24/04/2024 - Edição 540

Brasil

69% dos brasileiros dizem que não conseguirão pagar todas as contas em maio

Publicado em 28/05/2020 12:00 -

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Levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas mostra um dado preocupante: mais da metade dos brasileiros não deve conseguir pagar todas as suas contas no mês de maio. 69,1% dos 2.242 entrevistados afirmaram que deixarão ao menos um de seus débitos em aberto. Só 28,8% afirmaram que conseguirão pagar suas pendências.

Levantamento do instituto Paraná Pesquisas sobre capacidade de pagar contas em maio

Dos que ficarão com contas pendentes, 31,3% disseram que não irão pagar a maior parte delas. 27,1% afirmaram que conseguirão pagar quase tudo. E 10,8% não irão pagar nenhuma delas. A pesquisa foi feita em 26 Estados e no Distrito Federal entre os dias 22 e 25 de maio. O levantamento atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de aproximadamente 2,0% para os resultados gerais.

Desemprego

Sob os efeitos das medidas para conter a propagação do coronavírus, adotadas no País a partir da segunda quinzena de março, a taxa de desemprego passou de 11,2% para 12,6% no trimestre encerrado em abril, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último dia 28. 

No mês passado, o País tinha 12,8 milhões de desempregados – com 898 mil pessoas a mais à procura de trabalho. A população ocupada teve queda recorde de 5,2%, em relação ao trimestre encerrado em janeiro, com perda de 4,9 milhões de postos de trabalho, que foram reduzidos a 89,2 milhões.

Segundo a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, os efeitos da crise provocada pela pandemia foram sentidos tanto entre os informais quanto entre trabalhadores com carteira assinada. “Dos 4,9 milhões de pessoas a menos na ocupação, 3,7 milhões foram de trabalhadores informais. O emprego com carteira assinada no setor privado teve uma queda recorde também. A gente chega em abril com o menor contingente de pessoas com carteira assinada, que é de 32,2 milhões.”

Entre os informais, estão profissionais sem carteira assinada (empregados do setor privado e trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores e por conta própria) ou sem remuneração (auxiliam em trabalhos para a família).

Para analistas, porém, mesmo com o aumento na taxa, os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho devem ter sido ainda mais intensos do que revela o número: com as medidas de isolamento, um contingente significativo de pessoas deve ter deixado de procurar emprego, aliviando pressão sobre a taxa.

“As demissões em si devem ter sido em número muito elevado, mas o dado é limitado artificialmente pela saída de pessoas da força de trabalho e por medidas como o coronavoucher (o auxílio emergencial)”, avalia o economista Lucas Godoi, da GO Associados. 

Ele lembra que o resultado deste trimestre ainda está parcialmente aliviado pelos números de fevereiro, um mês pré-pandemia que ainda entra na conta. “A partir de maio veremos taxas históricas, com elevações muito grandes”, resume o analista. A GO Associados estima taxa média de 13,9% em 2020.

O economista-chefe do Haitong, Flávio Serrano, afirma que a queda do nível de emprego em decorrência da crise no País deve ser suficiente para provocar essa forte elevação da taxa, apesar dos efeitos estatísticos da saída de pessoas da força de trabalho.

“A situação é tão atípica que dificulta a projeção de vários indicadores. O IBGE está fazendo pesquisa por telefone, os processos normais de pesquisa também são afetados, e isso pode aumentar a variabilidade dos dados. Nos próximos meses, a amplitude das projeções deve aumentar, por conta do nível elevado de incerteza que estamos vivendo”, afirma Serrano.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, diz que a expectativa é de continuidade de deterioração no mercado de trabalho, com alta do desemprego, no trimestre encerrado em maio e talvez até junho. “Só a partir de setembro e outubro devemos começar a ver uma melhora bem marginal.”

Pessimismo

A percepção de que a crise causada pelo coronavírus terá efeitos negativos duradouros sobre a economia do país disparou no último mês. Pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 25 e 26 de maio revela que dois em cada três brasileiros —68% dos 2.069 entrevistados pelo telefone— acreditam que a pandemia afetará a atividade produtiva por muito tempo. A parcela representa um aumento substancial em relação aos 56% que tinham essa visão em abril.

No primeiro levantamento em que essa pergunta foi feita, em março, metade dos entrevistados achava que o efeito econômico da pandemia seria de longo prazo. Naquele momento, 44% ainda apostavam que a atividade seria afetada por pouco tempo. Agora, apenas 27% disseram acreditar nesse cenário menos pessimista.

A piora de percepção pode ser motivada pelo fato de que muitos já têm sido, diretamente, afetados pela crise.

A pesquisa mostra que, entre os brasileiros que possuem trabalho, 59% relatam terem amargado redução de jornada e renda em consequência da pandemia. Por trás do número expressivo, há diferenças segundo o tipo de inserção do entrevistado no mercado laboral.

A parcela dos que foram atingidos por cortes de jornada e rendimentos é de 48% entre os que atuam no setor formal e 72% entre os empregados no segmento informal.

Há também distinções de acordo com o tipo de ocupação.

Entre os empregados com carteira assinada, 43% disseram estar trabalhando e ganhando menos. Essa fatia cresce para 51% entre os empregados sem registro e dispara para 78% entre autônomos, profissionais liberais e empresários.

Até entre os servidores públicos, normalmente menos afetados por crises econômicas, 31% reportaram ter sofrido redução de jornada e renda por causa da pandemia.

Segundo especialistas, mesmo as categorias do funcionalismo que têm estabilidade podem ter seus contratos alterados, temporariamente, em situações excepcionais. “Essas mudanças precisam ser, devidamente, acordadas entre as partes e comunicadas por escrito, mas são possíveis em cenários de excepcionalidade”, afirma Istvan Kasznar, professor da FGV Ebape.

Segundo Kasznar, que é especializado em administração pública, isso vale tanto para os servidores estatuários quanto para os celetistas. “Como já se declarou que vivemos uma espécie de economia de guerra, em tese, é possível que estejam ocorrendo flexibilizações em áreas não essenciais do funcionalismo, em que a demanda por trabalho, eventualmente, tenha caído”, diz o especialista.

Apesar do maior pessimismo em relação ao país e de muitos trabalhadores terem sofrido queda de jornada e renda, a expectativa dos entrevistados em relação à sua própria situação financeira não se alterou de forma significativa.

Segundo o Datafolha, 35% dos brasileiros acreditam que suas finanças serão afetadas pela crise do coronavírus por muito tempo. No levantamento anterior, de abril, 37% expressaram essa visão.

Já a fatia dos que esperam não serem afetados, financeiramente, pela pandemia aumentou de 19% para 23%.


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