor-MS) e da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Além de distribuição física do manual, ele também seguirá disponível no site da entidade para consultas.

Sex in Drag

Em 1992, Madonna surpreendeu o mundo (caretíssimo, tal qual ainda é) com o Sex Book, no qual a cantora dava voz e corpo a seu alterego Dita. O Sex Book trazia fotos maravilhosas das fantasias sexuais da rainha do pop e, somado ao escandaloso álbum Erotica, foram o suficiente para projetar mais ainda a cantora ao patamar que ocupa atualmente.

Peça de museu por sua raridade e alto preço, o Sex Book só pode ser encontrado no acervo de colecionadores “desapegados”, que cobram até 10 mil reais pela venda de um exemplar (sorry, eu tenho um herdado da minha irmã em 1998, depois de muita auto-humilhação fraterna). Para quem não conhece as fotos, assinadas por Steven Meisel, elas podem ser apreciadas clicando AQUI.

Vinte e dois anos depois, o Sex Book volta, ãhn, digamos, repaginado. Não por Madonna, mas por seus seguidores. Greg Scarnici (a drag queen Levonia Jenkins) é quem está à frente do projeto, uma paráfrase criativa batizada de “Sex in Drag”, totalmente produzido em um reduto gay de Nova Iorque (em Fire Island). Ao todo, são 70 imagens parodiadas, que você confere no vídeo acima. #MustSee!

Leia outros artigos da coluna: True Colors

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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